Metas ambiciosas e influência: a estratégia ESG da Unilever
Diretora de assuntos corporativos, sustentabilidade e comunicação, Juliana Marra explica o propósito da companhia na COP30

Juliana é diretora de assuntos corporativos, sustentabilidade e comunicação da Unilever (Crédito: Divulgação)
Dentro da agenda global de sustentabilidade da Unilever está a meta global de regenerar 1 milhão de hectares até o ano de 2030. O Brasil, dada a potência do agronegócio e relevância do mercado local, tem papel estratégico nesse propósito.
Para auxiliar no cumprimento da meta, a companhia, que é dona de marcas como Dove, Comfort, Omo, Hellmann’s, Seda e Kibon, vem investindo na iniciativa Renova Terra, que consiste em um plano de regeneração de áreas do cerrado brasileiro. Criado em maio, o programa tem parceria com CJ Selecta, deve direcionar R$ 32 milhões para a transformação de 45 mil hectares de cultivo de soja.
Esse projeto será apresentado pela Unilever na COP30, em um painel do Ministério do Meio Ambiente. A Conferência das Partes, aliás, faz parte da rotina corporativa da centenária empresa, que participa da convenção sobre clima e sustentabilidade há anos.
Além de apresentar e reafirmar os compromissos socioambientais da companhia, a Unilever vê na COP a oportunidade de usar sua influência, como uma das maiores empresas de bens de consumo no mundo, para incentivar o alinhamento entre governos e setor privado.
“A Unilever defende metas mais ambiciosas e regras claras que destravem investimentos e estimulem inovações capazes de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono”, conta a Juliana Marra, diretora de Assuntos Corporativos, Sustentabilidade e Comunicação da Unilever.
Nesta entrevista, Juliana pontua como a participação na COP30 e a consolidação de uma agenda ESG impactam a marca da companha e pontua os passos para que as políticas sustentáveis encontrem sinergia com as propostas de negócios e lucro. Veja:
Meio & Mensagem: Como a participação na COP30 impacta e fortalece a Unilever como marca?
Juliana Marra: A Unilever participa das COPs há muitos anos, e esta edição é especialmente significativa por acontecer no Brasil, um dos maiores mercados da companhia e onde estamos presentes há 96 anos. Estar na Conferência é uma oportunidade de reafirmar publicamente nossos compromissos ambientais e apresentar ações concretas e avanços consistentes em três frentes prioritárias: redução de emissões em nossas operações e cadeia de valor, combate à poluição plástica e preservação da natureza. A COP30 também reforça nossa liderança setorial. Usamos nossa influência, como uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, para incentivar o alinhamento entre governos e setor privado, estimulando cooperação e investimentos que acelerem a transição para uma economia de baixo carbono. Também fomos selecionados pelo Ministério do Meio Ambiente para conduzir um painel sobre agricultura regenerativa como caminho para mitigação das emissões no campo. Nele, será apresentado o Renova Terra, um dos maiores projetos globais da companhia nessa área, que está sendo implementado no Cerrado brasileiro para transformar o cultivo de praticamente toda a soja utilizada por Hellmann’s, tornando mais sustentável, resiliente e justo com os produtores. Ao exercer essa liderança de forma responsável e transparente, fortalecemos nosso principal ativo: a reputação, essencial para a longevidade das marcas e a continuidade dos negócios.
M&M: De que forma estratégias de ESG bem estruturadas e alinhada aos objetivos de negócios podem auxiliar o trabalho do marketing? De que forma a marca procura comunicar essas diretrizes?
Juliana: Globalmente, a Unilever tem mais de 100 anos de história e um portfólio com marcas icônicas e duradouras como OMO, Dove e Hellmann’s. Nenhuma marca se mantém relevante por tanto tempo sem confiança e reputação, que são construídas a partir de compromissos públicos, transparência e ações concretas em larga escala. Na Unilever, sustentabilidade não é uma resposta à uma tendência de consumidores mais conscientes ou uma nova linha de produtos. Sustentabilidade é base da nossa estratégia, integrada a tudo o que fazemos, e o que garante a continuidade de nossos negócios. Essa comunicação se dá de forma consistente e transversal a todas as unidades de negócio e não por campanhas isoladas. Há mais de 20 anos, buscamos construir autoridade e influência nesse tema por meio de ações que de fato transformem nossas operações e cadeia de suprimentos.
M&M: Como classifica a importância da articulação entre setores, sociedade civil e terceiro setor, para as empresas no cenário dos assuntos debatidos e negociados na COP30?
Juliana: Acreditamos que a cooperação entre setor privado, governos e sociedade civil é essencial para enfrentar a crise climática com a urgência e a escala necessárias. A Unilever defende metas mais ambiciosas e regras claras que destravem investimentos e estimulem inovações capazes de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Acreditamos que seja possível o alinhamento entre compromissos das Nações e metas empresariais, como vem demonstrando com o projeto Renova Terra.
M&M: Quais são os caminhos para que o equilíbrio de mensuração e processos de longo prazo que a agenda ESG envolve sejam também associados ao lucro e ao crescimento sustentável?
Juliana: Para que ESG não seja apenas algo “bonito de se dizer”, mas vire mesmo parte do negócio, é preciso três coisas: conectar bem os compromissos ambientais e sociais ao que a empresa já faz; medir de verdade o impacto e mostrar como isso garante a continuidade dos negócios. No caso da Unilever, por exemplo, a sustentabilidade não está separada da estratégia de negócios: ela faz parte de decisões sobre quais matérias-primas usar e como operar. Um exemplo é o investimento em agricultura regenerativa dentro de nossa cadeia de suprimentos, do cultivo de ingredientes utilizados em nossos produtos como a soja para maionese Hellmann’s e a aveia para Mãe Terra. Esta é uma resposta concreta que garante um abastecimento mais seguro e resiliente.
M&M: Para uma empresa como a Unilever, que atua de forma multinacional, com produtos que abrangem diferentes setores, qual o desafio de alinhar as estratégias ESG de forma a contemplar todas essas áreas e disseminar as práticas e propostas por toda a companhia?
Juliana: Na Unilever, isso significa ter diretrizes globais claras — “é assim que nós fazemos” — e ao mesmo tempo adaptar para cada realidade local: matérias-primas diferentes, leis diferentes, estilos de vida diferentes. Também exige investir em treinamentos, apoio técnico, parcerias locais. E comunicar internamente de forma simples e constante, para que cada time, do marketing à produção, entenda que isso não é “coisa de sustentabilidade” apenas, mas a base de tudo o que a empresa faz, com metas mensuráveis e públicas, que precisam ser atingidas por todas as unidades de negócio.

