Publicis e Omnicom cancelam megafusão

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Publicis e Omnicom cancelam megafusão

Os dois grupos alegam que lentidão do processo criou incerteza prejudicial aos interesses de ambos, que permanecem como concorrentes, mas com ?grande respeito um pelo outro?


8 de maio de 2014 - 10h00

Comunicado conjunto divulgado em Paris e Nova York na noite de quinta-feira 8 anuncia que os grupos Publicis e Omnicom decidiram cancelar a megafusão acertada em julho do ano passado pelos dois CEOs, Maurice Lévy e John Wren, respectivamente. O negócio vinha enfrentando dificuldades em se concretizar, especialmente disputas internas de gestão, problemas de aprovação regulatória em alguns países e questões fiscais.

A nota oficial conjunta credita a desistência à “dificuldades em concluir a transação dentro de um razoável espaço de tempo”. As duas partes abrem mão de qualquer obrigação ou taxa relativas à proposta de fusão – o acordo inicial previa multa de US$ 500 milhões caso uma das duas empresas resolvesse rompê-lo de forma unilateral. Apesar disso, os tramites preparatórios para a fusão já teriam consumido cerca de US$ 52 milhões do Publicis Groupe e outros US$ 48 milhões do Omnicom.

Segundo dizem Lévy e Wren no comunicado oficial, “os desafios que ainda restavam a ser superados e o ritmo lento do processo de fusão criaram um nível de incerteza prejudicial aos interesses de ambos os grupos e seus funcionários, clientes e acionistas”.

“Assim, decidimos conjuntamente prosseguir nossas trajetórias independentes. Permanecemos como concorrentes, mas mantemos um grande respeito um pelo outro”, frisam os dois CEOs. Os termos da cisão foram aprovados por unanimidade pelo Conselho de Administração e o Conselho Fiscal do Publicis Groupe e pelo Conselho de Administração do Omnicom.

Em outro comunicado, também distribuído na noite de quinta-feira 8, e assinado somente pelo Publicis Groupe, o CEO Maurice Lévy acrescenta que os dois grupos têm “trajetórias brilhantes” e que a fusão “foi sempre uma oportunidade, e não uma necessidade”.

“A decisão de suspender o processo não foi agradável, nem fácil de ser tomada, mas era uma condição necessária. Prolongar a situação poderia levar o Publicis Groupe a se desviar de sua principal função: melhor servir os nossos clientes”. Lévy acrescenta ainda que a holding francesa “continuará acelerando a execução do seu ambicioso plano estratégico”.

John Wren, por sua vez, enviou comunicado interno a dirigentes de empresas integrantes do Omnicom reconhecendo que, embora soubesse que a operação era complexa, no início acreditou que o processo de fusão iria demorar pouco mais de seis meses. “Entretanto, ao longo dos últimos nove meses, tornou-se cada vez mais evidente, para ambas as partes, que não está claro quanto tempo mais seria necessário para resolver as questões em aberto.”

A megafusão entre Publicis e Omnicom pretendia criar um gigante com valor de mercado de US$ 35 bilhões, superando, assim, o atual líder do ranking global, o britânico WPP (Martin Sorrell: tiveram “olhos maior que o estômago”). Se concretizado teria sido o maior negócio da história do mercado global de agências. Entre as redes controladas pelos dois lados estão Publicis, Leo Burnett, Saatchi & Saatchi e BBH, pelos franceses; e BBDO, DDB e TBWA, pelos norte-americanos.

Apesar da concordância legal de mercados importantes, como Estados Unidos, União Europeia e Brasil, a megafusão enfrentava obstáculos, como a aprovação ainda não conseguida nas entidades antitruste da China. O fisco francês também ainda não havia concordado com o modelo de isenção proposto, pelo qual os acionistas não precisariam pagar impostos sobre as ações da nova empresa fruto da fusão, que receberiam em troca das atuais. Além disso, nos últimos meses, diversos indícios sinalizavam que o clima havia azedado entre os principais executivos de Publicis e Omnicom.

A questão tributária se agravava dada a complexidade de uma operação que pretendia unir uma empresa da França com uma dos Estados Unidos, com a incorporação feita na Holanda. Além disso, a holding Publicis Omnicom teria sede fiscal no Reino Unido, mas sedes operacionais em Paris e Nova York.

Na semana passada, o jornal francês Le Monde apontou que havia muitas diferenças entre os dois e a propalada “fusão de iguais” era, na verdade, uma maneira de os acionistas e a diretoria da empresa norte-americana aceitarem ser comprados por uma companhia “francesa” e “menor”, e que daria aos acionistas atuais 50,64% das ações contra 49,36% que ficariam com os do Omnicom. Sem contar que a participação de Maurice Lévy e da família do fundador do Publicis, Marcel Bleustein-Blanchet, seria de 7%, contra apenas 0,4% de John Wren, CEO do Omnicom, o que também incomodaria o lado norte-americano.

Outro problema teria a ver com a ocupação de cargos importantes, especialmente o de CFO, segundo revelou no mês passado o Wall Street Journal. Do lado do Omnicom, o posto é de Randall Weisenburger que, segundo um relatório da Bolt Insurance divulgado em 2013, ganhou US$ 10,5 milhões em salários no ano anterior. No Publicis Groupe, o homem-forte das finanças é Jean-Michel Etienne, que teve salários de US$ 1,2 milhão em 2012.

A tendência, segundo analistas, era a de que Weisenburger fosse o escolhido como CFO do Publicis Omnicom, mas a demora na definição ajudou a aumentar o descontentamento dos norte-americanos. Por conta disso, teriam interrompendo o envio de documentos do Omnicom ao fisco francês, uma condição básica para aprovação da fusão.

Já o Financial Times alertou, também no final do mês passado, que a fusão entre Publicis e Omnicom estava em risco por “questões fiscais não previstas”. A reportagem causou alvoroço no mercado financeiro, onde as ações das empresas caíram, e levantou dúvidas sobre a viabilidade do negócio.

Em comunicado divulgado no dia 23 de abril, em Paris, o Publicis Groupe tentou tranquilizar os investidores. Entretanto, o clima de incerteza foi alimentado por declarações dos dois CEOs. “Não há um plano B. Essas coisas são requisitos para a conclusão do processo”, afirmou John Wren, do Omnicom. Ele disse que não se arriscaria a prever exatamente quando a transação seria fechada, “dada a complexidade do acordo e a quantidade de questões que ainda precisam ser resolvidas”.

Alimentando ainda mais o alarmismo que cercou o assunto nas últimas semanas, o CEO do Publicis Groupe, Maurice Lévy, disse no mês passado: “se, por acidente, as coisas não acontecerem, a vida segue boa para o Publicis”. Nesta quinta-feira, 8 de maio, o “acidente” se consumou.

Colaborou Felipe Turlão

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