Comunicação

Vergonha do Brasil em Cannes foi para todos, diz Musa

CEO da Ogilvy declarou que crise dos trabalhos brasileiros impactaram a imagem de toda a indústria

i 31 de julho de 2025 - 16h18

Cannes brasileiras

Fernando Musa, CEO da Ogilvy, foi o entrevistado do podcast A Ideia (Crédito: Reprodução)

Os episódios ocorridos no Cannes Lions deste ano, que culminaram na cassação de 2 Leões e devolução de outros 10 troféus por parte da DM9, além de questionamentos a respeito da veracidade dos trabalhos vencedores feitos por outras agências impactaram negativamente não apenas os envolvidos, mas toda a indústria criativa brasileira.

Essa é opinião de Fernando Musa, CEO da Ogilvy. “No ano do Brasil, a vergonha foi para todo mundo”, declarou. “Geralmente a gente sai de Cannes inspirado, mas de todas as vezes em que estive no Festival, definitivamente não sai de lá desta forma, em específico”, relatou o publicitário durante o podcast A Ideia.

O líder da Ogilvy no Brasil analisou que os questionamentos em torno dos cases vencedores de Cannes prejudicam a imagem tanto das empresas envolvidas nas polêmicas quanto de quem conquistou prêmios de forma honesta.

“É muito bom ter um trabalho que ganha, que inspira e que desperta nas outras pessoas a vontade de ter feito aquilo. Mas é melhor ainda ter um trabalho que transforma o negócio do cliente. Porque a publicidade só tem razão de ser se ela resolver um problema real, se ela funcionar. E tem coisas que funcionam e outras que não”, declarou à editora de Meio & Mensagem, Isabella Lessa.

Como exemplo de um tipo de trabalho que acredita ser transformador, Musa citou um case que o levou ao palco do Cannes Lions em 2013, e de vários outros festivais nacionais e internacionais: “Retratos da Real Beleza”, criado pela Ogilvy para Dove.

Esse trabalho, na visão do CEO da Ogilvy, foi capaz de quebrar paradigmas tanto para a marca quanto para a indústria da beleza e para os consumidores.

Musa admite que os cases “fantasmas”, como são chamadas as peças publicitárias criadas com a única intenção de disputar premiações, eram mais frequentes quando iniciou sua carreira na indústria criativa, na década de 1990, mas que depois pareciam ter saído de cena.

Na visão do executivo, conquistar um prêmio com uma peça fantasma é como ter a ciência de fazer uso de algo falso. “Você, que ganhou algo com um fantasma, não está enganando o júri ou o festival: está enganando a si mesmo e acho isso medíocre”, criticou.

O CEO da Ogilvy ressaltou, no entanto, que não se pode culpar a inteligência artificial pelos acontecimentos em Cannes neste ano, pontuando que ninguém coloca uma ideia em um festival sozinho. “O festival, os anunciantes, o ecossistema inteiro têm sua parcela de culpa”, disse.

Ele admite que sempre existiu, no mercado, uma ânsia por ganhar prêmios em Cannes e que isso, agora, acabou gerando problemas de ética e de comportamento.

Porém, ele aponta que o lado bom desta crise é que os acontecimentos obrigarão a indústria, como um todo, a reavaliar sua atuação. “A parte boa é que isso fará a gente parar para pensar. Nosso mercado precisa de mais pensamento e de menos pressa”, concluiu.

Assista abaixo a íntegra da entrevista de Musa ao podcast A Ideia: