Universidades buscam protagonismo em inovação
Centros de ensino utilizam ativos internos, como laboratórios e pesquisadores, para trocas com a iniciativa privada. Entretanto, funcionamento corre risco após cortes no fomento à pesquisa

“A inovação em pesquisa vem de agências de fomento ou de parcerias com a indústria, não do orçamento das universidade”, afirma Newton Frateschi, da Unicamp (Crédito: EvgeniyShkolenko/iStock)
Inovar é o mote de quase todos os segmentos da economia. A construção desse processo, por sua vez, passa por diversos agentes, que vão de startups com pequenas equipes até o orçamento militar das maiores economias do mundo, passando por grandes indústrias multinacionais. No Brasil, as universidades, faculdades e institutos estão entre as principais instituições na busca por novas soluções.
A Unicamp, por exemplo, mantém o Inova – centro de patentes que possui mais de 1,2 mil documentos de proteção intelectual. A operação é dividida em três frentes: comunicação institucional, propriedade intelectual e parcerias com a iniciativa privada. Na primeira vertente, a partir de eventos, palestras e concursos, a universidade busca ampliar a cultura empreendedora dentro de seus muros. Na universidade de Campinas foram gestadas 600 empresas, que empregam cerca de 30 mil pessoas. Entre os casos mais ilustres estão Movile, que adquiriu o iFood (fundado por um grupo de ex-estudantes da USP), e o QuintoAndar.
Um dos principais contratos da Unicamp com a iniciativa privada é com a produção de gorduras densas para indústrias alimentares sem que elas sejam excessivamente saturadas, o que é negativo à saúde dos consumidores. Com isso, é possível reproduzir a textura de recheios de biscoitos, por exemplo.
“Entretanto, a inovação em pesquisa, na imensa maioria dos casos, vem de agências de fomento ou de parcerias com a indústria, não do orçamento”, afirma Newton Frateschi, diretor executivo do Inova Unicamp. Com isso, podem ser fatais para o ambiente de inovação das universidades os cortes em agências como Capes, que anunciou que não renovará mais de cinco mil bolsas no ano que vem, e CNPq, que diminuiu seu orçamento pela metade em cinco anos, sem contar a inflação.

“Experimentar é a base da inovação”
“Quando temos uma parte inicial de inovação, é preciso que seja administrada por fomento. A iniciativa privada não se interessará por um conjunto de empresas que estão em fase inicial”, afirma Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, parque tecnológico de Recife. Entretanto, o financiamento não se limita somente aos órgãos de fomento. O Porto, por exemplo, conta com o apoio do Sebrae.
O parque tecnológico surgiu na década de 1990 como uma parceria entre a UFPE, governo do estado de Pernambuco e iniciativa privada. E, atualmente, é uma organização sem fins lucrativos. Seus principais projetos são voltados ao desenvolvimento de softwares, serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa (EC).
Ambiente propício
Historicamente, a principal contribuição de universidades à iniciativa privada é a construção de talentos, afirma Newton, da Unicamp. Essa formação inclui, também, a preparação para o ambiente disruptivo de startups e novos modelos de negócio.
O Insper, na capital paulista, conta com uma filial do Fab Lab, criado na sede do Massachusetts Institute of Technology, MIT. Nele, os alunos de engenharia atuam com modelos de prototipagem rápida e domínio das técnicas da cultura maker. “Complementar a isso, trazemos uma metodologia de design thinking e costumer development, já mais voltada ao empreendedorismo”, afirma Victor Macul, coordenador do centro de empreendedorismo do Insper.
Além disso, o Insper possui um coworking aberto aos alunos e ex-alunos da instituição. Promove também competições de empreendedorismo.