Volta de eventos presenciais firma retomada do mercado editorial

Buscar

Volta de eventos presenciais firma retomada do mercado editorial

Buscar
Publicidade

Marketing

Volta de eventos presenciais firma retomada do mercado editorial

Bienal Internacional do Livro iniciou a 26ª edição no sábado, 2, com estimativa de público de 600 mil pessoas durante os oito dias de evento


5 de julho de 2022 - 6h00

Passados os desafios das fases mais críticas da pandemia da Covid-19, que incluíram restrições na circulação e fechamento temporário de livrarias, o mercado editorial vivencia os impactos positivos do retorno dos eventos presenciais. Um dos mais relevantes do ramo no País, a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou no último sábado, 2, marcando a volta, após quatro anos, do formato presencial.

 

26ª Bienal Internacional do Livro começou no último sábado, 2, e se estende até o domingo, 10 (Crédito: Estúdio WTF)

A estimativa, conforme a Câmara Brasileira do Livro (CBL), realizadora do evento, é que, até o encerramento, no próximo domingo, 10, mais de 600 mil visitantes passem pelo Expo Center Norte. O presidente da CBL, Vitor Tavares, afirma que, mesmo com a migração de livrarias para serviços de e-commerce, marketplace e WhatsApp, o contato presencial faz toda a diferença nos negócios.

Tavares cita o crescimento no varejo no final de 2021, principalmente nos últimos quatro meses do ano, atribuído à reabertura da maior parte das livrarias. “As pessoas queriam ter o contato presencial. Por isso, essas feiras são fundamentais. Assim como as livrarias físicas são as vitrines das editoras, em um evento como a bienal, o objetivo é comercializar e ainda fazer com que o livro seja um veículo que traga conteúdos transformadores para a sociedade”, afirma.

Além do retorno da Bienal, no mês passado, houve a estreia do A Feira do Livro, na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, organizado pela revista Quatro Cinco Um. O evento, conforme a organização, surgiu para preencher uma lacuna na cidade de São Paulo, que era a falta de feiras literárias de rua com a proposta de viabilizar o contato fácil e direto entre leitores e escritores.

“Somos uma associação sem fins lucrativos voltada para a difusão do livro na sociedade brasileira. Pensamos que seria uma boa forma de colocar o livro e a produção editorial brasileira em destaque. É uma nova fase da vida cultural e ocupar a rua é uma saída interessante”, explica Paulo Werneck, um dos idealizadores da feira.

Aumento nas vendas

As grandes expectativas que envolvem a volta dos eventos são explicadas pelo próprio aumento das vendas registradas no Brasil. Números da pesquisa Produção e Vendas e Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, lançada pela Nielsen Book em maio, apontaram um crescimento nominal de 6% no faturamento das editoras em vendas para o mercado em 2021, em comparação ao ano anterior. Em termos gerais, no entanto, houve uma queda de 4%, considerando a inflação. Já no conteúdo digital, houve um aumento nominal de 23% no faturamento e de 12% em termos gerais.

Durante todo o ano passado, o setor produziu 391 milhões de exemplares – sendo 16% de novos títulos e 84% de reimpressões. Foram vendidos no total 409 milhões de exemplares, que resultaram em um faturamento R$ 5,8 bilhões. Segundo o estudo, como normalmente acontece, o governo foi o principal comprador de livros.

 

Pesquisa revela aumento no número de vendas de livros no final de 2021 (Crédito: Estúdio WTF)

Mesmo cauteloso, Samuel Seibel, presidente da rede Livraria da Vila, acredita que os piores momentos já passaram e o setor se sente mais seguro. “Com a flexibilização, em várias lojas, estamos com o faturamento igual ou próximo a 2019. Nas outras, estamos chegando lá. Então, há demonstração dessa força do retorno para todos. Se não houver nenhum sobressalto, será um ano de alívio”, diz.

Desafios reais

O aumento da inflação no País, que afeta todos os setores da economia, representa também um grande desafio na cadeia editorial. Tavares, da CBL, considera o encarecimento do papel – principal insumo da produção de livros – como uma das adversidades mais complexas.

“O papel é uma commodity e acompanha o preço internacional. Para editores e gráficos, os cálculos são constantes em busca de alternativas, porque não dá para repassar para o preço final. Nos últimos 15 meses, houve um salto de quase 70% no preço médio do papel, mas o poder aquisitivo do consumidor não acompanhou isso”, salienta.

Para Seibel, da Livraria da Vila, o esforço para driblar os danos inflacionários começa nas editoras e se estende por toda as áreas. “Se a inflação fosse colocada, afetaria o mercado inteiro. Há um esforço grande de todos para assimilar, seja com uma margem menor de lucro, seja buscando eficiência nos processos para que o preço continue viável”, acrescenta.

As formas de enfrentar a alta da inflação incluem, por exemplo, o aumento de tiragem, a busca por logística e transporte mais baratos, a terceirização de serviços como diagramação e tradução, além do investimento maior na promoção do livro. “Tudo isso acaba diluindo um pouco o custo”, explica Tavares.

Outro desafio citado pelo setor é o baixo nível de leitura entre os brasileiros – de pouco mais de dois livros por ano, conforme o estudo Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. Além de questões ligadas ao pouco interesse, Tavares associa também o desempenho às questões econômicas. “A gente percebe que, mesmo querendo, a pessoa de baixa renda ou renda média não lê mais porque o poder aquisitivo não permite. Então, existe um trabalho de políticas públicas a ser feito”, defende.

Werneck, da Quatro Cinco Um, acredita que – com impulso do distanciamento social – o livro assumiu um novo lugar no cotidiano dos brasileiros, se tornando uma opção de lazer. “Ele [o livro] acabou sendo um ponto de apoio”, diz. O presidente da CBL compartilha da mesma opinião. Com mais tempo em casa, para ele, houve um movimento de retomada das leituras dos mais vários gêneros. “Acho que o brasileiro se reencontrou com a leitura e espero que isso continue”, finaliza Tavares.

Publicidade

Compartilhe

Veja também