NRF: Uberizar para não Kodakizar

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Opinião

NRF: Uberizar para não Kodakizar

O último dia de NRF não teve o charme do segundo dia, mas surpreendeu


19 de janeiro de 2017 - 6h00

Depois de um longo feriado americano, a terça-feira (17/01), foi dia de ressaca em Nova Iorque. Somado ao dia chuvoso, um pouco acima de zero grau, com previsão de pancadas – se estivesse mais frio – certamente a neve contemplaria o cenário nas janelas. O trânsito caótico em Manhattan me faz sentir em casa, mas estou energizado depois de um bom café da manhã tipicamente americano. Vou precisar dessa energia extra, pois será o último dia da maior feira de varejo dos EUA, e temos muito trabalho pela frente.

A passagem de bastão para a nova chair da NRF, Mindy Grossman, CEO da HSN (sim, uma mulher, em linha com o que pregava Sir Richard Branson, na manhã anterior) contrapôs as expectativas – foi incrível. Temos que respeitar os americanos também nisso, eles fazem política muito bem! Não houve autopromoção do chairman que saía, apenas a transição de um líder para o outro, além de um trabalho por fazer (que sirva de exemplo: a cadeira é mais importante que as pessoas!).

E o trabalho por fazer é de imensa importância: promover a carreira do executivo de varejo, porque o segmento compete por talentos com outros setores da economia e está perdendo! A NRF se propõe a educar os educadores a respeito do valor de uma carreira em varejo. No Brasil, os desafios são ainda maiores, até porque, falta formação e educação fundamental. Entre as boas notícias do dia, o presidente do Federal Reserve Bank de Nova Iorque deu um tom positivo, muito pouco usual para um banqueiro: “crise superada, inflação sob controle, crescimento razoável no horizonte. Cabe ao varejista competir pelos dólares dos consumidores, que os dividirão entre economias, serviços e produtos”. O recado foi dado: não culpem a economia se tiverem um crescimento pífio! Para os americanos, 2% ao ano, em linha com o PIB como aconteceu nos últimos cinco anos, é pífio…

O grande destaque do dia foi à sessão organizada pela XRC Labs: varejo na velocidade da ruptura – sem dúvida, um dos pontos mais altos dos três dias. Explico: quatro jovens empreendedores mostram como estão mudando o mundo. E o futuro será com casas inteligentes (Perseus Mirrors), com menos aplicativos de compras, mas muito mais interações com os lojistas (Banter), com mais personalização e customização (Strypes) e definitivamente sem barreiras (ShopShops).

Enquanto todos os casos foram incríveis, destaco a ShopShops, que criou uma ponte dos EUA para a China. Superaram barreiras físicas, culturais e a censura governamental viabilizando, dessa forma, que o consumidor chinês compre nos EUA (tanto nos EUA, quanto da China). E imaginar que a demanda dos chineses por marcas começou com “Sex & the City”…

‘Eu não preciso ser uma empresa perfeita, basta ser honesta’. Essa foi a frase de efeito do dia, da The Honest Company, abusando do trocadilho com o nome da empresa. Mas a questão foi bem colocada, uma vez que remetia ao ‘propósito’ – os valores que o varejista preserva em toda a cadeia de produção e sua preocupação com o meio de ambiente. O resultado final é um produto mais saudável para ser consumido por bebês.

Amazon: o varejista ausente mais presente da NRF! Em 2017, eles são oficialmente citados em seis palestras, mas eu perdi a conta de quantos os mencionaram com admiração, temor, ódio… Não há quem duvide ou não respeite sua força e capacidade de inovar. Uma pesquisa indicou que 65% dos consumidores gostariam que a Amazon tivesse lojas físicas. Sua entrada no varejo físico surpreendeu o mundo: varejo digital indo para o físico (normalmente seria o contrário), sem caixa registradora, no ramo de alimentos – o AmazonGo. Segundo Panos Anthos, XRC Labs, essa tecnologia existe há pelo menos cinco anos, mas foi a Amazon quem teve coragem para inovar, arriscar e colocar em funcionamento. E os consumidores confiam na Amazon para isso, afinal, a empresa é fácil, rápida, e conveniente. Preço? Preço está em quarto lugar em importância para seus clientes. A Amazon tem o melhor score no e-commerce mobile – o varejista melhor preparado para a geração Z (13-25 anos), que já começa a consumir e poucos estão atentos.

O último dia de NRF não teve o charme do segundo dia, mas surpreendeu. O setor levou um puxão de orelha no intuito de valorizar mais a carreira em varejo e parar de perder talentos para outros segmentos da economia – a NRF está fazendo a sua parte! Precisamos disso no Brasil. Se não estamos satisfeitos com smart phones, vamos direto para smart homes (casas inteligentes) e mundos com menos barreiras – a tecnologia está à nossa disposição. Propósito ainda não saiu da moda, e a Amazon nos prova todos os dias que não basta ser a maior, temos que ter coragem de seguir inovando e rompendo barreiras. Finalizo com uma frase que ouvi essa semana por aqui: “temos que uberizar, para não kodakizar”.

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