Trilhas e corujas: o mercado de som também mitou em 2017

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Opinião

Trilhas e corujas: o mercado de som também mitou em 2017

Seria fácil falar de dificuldades depois de um ano desafiador, mas o papo entre as produtoras de áudio na 38ª Edição do Prêmio Caboré era outro


22 de dezembro de 2017 - 15h46

Entre as 134 mesas espalhadas pelo grande salão do Citibank Hall no dia 6 de dezembro, eu contei pelo menos 12 cadeiras ocupadas por profissionais de áudio. E durante o intervalo entre a subida dos indicados ao palco e a entrega das corujas, eu e a minha esposa, a locutora Simone Kliass, circulávamos pelo espaço para bater um papo com os nossos colegas do mercado de som. Encontramos com o Marcelinho Romero, atendimento da Jamute, e falamos sobre o novo estúdio que a produtora acabou de inaugurar na Rua Atlântica nos Jardins. Parabenizamos o Roberto Coelho, sócio do Kito Siqueira da Satélite, pela banda da casa – que tocou o tema Turn Down For What durante a premiação e até improvisou um Heaven and Hell ali na hora quando o Fernando Diniz subiu ao palco vestindo uma camiseta do Black Sabbath. Demos um abraço no Felipe Vassão da Loud, que não tínhamos visto desde o nosso encontro no South by Southwest em março. Cumprimentamos Serginho Rezende da Comando S, responsável pela produção musical da vinheta de fim de ano da Rede Globo, sem saber que um pouco mais tarde a Sentimental Filmes, produtora parceira do Serginho neste projeto, levaria uma coruja na categoria Produção. E ainda deu tempo para ficar sabendo da Dani Celer, sócia e produtora executiva da Lucha Libre, uma novidade que ainda não tinha aparecido nas páginas do Meio & Mensagem: o Paulinho Corcione fechou uma parceria em Los Angeles com o estúdio do baterista Matt Sorum, conhecido por seu trabalho no Guns N’ Roses, The Cult, Velvet Revolver e Kings of Chaos.

Ou seja, o nosso papo com a dúzia de profissionais que representavam o mercado de áudio no Caboré 2017 era bem animador. Senti orgulho de trabalhar com essas pessoas – e com tantas outras que pensam da mesma maneira, mas que não estavam no Citibank Hall naquela noite. Ao chegar ao fim de um ano, completamos um ciclo e é natural refletir sobre as dificuldades que encaramos ao longo dos últimos 12 meses: as madrugadas viradas, as trilhas não aprovadas, as concorrências perdidas, etc. Mas passeando pelo salão da 38ª edição do Prêmio Caboré e dando risada com os nossos colegas do mercado de som, o papo era outro. Cada um naquele grupo tinha enfrentado dificuldades em 2017, porém todos falavam de conquistas. Foi um ano desafiador, sem dúvida. Mas todos tinham crescido e realizado grandes projetos. Todos aplaudiam os discursos dos seus colegas do mercado publicitário e todos estavam ansiosos para enfrentar novos desafios e comemorar novas conquistas em 2018. Foi a partir destas conversas com estas pessoas que admiro que resolvi dedicar esta última coluna do ano a eles. Para fechar este ciclo numa nota positiva, pedi para cada produtora que encontrei no Caboré me enviar um trabalho que realizou este ano para mostrar como a produção sonora ajuda a determinar o sucesso de uma campanha publicitária. Sei que foi difícil para eles escolherem apenas um trabalho entre tantos, mas segue a lista que recebi – mostrando que o mercado de som também mitou em 2017.

Jamute
Coca-Cola “Toda crise a gente supera. Juntos.”

James Feeler: A trilha que fizemos para o filme de Coca-Cola foi idealizada pela David The Agency São Paulo e teve uma conexão grande com o público. Foram muitas pessoas ligando para o SAC da empresa e escrevendo nos comentários no YouTube, perguntando sobre a música, onde podiam encontrá-la. Para a Jamute, é muito importante saber que essa música impactou tanto os consumidores, já que foi uma trilha criada do zero – a única produzida e composta para Coca-Cola no Brasil esse ano.

Satélite
Itaú – “Astronauta”

Kito Siqueira: Neste filme tivemos a honra de fazer uma versão de um clássico de David Bowie: Starman. Fizemos uma versão que traz a delicadeza inicial do filme com uma grandeza e crescida durante o decorrer do filme que faz arrepiar quando tudo acontece. E o refrão traz a emoção de uma maneira contemporânea sem ser piegas. Gravamos um coro de crianças em Los Angeles e com a cantora Tássia Holsbach fizemos uma nova interpretação feminina muito bonita e com personalidade diante de uma musica tão icônica. Foi uma campanha de grande sucesso e o cliente ficou extremamente satisfeito com o resultado da música no recall da campanha.

Loud
Vivo Fibra – “Maquiagem”

“Marceneiro”

“Menina Kung Fu”

Felipe Vassão: Quando fomos chamados pela Africa pra campanha de Vivo Fibra no começo de 2017 tivemos o desafio de apresentar uma pesquisa de canções famosas, pois tinham a intenção de licenciar uma música, se apropriar da conexão emocional que o público tem com ela e fazer um arranjo inovador pra cada filme da campanha, reforçando o conceito “viva menos do mesmo”. Depois de muita pesquisa chegamos na candidata perfeita: I’m Free dos Rolling Stones, famosa na década de 90 na versão do Soup Dragons. Digo “perfeita” porque é uma canção forte, simples, alinhada com o conceito da marca e muito versátil em termos musicais. Além disso ela expande a ideia de “viva menos do mesmo”, com a mensagem de ser livre pra fazer o que quiser. Depois de escolhida e negociada, trabalhamos em diversas versões, gravando vozes nos EUA, França e Inglaterra pra chegarmos no clima ideal pra cada filme – sempre buscando subverter o óbvio, com um casting de vozes fora do usual no mercado brasileiro. A música é tão forte que está se tornando a “música da Vivo”, de forma orgânica e natural.

Comando S
Ki-Suco Voltou – “Brincadeira de Criança”

Serginho Rezende: A campanha do Ki-Suco que criamos para a Africa foi extremamente bem-sucedida com o público – e não digo apenas no aspecto de mercado e de dados de pesquisa, mas ela conseguiu impactar as pessoas de uma maneira muito positiva. Ela partiu da ideia de resgatar a música do Molejo, que fala da brincadeira de criança e tem tudo a ver com o Ki-Suco. Afinal, quando falamos no refresco, nossa lembrança vai direto para a infância. Em um momento que a propaganda é cada vez mais entretenimento, o nosso grande desafio era fazer a música continuar com sua essência e não parecer mais um jingle ou paródia. Mesmo com a adaptação da letra, as pessoas curtiram e se divertiram com a campanha com aquele gostinho de quero mais.

Lucha Libre
McDonald’s – “Chegou”

“Vai Transbordar”

Paulinho Corcione: A Lucha Libre se orgulha muito de produzir a grande maioria do conteúdo de áudio para McDonald’s Latam. A cumplicidade entre o cliente, DPZ&T, e a nossa produtora já está muito evidente para quem produz as peças e também no resultado final que chega ao consumidor. Para nós, entre muitas, a característica mais encantadora desse cliente é a ligação que a marca tem com a música. E nessa campanha é evidente. São duas músicas que são sucessos nacionais em que, em conjunto com a agência, ajudamos a escolher, as reproduzimos, contribuímos nas versões de letra e estamos certos que chegamos a um resultado formidável.
A agência e o cliente mais uma vez surpreenderam o mercado e não colocaram apenas uma música na campanha do produto Cheddar, mas sim duas. E claro, sucesso! Como diz a assinatura sonora McDonald’s: “Parapapapaaaaaaaaaa”.

Faço questão de incluir mais um trabalho nesta lista. Eu não encontrei com o Lou Schmidt no Caboré, mas foi com ele que comecei esta coluna sobre o mercado de áudio para o Meio & Mensagem este ano – e é com ele que eu também gostaria de fechar.

Antfood Music and Sound Design
Itaú – “Rock in Rio 2017”

Lou Schmidt: Foi um enorme desafio regravar Come Together dos Beatles de forma original e moderna – respeitando a essência da música sem copiar nenhuma versão existente, de maneira a conduzir o filme num crescente de emoção já que o patrocinador oficial do Rock in Rio usaria o comercial repetidamente durante o evento, martelando a cabeça do público. A ideia que levamos para a Africa era que a música fosse uma parte das cenas, ajudando a contar a história, como se os personagens de cada cena cantassem a música junto, e, no final, na cena do show, a multidão estivesse toda cantando junto em êxtase. Para termos o som real da música passando pelos ambientes diversos que aparecem no filme, gravamos a música tocando em vários sistemas de som e caixas de som diferentes, microfonados de diversas distâncias para evitar o uso de plug-ins simuladores e ter um resultado 100% real. Além disso regravamos praticamente todas as vozes dos personagens com as respectivas ambientações, o que foi um trabalho artesanal gigante mas com resultado incrivelmente real e recompensador.

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