Os desafios de ser mídia fora do Brasil

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Opinião

Os desafios de ser mídia fora do Brasil

O que intriga e estimula, o universo paralelo dos bureaus e o que ninguém te conta


2 de abril de 2019 - 15h22

 

(crédito: reprodução)

A aventura de largar tudo e embarcar numa nova experiência de trabalho no exterior é cheia de desafios. Não importa sua área, alguns deles são comuns a todos, como por exemplo, a barreira da língua, o choque cultural e ter que começar do zero num lugar que ninguém te conhece. No caso do profissional de mídia ainda existem alguns desafios específicos da área, que ao mesmo tempo, te intrigam e estimulam a correr atrás do desconhecido. Se você é do tipo que adora um desafio pode começar a ficar feliz, pois aqui está uma lista de alguns que você vai encontrar ao ser um profissional de mídia no exterior.

Background, background e mais background. Nada mais importante para um mídia do que ter background e referências o suficiente para construir estratégias e planos táticos que sejam eficientes e conectados com o consumidor. Mas, o que ninguém te conta é que ao sair do País, mais da metade do seu background terá que ser reconstruído do zero. Como avaliar se um CPM, CPV, CPP, CPC (e todos os outros “C”) são eficientes, quando te faltam referências de custo no novo país? Como saber o que é relevante para targets específicos se você não tem profundidade dos hábitos de consumo de mídia daquele território? Como saber quais são os momentos culturais mais relevantes em uma cultura que você não faz parte? Sem dúvidas, a falta de background cultural e de mercado é um dos maiores desafios do profissional de mídia em sua jornada por novas fronteiras. A dica aqui é manter a calma, imergir o máximo possível na cultura do novo país, consumir muita mídia local, fazer muitas pesquisas e nunca deixar de perguntar. Nesse caso, só o tempo e a experiência vão poder compensar o gap de se estar em um novo mercado com novos parâmetros e nova cultura – não se coloque na retaguarda e procure pessoas que possam ajudar.

Santo digital, padronizai nossas métricas. Tudo fica mais fácil para o profissional mídia no exterior quando ele está trabalhando com digital. A padronização das métricas, dos tipos de compra e das ferramentas de pesquisa fazem com que trabalhar com digital dê aquela sensação gostosa de se estar em casa, no conforto do seu lar. Mas essa sensação logo acaba quando se começa a planejar os outros meios, cada um com suas particularidades, com ferramentas de pesquisa desconhecidas e com processos de compra totalmente novos. A maior diferença está no planejamento/compra de TV, com variações que incluem a compra por TRP, a compensação de audiência (ADU), opções de Live, Live + DVR, VOD e OTT. São tantas opções que ao mesmo tempo deslumbram e apavoram a vida do mídia que estava acostumado a ter 100% das informações automatizadas ao seu alcance. Com esse leque de opções e a compra por performance, tudo varia de acordo com a projeção de audiência, os preços são flutuantes, não existe uma tabela fixa e nada é acessível em sistema. Neste caso, só tem uma coisa a ser feita: embrace the chaos e boa sorte!

O universo paralelo dos bureaus. Apesar de existirem agências full service no exterior, para quem tenta uma carreira lá fora é grande a chance de acabar trabalhando em um bureau de mídia: um verdadeiro universo paralelo. Esteja pronto para dar adeus a ter visibilidade do planejamento de comunicação como um todo. Sem conhecer o conceito de campanha e as linhas criativas que estão sendo consideradas desenvolver uma estratégia fica muito mais difícil. Com tão pouca informação criativa, o approach de mídia precisa ser muito mais provocativo por si só, denso e amarrado nas métricas. Se apegar a um profundo entendimento de plataformas de mídia e suas oportunidades é o pontapé inicial. Mergulhar em um diagnóstico comportamental do target relacionado a consumo de conteúdo é o segundo passo. A partir daí é atribuir implicações em mídia a cada um dos insights e trazer um approach estratégico atraente que responda a cada uma das implicações. E claro: esteja preparado para investir boa parte do tempo em sistemas de mensuração e modelos atribuição para definição das métricas de sucesso da campanha.

A super-especialização das funções, um departamento de mídia no exterior possui poucas funções abrangentes, mas diversas funções super específicas. Cargos como analistas de mídia paga para display, planejadores de campanhas de vídeo e gerentes de parcerias são alguns exemplos de posições disponíveis. A boa notícia é que não faltam oportunidades, mas por outro lado, para conseguir um alto cargo dentro das posições especializadas você precisa ter muita experiência e background em áreas muito específicas. Além disso, é difícil competir com profissionais estrangeiros que trabalham desta forma desde o início de suas carreiras, focados, por exemplo, em desenvolver estratégias e implementações de campanhas com apenas um meio específico (ou até mesmo um veículo). Ao mesmo tempo, são muito valorizados para os cargos de liderança, profissionais com uma experiência 360º. Ter visão do todo e saber discutir sobre qualquer meio acaba sendo essencial para liderar o time e o cliente. Por terem uma carreira de caráter multidisciplinar, os profissionais de mídia brasileiros voltam a se destacar. Seja esperto e invista em uma posição onde seu background seja um diferencial em relação ao padrão de candidato vigente, aumentando as chances de sucesso.

Apesar de todos os desafios, as oportunidades e aprendizados de uma carreira internacional são imensuráveis e algumas dicas práticas podem te ajudar nessa jornada. O primeiro passo é atualizar seu Linkedin, inclusive em inglês, ter um currículo atraente e dinâmico e pedir para pessoas chaves fazerem recomendações em seu perfil. Não seja modesto, inclua prêmios, especializações, cursos e qualquer detalhes de sua carreira. Além disso, atualize seu currículo com palavras chaves de acordo com as vagas de seu interesse (isso vai te ajudar a ganhar relevância nessas vagas). O site JobScan é grátis e pode ajudar na reconstrução do seu CV para que ele tenha maior visibilidade nas vagas que se encaixam no seu perfil. Também é essencial procurar pessoas que possam ajudar e considerar países menos óbvios: se conecte com pessoas que estão inseridas no mercado de trabalho internacional, usando a experiência delas a seu favor. Alguns publicitários já estão criando organizações (como o exemplo de Elasnagringa) para facilitar a conexão de brasileiros com profissionais que estão trabalhando no exterior. Além disso, se você não possui passaporte europeu ou um green card vale pensar em expandir o leque de opções e olhar para países com uma política de visto de trabalho mais amigável. Mercados como Tokyo, Shanghai e Singapura possuem uma demanda imensa de profissionais internacionais e um grande número de vagas em aberto. Alguns sites, como Jobvite, podem te ajudar a encontrar oportunidades de emprego nesses mercados.

A jornada para uma carreira no exterior não é curta e muito menos fácil, mas é recompensadora! O importante é ter objetivos claros e nunca deixar de persistir – as oportunidades são imensas e o publicitário brasileiro é mais do que capacitado para ocupar essas vagas internacionalmente e contribuir com o seu background e experiência. Uma vez lá fora, não deixe que os desafios te derrubem, pois independente de onde você trabalhe, uma coisa nunca irá mudar: determinação, comprometimento e empenho são valorizados em qualquer lugar do mundo.

Crédito da foto no topo: Nikada-iStock

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