Aprendizados do futebol norte-americano sobre equidade

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Blog da Regina

Aprendizados do futebol norte-americano sobre equidade

O poder do futebol é massivo, e quando usado como plataforma para promoção de equidade de gênero, ainda mais da nação mais influente mundialmente do ponto de vista econômico, pode gerar um virtuoso efeito cascata


20 de maio de 2022 - 12h00

Natalie Portman fundou o Angel City FC, time de futebol feminino nos Estados Unidos (Crédito: Reprodução/Instagram)

A decisão anunciada nesta semana pela Federação Americana de Futebol (U.S. Soccer, sigla em inglês), de igualar o prêmio concedido às equipes de atletas das seleções masculina e feminina de futebol ao dividir igualmente salários e premiações, inclusive em Copas do Mundo, é histórica e tem muitas camadas de reflexão. A primeira é o ineditismo mesmo: a U.S. Soccer se torna a primeira entidade ligada à Fifa a igualar o prêmio concedido às equipes pela participação no Mundial.

A resolução surge após um longo debate entre as partes sobre o assunto, que chegou ao fim nesta semana com uma reunião de membros das seleções masculina e feminina para fecharem acordos coletivos de trabalho (CBAs) com a U.S. Soccer. Assim, os bônus para ambas equipes serão baseados em desempenhos idênticos para todos os jogos e competições. O time feminino passará a ter os mesmos pagamentos pay-to-play que seus colegas masculinos.

A premiação em dinheiro da Fifa para as Copas do Mundo masculina e feminina é desigual. O conjunto de bônus para o Mundial do Catar é de US$ 400 milhões (R$ 1,9 bilhão), enquanto o prêmio em dinheiro para o torneio feminino na Austrália, em 2023, é de US$ 60 milhões (R$ 297 milhões).

A U.S. Soccer também anunciou que parte de suas receitas será compartilhada igualmente entre as seleções. Segundo a federação, a nova estrutura de compartilhamento de receita “fornecerá incentivo adicional para que todas as partes trabalhem juntas para expandir o jogo”.

A seleção norte-americana é o time mais bem sucedido do futebol feminino mundial, tendo vencido quatro Copas do Mundo e conquistado quatro medalhas de ouro olímpicas. Algo que o time masculino nunca chegou nem perto. Ou seja, a assimetria de ganhos por lá era ainda mais escancarada do que no restante dos países com maior tradição no futebol masculino.

A decisão da U.S. Soccer, além de reconhecer o protagonismo do futebol feminino, vai impulsionar ainda mais o esporte no país. O futebol é, hoje, a modalidade esportiva que mais cresce nos Estados Unidos. A Major League Soccer, principal liga de futebol profissional do país, cresceu exponencialmente nos últimos anos: de 12 para 30 equipes (2005-2020). Entre os jovens, a realidade também é encorajadora: o futebol está entre os esportes mais praticados por ambos, meninos e meninas. Além disso, em cidades como Sacramento, capital da Califórnia, o número de jovens que jogam futebol supera o número combinado de praticantes de futebol americano, basquete e beisebol – as três maiores modalidades do país.

O desenvolvimento do futebol feminino não passou despercebido para algumas estrelas engajadas de Hollywood, que têm se tornado investidoras em alguns clubes. No final do ano passado, o Angel City FC, clube que estreou na temporada de 2022 na Liga Feminina Nacional de Futebol, exibiu seus uniformes, tendo como modelos ninguém menos que Natalie Portman, sua fundadora, Jennifer Garner e Eva Longoria.

As atrizes fazem parte do grupo que investiu no clube, primeira equipe feminina de futebol em Los Angeles em quase uma década. Além do trio, fazem parte do grupo a também atriz Jessica Chastain, a tenista Serena Williams e a ex-tenista Billie Jean King. Portman e Cia. têm planos ambiciosos para o Angel City FC. O clube anunciou que 1% das vendas de ingresso serão divididas igualmente entre suas atletas, o que ajudará a aumentar a média salarial da Liga Feminina. Além disso, quase U$ 2 milhões serão doados em conjunto com seus patrocinadores para programas comunitários e caridades ao longo dos próximos anos.

O poder do futebol é massivo, e quando usado como plataforma para promoção de equidade de gênero, ainda mais da nação mais influente mundialmente do ponto de vista econômico, pode gerar um virtuoso efeito cascata.

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