Quem tem medo de mulher CEO?
Sendo extremamente empática, dá para entender o receio de alguns homens em se relacionar com a alta liderança feminina
Sendo extremamente empática, dá para entender o receio de alguns homens em se relacionar com a alta liderança feminina
20 de setembro de 2024 - 10h57
Meu marido está na Suécia essa semana em reuniões na sede da empresa em que trabalha para encontros com o board global. Todo formado por mulheres, todas mães. Desde 1974, a Suécia passou a ser o primeiro país do mundo a instituir a licença parental de 180 dias, paga pelo Estado, independentemente de gênero. A ideia é que a licença pudesse ser compartilhada entre os casais conforme eles preferissem, oferecendo os mesmos direitos às mães e aos pais.
Desde ontem, temos trocado mensagens sobre o polêmico post de um certo empreendedor que viralizou ao escrever em suas redes a frase “Deus me livre de mulher CEO”. Os memes e as camisetas com frases parodiando esse ode à misogenia pululam aos montes.
Não somos nenhuma Suécia. Ao contrário. Por aqui, ainda batemos recordes globais de feminicídio e estupro, especialmente de meninas e adolescentes. No mundo corporativo, caminhamos a passos nem tão largos para que as mulheres ocupem cada vez mais espaços no topo das organizações.
E a divisão do trabalho doméstico está no cerne desta equação e permanece ainda como o grande desafio para que esse ponteiro mexa com mais velocidade. Em média, mulheres dedicam 10,4 horas por semana a mais que os homens aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas, segundo o IBGE.
Mas, sim, sendo extremamente empática, dá para entender o medo de alguns homens em se relacionar com mulheres CEO. Não serão os únicos protagonistas das conversas, não serão os provedores da família, terão que planejar melhor as viagens a trabalho. Ah, também não serão os únicos a serem o centro do lar.
Sim, para alguns homens, compartilhar e trocar desafios profissionais com suas esposas de igual para igual pode soar estranho. Dividir a administração e os cuidados da casa então? Imagina. É ameaçador e pode corroer o ideal do hétero top.
Voltando à Suécia. Mais de 50 anos após a entrada em vigor da lei da licença parental compartilhada, essa não é uma pauta há muito tempo. Mas, por aqui, ainda chama a atenção que a esmagadora maioria das pessoas que estão se manifestando sobre o assunto nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp sejam mulheres. Essa é uma reflexão coletiva e passa necessariamente por mudanças de padrões mentais e estruturais. Tomara que não tenhamos de esperar 50 anos para deixar de ser um assunto de conversas.
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