Armas de brinquedo sob a mira do público
Nos Estados Unidos, tragédias como a de Newtown aumentam questionamento dos pais e colocam marcas na defensiva
Nos Estados Unidos, tragédias como a de Newtown aumentam questionamento dos pais e colocam marcas na defensiva
Meio & Mensagem
7 de fevereiro de 2013 - 8h30
Enquanto o debate sobre o controle de armas esquenta nos Estados Unidos, outro, sobre as réplicas de brinquedo, vem tomando grandes proporções nos playgrounds da nação. O horror do massacre registrado em dezembro de 2012, em uma escola na cidade de Newtown, em Connecticut, fez com que os pais abraçassem a causa do controle de armas de brinquedo, banindo-os em casa, escrevendo posts em blogs e pedindo para outros pais fazerem o mesmo.
Meredith Carroll, colunista do Denver Post, é uma mãe que preferiria ver os revólveres de brinquedo fora das prateleiras do varejo, e proibiu suas crianças de brincarem com eles. “Depois de Newtown, pude articular comigo mesma que a responsabilidade começa em casa”, diz ela. “Meu marido e eu ficamos tão perturbados que pensamos sobre isso e discutimos como podemos fazer a diferença? É uma ação muito pequena em nossa casa. Mas como você inicia um movimento? Uma pessoa de cada vez”.
Carroll não está falando só sobre as armas de brinquedo, mas também em manter os jogos de vídeo game violentos longe das mãos das crianças. Ela admite que não relaciona diretamente as ações dos atiradores de Newtown aos vídeo games, mas acredita que os jogos, junto com armas de mentira, contribuem para “uma cultura de violência”. Ela não está sozinha. Distritos escolares pelo país também estão tomando providências suspendendo meninos que “atiraram” em colegas de sala com os dedos. Uma menina de cinco anos da Pensilvânia foi suspensa por falar em atirar nos colegas e nela mesma com sua pistola cor-de-rosa da Hello Kitty.
Para os fabricantes de brinquedos, este é um cenário ligeiramente familiar: em 1968, a Sears & Roebuck retirou todas as pistolas de mentira de seu catálogo anual após os assassinatos de Martin Luther King Jr. E Robert F. Kennedy. Além disso, pais e ativistas têm se manifestado contra as armas de brinquedos durante muitos anos. John Frascotti, CMO da Hasbro, que faz os brinquedos Nerf, afirma que “a Nerf apoia a brincadeira ativa e a diversão. Se você perguntar às crianças, elas entendem que são apenas brinquedos. Entendem que é brincadeira e diversão. Acho que tentar confundir isso e misturar com um monte de outras coisas nesse discurso político pode ser algo ruim”.
Quando questionado se a Hasbro foi contatada com mais frequência por pais contra armas de brinquedo depois do tiroteio em Newtown, ele respondeu: “Não, não muito”. A Toy Industry Association (Associação da Indústria de Brinquedos) concordou e emitiu um comunicado. “Os próprios brinquedos não promovem comportamento agressivo. Não são brinquedos violentos ou não-violentos. Com frequência, itens militares podem ajudar as crianças a perceber o que está acontecendo no mundo à volta delas através da brincadeira, ao invés de um comportamento agressivo”, defendeu a associação, no documento. Psicólogos e alguns professores, de fato, pensam de forma parecida.
“Culpar as armas de brinquedo pela violência de homens adultos ou tiroteios em massa desafia o senso comum. Banir as pistolas de brinquedo seria enganoso, tolo e até ilusório. Não teria nenhum impacto sobre a taxa de violência adulta. Garotos saudáveis sabem a diferença entre brincar e realmente ferir alguém”, afirma Michael Thompson, autor de Raising Cain: Protecting the Emotional Life of Boys. “Brincar de jogos heroicos de caçar-e-perseguir é algo que os garotos sempre fizeram. Eles usam pedaços de pau e bolas e fazem disso suas armas de mentira. Isto representa o melhor dos meninos: o desejo deles em serem fortes, heroicos e de defender o que é certo, protegendo suas casas e enfrentando vilões”.
Proibir esse tipo de brincadeira não é uma boa ideia, pensa Jane Katch, professora e autora de Under Deadman’s Skin: Discovering the Meaning of Children’s Violent Play. Em seus muitos anos ensinando crianças, ela descobriu que brincadeiras como essas estão mais associadas à curiosidade para descobrir as coisas, ou sentir como é ser o herói ou até mesmo a vítima. Ela e Thompson concordam que não há estudos e evidências que liguem brincar com armas de brinquedo a atos de violência real. “As crianças deveriam estar brincando – isso também as ajuda com as habilidades sociais que sabemos ajudar a prevenir a violência”, explica Katch. “O estranho, para mim, é que a mídia a qual expomos as crianças é violenta e assustadora, então ao mesmo tempo estamos proibindo-as de extravasar. A implicação de que você vai crescer e atirar nas pessoas é simplesmente ridícula”.
As armas de brinquedo de hoje já são rigorosamente reguladas pelas leis federais e estaduais americanas, pelas quais os brinquedos devem ser feitos em cores diferentes das armas reais, como amarelo, verde ou roxo ou ter uma faixa laranja, de acordo com Jim Silver, editor da revista online Time to Play. Os revólveres de brinquedo são uma categoria real de produtos, e são bastante diferentes dos Nerfs ou os Xploderz da Maya Group, disse Silver. As verdadeiras armas de brinquedos incluem as realistas armas Airsoft e Hunter Dan, por exemplo, que pela lei só podem ser vendidas para adolescentes a partir dos 14 anos na seção de armas esportivas, longe dos brinquedos, explica.
A Nerf e outros fabricantes de pistolas de espuma e água provavelmente não enfrentarão nenhum boicote ou proibição de fato. Silver apontou que na Inglaterra, que possui uma das leis de porte de armas mais rigorosas do mundo, as armas Nerf são extremamente populares e bem aceitas. Embora a maioria das empresas de brinquedo não tenha divulgado resultados ainda, ele acredita que as vendas de armas de brinquedo não foram afetadas nas últimas férias.
A Hasbro, principal marca, teve vendas de US$ 410 milhões em 2011. Marc Rosenberg, CEO da SkyBluePink Concepts e veterano anunciante de brinquedos observou que essa não é uma questão fácil para os fabricantes, especialmente no cenário atual. “A chave é permitir a brincadeira sem glorificar a arma”, diz ele. “Banir pistolas de água seria exagerado, e não acho que isso acontecerá. Às vezes o bom senso leva apenas um pouco de tempo para se revelar”.
Do Advertising Age
Tradução: Isabella Lessa
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