Como as denúncias de condições de trabalho afetam a imagem do Lollapalooza?
Profissionais avaliam que situações que envolvem o trabalho de empresas terceirizadas deveriam ser acompanhadas e tratadas com mais rigor
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Bárbara Sacchitiello
24 de março de 2023 - 15h55
Nesta sexta-feira, 24, e também no sábado, 25 e domingo, 26, a cidade de São Paulo recebe a décima edição do Lollapalooza Brasil. Um dos maiores festivais de música realizados no País, o evento terá a participação de artistas como Billie Eilish, Lil Nas X, Twenty One Pilots, Ludmilla e dezenas de outros nomes do cenário nacional e internacional.
Dois dias antes do festival começar, contudo, veio à tona uma notícia que sai do universo da música e do entretenimento. Na quarta-feira, 22, em uma vistoria feita em Interlagos, no local do evento, o Ministério do Trabalho encontrou cinco pessoas que trabalhavam para a Yellow Stripe, empresa contratada pela organização do Festival que estariam em condições análogas à escravidão. A notícia foi dada pela ong Repórter Brasil.
De acordo com o Repórter Brasil, o MPT apurou que os trabalhadores dormiam em colchonetes e papelão e não eram autorizados a sair do local do evento. A T4F, responsável pela Lollapalooza e a Yellow Stripes, responsável pela operação dos bares no festival, foram notificadas.
Após a repercussão do fato, a T4F disse que a Yellow Stripe descumpriu o contrato e que, por isso, rescindiu a parceria com a empresa. “Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas.”, diz um trecho do comunicado da T4F.
Com bastante repercussão na mídia pelos artistas que consegue reunir e pela grande quantidade de marcas patrocinadores que atrai, o Lollapalooza – e seus organizadores – tiveram que lidar com essa denúncia na semana da realização do evento e em um momento em que outras notícias de condições de trabalho análogas à escravidão vem sendo denunciadas na mídia.
Em fevereiro, uma operação também coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego resgatou mais de 200 trabalhadores da empresa Oliveira & Santana, no Rio Grande do Sul. A empresa era prestadora de serviços das vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi.
Posteriormente, as três vinícolas envolvidas no caso fizeram um acordo de R$ 7 milhões com o MTP e se comprometerem a reavaliar as políticas de contratação de serviços terceirizados. Parte desse valor também foi destinado ao pagamento de indenizações aos trabalhadores resgatados.
Na opinião de Dario Menezes, diretor executivo da Caliber, é triste ver o aumento de casos similares e o script, segundo ele, acaba sendo o mesmo: as empresas envolvidas alegam desconhecimento das condições de trabalho a que terceirizadas submetiam as pessoas e rompem os contratos.
No caso do Lollapalooza, Menezes acredita que um episódio como esse mancha a percepção do festival. “Enquanto o Rock in Rio/ The Town tem na sustentabilidade um dos seus pilares de marca do festival, o que compõe a marca do Lolla? Não basta parecer moderno. Tem que ser contemporâneo”, pontua. O profissional acredita que essa denúncia terá repercussão para as marcas patrocinadores e também para o line-up do evento.
Já Marcos Bedendo, professor de branding da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), acredita que, embora tenha sido divulgada na mídia, a denúncia não teve grande destaque a ponto de se sobrepor às notícias sobre as atrações do festival, o que deve fazer com que o tema seja rapidamente esquecido.
Bedendo também alerta que essas denúncias de más condições de trabalho, embora chamem a atenção, acabam não resultando em consequências diretas para os negócios das marcas envolvidas. O professor diz, também, que embora diversas pesquisas apontem que a Geração Z é preocupada com o papel social e a postura das marcas, isso não é cobrado, ao menos não de forma contundente, em situações como essas.
“Pelo o que avaliei até este momento, não vi uma grande manifestação sobre essa situação do Lollapalooza, o que é uma pena. As pessoas parecem mais interessadas nos shows e nas atrações do que em relação à montagem do palco ou em como aquelas bebidas chegarão até elas. O evento deve começar e as notícias das apresentações deverão se sobrepor ao ocoriddo”, acredita Bedendo.
No comunicado que divulgou a respeito do assunto, a T4F disse que, para realizar um evento do tamanho do Lollapalooza Brasil, que ocupa 600 mil metros quadrados do autódromo de Interlagos e estima receber um público de 100 mil pessoas, é demandada uma grande estrutura.
“O evento conta com equipes que atuam em diferentes frentes de trabalho, em departamentos que variam da comunicação a operação de alimentos e bebidas, da montagem dos palcos a limpeza do espaço e a segurança. São mais de 9 mil pessoas que trabalham diretamente no local do evento e são contratadas mais de 170 empresas prestadoras de serviços”, disse a companhia, em nota.
Conseguir gerenciar toda essa grande operação, obviamente, não é uma tarefa simples. Mas, segundo Dario Menezes, as empresas devem ter mecanismos não apenas para contratar pessoas e outras empresas terceirizadas, mas para fiscalizar e garantir a atuação correta.
“Só que fazer de maneira correta custa sempre mais caro. É fato. Pagar impostos, seguro, garantir proteção individual e coletiva adequada custará mais caro do que quem faz de forma errada. Cabe às marcas patrocinadoras aprenderem com mais esse evento e tomarem as precauções necessárias”, sugere.
O professor da ESPM também reforça que, em casos semelhantes, as respostas da empresas organizadoras costumam ser padronizadas, sempre atribuindo à responsabilidade às terceirizadas e rompendo seus contratos. “Não poderia ter sempre, entre os funcionários das organizadoras, uma equipe da produção acompanhando as condições de trabalho e todo o processo antes da chegada do Ministério do Trabalho? Se há tantas pessoas trabalhando na montagem, algumas não podem acompanhar o dia a dia para ver se as condições do contrato estão sendo seguidas?” sugere.
A edição deste ano do Lollapalooza Brasil conta com 19 marcas parceiras e apoiadoras, que aproveitarão os três dias de festival para fazer ações com o público e divulgar seus produtos e serviços.
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