“Exponencial é matemática, não adjetivo”
Conrado Schlochauer, um dos fundadores da Affero Lab e responsável pelo capítulo São Paulo da Singularity, fala sobre o interesse dos brasileiros pela metodologia da instituição
Conrado Schlochauer, um dos fundadores da Affero Lab e responsável pelo capítulo São Paulo da Singularity, fala sobre o interesse dos brasileiros pela metodologia da instituição
Luiz Gustavo Pacete
6 de fevereiro de 2018 - 6h00
Criada em 2009, no Vale do Silício, a Singularity University virou a queridinha de profissionais ao redor do mundo e vem ganhando cada vez mais a atenção de brasileiros. Pelos seus seminários e cursos, que podem chegar a até US$ 15 mil, já passaram empresários como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, do fundo 3G, além de apresentadores como Luciano Huck. No meio publicitário, vários profissionais já estiveram nos treinamentos da instituição.
No Brasil, a Singularity atua em formatos de capítulos em São Paulo, Recife, Porto Alegre, Brasília e Uberlândia. E, por meio de uma parceria com a HSM, braço de educação executiva da Anima, deve ter sua unidade aqui até 2019. O capítulo São Paulo já tornou-se o maior o mundo com 579 membros. Recife vem em segundo lugar com 577.
De acordo com Conrado Schlochauer, cofundador da plataforma de ensino corporativo Affero Lab e responsável pelo capítulo São Paulo da Singularity, o último ano foi crucial no aumento do interesse dos brasileiros pelos cursos da entidade.
“As pessoas não estão entendendo o que está acontecendo e essa busca está gerando novas formas de disseminação de conhecimento”, diz Conrado. Segundo ele, o aumento na oferta de treinamentos e eventos focados em experiência, possui o mérito de atrair grandes grupos de pessoas. “No entanto, é muito mais sobre forma do que profundidade”, afirma. Ele reforça que o conceito de exponencial, cada vez mais utilizado, sobretudo alinhado à inovação, se não for bem interpretado, pode ser banalizado. “Exponencial é matemática, não adjetivo”, afirma. Ao Meio & Mensagem, Conrado fala sobre os desafios da educação e como as mudanças atuais estão influenciado a forma de se fazer negócios e de criar.
“Eu acho as iniciativas de aprendizagem criativas superlegais. Mas elas são muito tradicionais ainda”
Meio & Mensagem – Muito se fala em era exponencial e disruptiva, que momento é esse que estamos vivendo?
Conrado Schlochauer – O mundo, de uma maneira geral, e especificamente nos negócios, vive uma transformação que tem relação com o fácil acesso à tecnologia. Em meio a essa mudança, tem uma galera que veio, nos últimos trinta anos, de um modelo tradicional. Há alguns anos, ter um servidor consistia em comprar a máquina, pagar caro para instalar e ter a certeza de que ia dar pau. Hoje, você vai na Amazon e paga alguns dólares, pronto. Está mais fácil e mais barato. É possível errar barato hoje, antes não dava para errar barato. O ethos de fazer negócio é impactado pela tecnologia. Mas não é só tecnologia, é jeito de pensar, é o mindset digital. Essa mudança faz com que seja necessário reorganizar sua maneira de pensar. É muito difícil porque sempre foi feito do mesmo jeito.
M&M – Qual o papel do marketing e das marcas neste contexto?
Conrado – Quando muda o consumidor, mudam todas as formas e dinâmicas de comunicação. As marcas estão descobrindo como vestir essa roupa nova, e tá foda! Não tá fácil. Vivemos o modelo da verdade absoluta. E o marketing antigo baseado em “aspiracional” é cada vez menos aceito. Se a marca fizer uma merda vai aparecer de forma clara. O olhar de publicitário é cada vez mais de um sociólogo. Mais importante do que entender de SEO, ou qual a tecnologia e o novo canal, é saber quem é o novo consumidor. E esse novo momento gerou a necessidade da simplicidade e da verdade.
“Não dá para ficar oferecendo conteúdo na expectativa de que um dia ele será útil. Se você não utilizar agora, dificilmente vai utilizar daqui a dois anos”
M&M – Existe uma moda de formas de aprendizagem disruptivas?
Conrado – Eu acho as iniciativas de aprendizagem criativas superlegais. Mas elas são muito tradicionais ainda, 80% delas consistem em um jeito diferente, descolado, cenográfico. Tem o marketing, que não é ruim, você atrai muita gente. Não é à toa que muitas das escolas hoje vieram de publicitários. A Laje veio da Ana Couto, o Thiago, da Fractal, é publicitário. Eles são ótimos, mas a principal mudança é de formas de apresentar. O aprendizado é explicitar conhecimento por meio de performance melhorada. Tem de atacar um problema e melhorar. E o modelo é de dar conteúdo da melhor maneira possível. A transferência é o mais importante. Imagine que você vai fazer um curso de design thinking, até você fazer uma reunião na sua empresa, não sei se você aprendeu o que é design thinking. Precisamos de apoio para transferir. Tem de juntar profundidade e prazer.
M&M – Qual o desafio de processo de aprendizado neste contexto?
Conrado – Não dá para ficar oferecendo conteúdo na expectativa de que um dia ele será útil. Se você não utilizar agora, dificilmente você vai utilizar daqui dois anos. Aprendizado é diferente de adquirir conhecimento. Não dá para competir com a internet e as redes em oferta de conhecimento. Faz outra coisa, não oferece mais conhecimento. As pessoas não buscam educação, elas estão buscando aprendizado. Eu valorizo a tentativa. Não fazer nada é pior que fazer errado. O que chamamos de inovação aberta, trazer faculdade, montar uma aceleradora são iniciativas válidas, mas não podemos esquecer de que tem uma cultura, um processo, uma forma comercial que se você vai fazer a transformação você precisa estar nela também.
Compartilhe
Veja também
Azzas 2154 reduz portfólio e elimina Dzarm, Alme e Reserva feminina
Holding de moda, vestuário e calçados afirma ter concluído revisão do portfólio e tomado a decisão com foco de “melhorar a alocação de capital”
Coqueiro transforma lata de atum em caixa de som
Marca de peixes enlatados da Camil Alimentos usa humor para esclarecer fake news sobre suas embalagens transferirem metais pesados para os pescados