Novos tempos: Feira Preta apresenta reposicionamento na edição de 2024
Data e formato são algumas das mudanças do evento no próximo ano, explica Adriana Barbosa, CEO da PretaHub, idealizadora da feira
Novos tempos: Feira Preta apresenta reposicionamento na edição de 2024
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Caio Fulgêncio
12 de setembro de 2023 - 6h00
Com o tema “Ser feliz é a nossa revolução”, a Feira Preta passará por uma série de mudanças na edição de 2024, que inclui nova data e formato. Dessa forma, o festival – que ocorria tradicionalmente em novembro, mês da consciência negra – ocorrerá nos dias 3, 4 e 5 de maio. Já o local saiu do Memorial da América Latina para o Parque do Ibirapuera, também em São Paulo.
Outra mudança é que o modelo da edição é “freemium”, com espaços gratuitos e pagos. A programação contará com atrações musicais, áreas de empreendedores, gastronomia, talks e ativações de marcas. Ao todo, serão em torno de 100 expositores das mais diversas regiões do País, cujo processo de inscrição deve começar neste mês. Com isso, a estimativa é que o evento movimente R$ 16 milhões.
Segundo Adriana Barbosa, CEO da PretaHub e idealizadora do evento, as mudanças foram definidas após o negócio passar pela metodologia da Mesa Company. Em maio, o método – que junta vários especialistas do mercado em busca de resolução de problemas empresariais – resultou no novo posicionamento da feira, ou seja, como um festival de impacto social.
Ao Meio & Mensagem, Adriana falou sobre os motivos do reposicionamento e quais os planos para 2024, que marca o aniversário de 22 anos do evento. Até o momento, a edição conta com a parceria e participação do Mercado Livre; Pepsico, com Doritos; e Unilever, com Seda. A organização pretende divulgar o lineup dos artistas no mês de novembro.
Ao longo de pouco mais de duas décadas de história, a Feira Preta reuniu um público de 250 mil pessoas, 7 mil artistas, 3 mil empreendedores do Brasil e América Latina. No formato online, em 2020 e 2021, por causa da pandemia da Covid-19, foram mais de 65 milhões de views.
Meio & Mensagem – Qual o motivo do reposicionamento?
Adriana Barbosa – Desde 2017, quando a feira completaria 18 anos, já olhávamos um pouco para a perspectiva de futuro. Em 2024, efetivamente, entraremos em um futuro ligado à felicidade. É como se pudéssemos dar um salto quântico em relação ao que fizemos nos últimos 20 anos. A feira acompanhou os processos de transformações culturais, sociais e econômicas do País, tendo a questão racial na centralidade dessas relações. O processo da MESA nos ajudou a tangibilizar o nosso desejo de mudança, de nos projetar para o futuro, a partir da fotografia que temos do presente. Junto com vários outros movimentos de direitos civis, a feira contribuiu muito no processo de identidade racial do povo negro. Por isso, o tema está ligado à perspectiva de que, obviamente, a luta se mantém, o racismo não acabou, mas que também queremos transcender, queremos ser felizes.
M&M – Na prática, quais as reais mudanças no festival?
Adriana – A principal delas foi mudar de novembro para maio. Lá atrás, foi uma aposta pautar o mês de novembro, para que fosse um período em que as questões raciais estivessem em evidência. Agora, abrimos mão e trouxemos uma provocação para o mercado, de que a população negra não pode ser vista apenas em um único mês. Maio é a abolição da escravatura, que não celebramos, mas ressignificamos ao levar em consideração toda intelectualidade de quem que chegou ao Brasil na condição de escravizada. Há uma construção importante para o que é o Brasil de hoje. Então, queremos trazer essa narrativa de potência, do legado intelectual trazido para o País. Sobre o local, o Parque do Ibirapuera, que comemora 70 anos em 2024, é um território com uma história indígena que também precisamos trazer à tona. A escolha passou um pouco por isso. É um espaço que tem várias simbologias.
M&M – Como a feira contribuiu nos últimos anos para que as marcas se atrelassem mais à pauta racial?
Adriana – Há 20 anos, era muito difícil ver a questão racial atrelada às marcas. Havia uma perspectiva de filantropia, mas não de relação. De lá para cá, obviamente, foram muitos altos e baixos. Demorou muito para o mercado olhar a população negra enquanto consumidora. O Instituto Feira Preta foi construindo isso ao longo dos anos, não só com o evento em si, mas com iniciativas que provocaram as empresas de que elas estavam perdendo oportunidade de olhar para essa parcela. Então, não foram decisões intuitivas, mas foram estratégicas mesmo, com foco na amplitude do mercado em relação ao nosso consumo. Ao mesmo tempo, ao perceber que o mercado não nos via, apostamos no empreendedor negro, na criação de produtos e serviços para atender à demanda. O ponto de partida para maquiagem e produtos de cabelo, por exemplo, não veio de grandes marcas, mas de pequenos empreendedores.
M&M – Nesse sentido, como as marcas participam da realização da Feira Preta?
Adriana – Não queremos só a visibilidade das marcas, mas as trazemos para uma corresponsabilidade no entendimento de quem é esse público. Em outras palavras, não é só aplicação de logomarca ou uma ativação, mas estar junto conosco nesse processo. Não gosto da perspectiva de oferecer produto para a população preta, porque ela é tem poder de consumo, sem entender quem nós somos e qual é o nosso ponto de partida. Por isso, a estratégia é construir junto e viver as complexidades dessa relação. Se construída de forma genuína, haverá resultados de longo prazo. E isso passa por business, publicidade, ESG e impacto social. Não é algo só comercial.
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