Assinar

Fifa deu direitos a Fox para evitar ação judicial

Buscar

Fifa deu direitos a Fox para evitar ação judicial

Buscar
Publicidade
Marketing

Fifa deu direitos a Fox para evitar ação judicial

Documento sugere que entidade prorrogou contrato com emissora por ter mudado a Copa do Mundo do Catar para o período do inverno do hemisfério norte


29 de junho de 2017 - 8h00

(*) Por Anthony Crupi, do Advertising Age

(Crédito: reprodução – Tam Nguyen)

Seja por meio da incompetência ou da corrupção, quando a Fifa concedeu ao Catar os diretos de sediar a Copa do Mundo de 2022, isto efetivamente custou milhões em futuros direitos de TV e garantiu lucro a Fox e a Telemundo na Copa de 2026. Segundo um documento divulgado na terça-feira, 27, a entidade máxima do futebol assume tudo,  menos a entrega de direitos da Copa de 2026 para evitar seu arrastamento ao tribunal pela Fox.

Em inquérito a respeito da disputa pelo direito de sediar a Copa do Mundo de 2018 e 2022, as 353 páginas, oferecidas pela Fifa, garantem algumas informações sobre os eventos de fevereiro de 2015, quando foi prorrogado seus negócios de TV, nos Estados Unidos, com Fox e Telemundo, em um leilão fechado. Na mesma época, suspeitava-se que a Fifa tinha concedido as prorrogações dos acordos a uma taxa de barganha para apaziguar a Fox, que ficou furiosa pela escolha de Catar como país anfitrião e pela necessidade de mudança da Copa do Mundo de 2022 do verão (no hemisfério norte) para o outono. Na realidade, a generosidade de Fifa foi a alternativa que encontrou para evitar um empecilho jurídico ainda mais caro.

Alguns problemas
Na página 293 do documento, Michael J. Garcia, ex-presidente do Comitê de Ética da Fifa, diz que a probabilidade de ter que reprogramar a Copa do Mundo de 2022 (a temperatura média do verão no Catar é 41 graus Celsius) provou ser um motivo de disputa para Fox e Telemundo.

“Os parceiros de TV, nos Estados Unidos… tiveram alguns problemas, porque haveria um choque com a temporada do futebol americano”, disse Garcia. “Por esta razão, foi acordado a extensão do contrato com a Fox em troca de um compromisso de não agir contra a Fifa, caso a Copa do Mundo de 2022 fosse transferida para o inverno (do hemisfério norte)”.

Em outras palavras, a Fox concordou em não arrastar a Fifa para o tribunal, em troca da ampliação, que foi assinada por uma fração do contrato original de US$ 425 milhões (esse pacote inicial incluiu a Copa do Mundo Feminina de 2015 e 2019 e o torneio masculino de 2018 e 2022). Se as coisas acontecessem de acordo com o plano e a América do Norte ganhasse o direito de sediar a Copa do Mundo de 2026, a Fox pagaria à Fifa uma taxa bônus cujo valor não revelado.

O documento cita Jerome Valcke, ex-secretário geral da Fifa, falando ao Conselho de Investigação, que, em troca da disposição da Fox aceitar o reagendamento da Copa do Mundo de 2026, “concordamos em estender com a Fox, pelo mesmo preço que ela pagará pelo campeonato de 2022, mais custos de inflação”.

Mesmo com o desembolso de bônus, a extensão provavelmente valerá cada centavo. Não só a Fox desfrutará de uma grande vantagem de classificação, se a Copa do Mundo de 2026 for realizada em seu próprio quintal (o plano é o Canadá e o México receberem dez partidas cada, com os Estados Unidos hospedando as 60 restantes, incluindo todas as partidas a partir das quartas de final), como também terá muito mais inventário de anúncios para vender. De acordo com a ampliação da Copa do Mundo de 32 a 46 seleções, o número de partidas que a Fox transmitirá em 2026 saltará 25%, partindo de 64 para 80.

Os jogos extras devem contar com os executivos de vendas de publicidade da Fox e Telemundo sonhando com um lucro inesperado do futebol. A ESPN gerou cerca de US$ 530 milhões em receita de publicidade com a cobertura da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Com esta base de comparação, é possível imaginar a Fox conseguir cerca de US$ 675 milhões em vendas.

Por sua vez, a Fifa reconheceu mudar o calendário por conta da Copa do Catar custará dinheiro. Segundo os dizeres de Valcke no relatório, ao reprogramar a Copa do Mundo, “estamos perdendo dinheiro e estamos ganhando menos, porque não estamos executando um processo de licitação aberto no mercado norte-americano. Estamos apenas estendendo com a Fox pela mesma quantidade de dinheiro”.

Futebol versus futebol
Que a Fifa nunca pensou sobre a questão do verão do Catar seria uma piada se não implicasse que esta nação tão rica em petróleo tivesse que subornar seu caminho até uma proposta vencedora. Na página 294, Garcia observa que “parece ter uma falha, quando consideramos a questão da temperatura no Qatar, antes da votação para premiar os diretos de hospedar a Copa”.

A mudança de verão para outono deixa a Fox com um conflito de agenda, uma vez que várias partidas da Copa do Mundo, provavelmente, interferirão em suas transmissões da NFL. E, enquanto a Fox pode mover os jogos que se acumulam no Fox Sports 1, não há como evitar um conflito de quando uma partida final se inicia, a menos que a Fifa a mova de seu tradicional intervalo de domingo.

De qualquer forma, por toda a fragilidade encontrada no inquérito da Fifa, isto não é nem um pouco, em última estância, uma admissão de transgressão e nem uma prova concreta. O próprio relatório tem sido fundamental na remoção de vários atores ruins da organização.

Porém, se o inquérito não provar que os direitos da Copa do Mundo de 2022 foram negociados por corruptos, o completo desleixo da cultura de Fifa é difícil de não notar: o relatório de Garcia exclui, essencialmente, a história de um depósito anônimo de £ 2 milhões que foram encontrados na conta bancária da filha de dez anos de um ex-diretor da Fifa, sugerindo que a transferência era mais um desvio de taxas do que suborno.

De particular interesse aos fãs de futebol dos Estados Unidos, um documento, divulgado também na terça-feira, 27, limpa a Federação de Futebol do país de qualquer ato ilícito em sua candidatura como sede para a Copa do Mundo de 2022. Depois de progredir em três etapas do processo, ultrapassando as propostas do Japão, Coréia e Austrália, os Estados Unidos perderam a rodada final para o Catar, por um recorde de 14 votos a oito.

Tradução: Victória Navarro

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também