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Opinião: Cabeça-feita

A questão ?dedicação integral ao trabalho? não me convence. Disciplina é importante, mas, se você tem profissionais bons de verdade, a dinâmica instala-se naturalmente


27 de agosto de 2013 - 2h29

(*) Paula Nader

 “— Compra o livro dos caras do 3G.
— Que caras do 3G?
— Os caras da Ambev. 3G é o nome do fundo deles que compra tudo.
— Ahn… Alguém me falou do livro… Mas por que você gostou?
— Tá bem escrito. É de uma jornalista que era editora da Exame. E a história dos caras é muito bacana. Tem boas lições lá, mesmo não sendo muito fã do estilo de gestão deles.”

Depois de receber essa carta de recomendação em forma de mensagens de SMS de um amigo que sempre me dá dicas preciosas, decidi ler Sonho Grande, em que a jornalista Cristiane Correa conta como Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles construíram seu império.

Além da relação entre os três, o fator fundamental parece ter sido a capacidade que eles tiveram de criar e manter uma cultura baseada em três pontos: meritocracia, austeridade e dedicação integral ao trabalho.

Os dois primeiros me soam muito bem.

Porque acredito que os melhores merecem ganhar mais (e o que define os melhores são metas bem estabelecidas, algo difícil de fazer, mas que garante que a agenda do negócio estará acima das questões políticas e das intenções pessoais).

E também acredito que evitar desperdício de recursos — dinheiro, tempo ou o que quer que seja — é a questão contemporânea que está diferenciando as empresas que vão estar aqui para contar essa história das que não sobreviverão.

Mas a questão da dedicação integral ao trabalho não me convenceu. Vai contra tudo o que experimentei. E me parece paradoxal à meritocracia e à austeridade.

Voltei a pensar nisso porque são oito da noite de uma segunda-feira e, ao notar que 99% da minha equipe já foi embora, tenho vontade de comemorar. Afinal, passamos alguns anos trabalhando para que isso acontecesse, buscando colocar as pessoas certas no lugar certo, com objetivos claros que permitam que- cada indivíduo dê sua melhor contribuição para nossa marca e receba em troca reconhecimento, realização e experiências que tornarão seu currículo mais robusto (e, portanto, mais valioso).

Produzimos riqueza a partir de ideias, e produzimos ideias a partir do repertório que vamos construindo ao longo da vida. E a vida acontece no trabalho, em casa, no caminho, na atividade intensa e no ócio absoluto.

Não estou pregando uma maluquice completa. É óbvio que disciplina é importante no trabalho, porque o trabalho é, na maioria das vezes, parte da vida coletiva. Mas, se você tem profissionais bons de verdade ao seu redor, a dinâmica disciplinada se instala naturalmente, sem que alguém tenha de impor um padrão rígido de comportamento.

Claro que sempre existem projetos que demandam muito mais tempo do que o normal – ou porque são mais complexos, ou porque estão dando errado ou, melhor, porque são um sucesso absoluto. Sou sempre a favor de dedicar o tempo necessário para que as coisas saiam como devem.

Mas sou a favor mesmo é de buscar projetos que façam a sua cabeça muito mais do que o normal. Porque é aí que ninguém vai precisar te dizer se o certo é trabalhar mais ou menos.

¿Que te parece?

Em tempo: o livro está realmente muito bem escrito, o que deixa o conteúdo ainda mais interessante e permite que você dedique pouco tempo para ler do começo ao fim. Recomendo.

(*) Paula Nader, diretora de marca e marketing do Santander, escreve para Meio & Mensagem como colaboração. O artigo está publicado na edição 1574, de 26 de agosto

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