Sustentabilidade: como o varejo de moda está reaproveitando tecidos?
Executivos da Renner, C&A e Riachuelo contam as iniciativas, metas e desafios da sustentabilidade no varejo de moda
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Carolina Huertas
25 de outubro de 2022 - 6h00
Dados do ModaComVerso, movimento liderado pela ABVTEX, apontam que 76% dos consumidores mostram-se dispostos a pagar um pouco a mais em produtos de empresas comprometidas com causas socioambientais. Junto a isso, 48% dos entrevistados afirmam preferirem produtos de empresas que apoiam causas. Pautadas pelo interesse do consumidor em produtos mais sustentáveis e a importância crescente do ESG para os negócios, a sustentabilidade do varejo de moda vem crescendo. Assim, as marcas vêm apostando em projetos de reaproveitamento de tecido como um dos seus pilares.
“Cumprimos, por um lado, a missão social de democratizar o acesso à moda, mas, por outro, produzimos grande volume de têxteis. Por isso, estamos comprometidos há anos com o uso de matérias-primas mais sustentáveis e com a economia circular”, diz Cyntia Kasai, gerente executiva de ESG da C&A Brasil.
Para auxiliar os consumidores a destinarem seus produtos que não desejam mais, algumas varejistas atualmente possuem sistemas de coleta em suas lojas. Para um serviço de logística reversa pós-consumo, a Renner possui desde 2011 o EcoEstilo, que já reuniu mais de 10 toneladas de peças de roupas em desuso, destinadas para reciclagem, onde foram submetidas a processos de desfibragem, reutilização ou doação.
Do mesmo modo, a C&A implantou em 2012 o Movimento ReCiclo, onde as peças em boas condições são doadas a instituições parceiras e as que não têm mais condições de uso são encaminhadas para reciclagem, desde o lançamento, a marca afirma que mais de 165 mil peças foram arrecadadas. E a Riachuelo criou em 2020 o programa “Moda que Transforma”, dando uma segunda vida a 86% das peças e destinando o restante à reciclagem.
Diante do crescente interesse à questão, as marcas precisaram avançar na pauta. Deste modo, a Renner começou a comercializar peças com menos impacto ambiental em 2018 e lançou o selo Re para a identificação destes produtos e serviços. O projeto envolve o reaproveitamento de resíduos gerados pela cadeia de fornecimento, das sobras têxteis jeans, malha, entre outros.
Fernanda Feijó, diretora de estilo da lojas Renner, conta que mais de 80% dos itens de vestuário da marca já são menos impactantes e 100% dos jeans vendidos já apresentam algum tipo de atributo sustentável. Neste mês, em parceria com a designer uruguaia Agustina Comas, a marca lançou também a quinta coleção Re Jeans. Ela é a primeira feita exclusivamente com a técnica de upcycling, a partir do reaproveitamento de peças em desuso e de amostras de tecido.
“É possível perceber como a Renner e nossos fornecedores estão evoluindo juntos com esse processo. Toda mudança que fazemos relacionada à economia circular e à sustentabilidade passa por eles, não fazemos nada sozinhos. Por isso, reforçamos a agenda de desenvolvimento desses stakeholders para incluir temas relacionados à sustentabilidade”, diz Fernanda Feijó, diretora de estilo da lojas Renner.
Já a C&A, lançou em 2021 o ‘jeans circular’ em parceria com a Cotton Move, proveniente do reaproveitamento de peças coletadas nas urnas e sobras da produção. A marca criou também coleções certificadas de economia circular, que consistem em métodos nos quais as fibras que podem ser recuperadas na parte final do ciclo de consumo, sendo reutilizadas ou recicladas em roupas novas ou outros produtos.
No mesmo sentido, a Riachuelo possui uma parceria com o IPT para descobrir uma nova fibra a partir dos resíduos têxteis das fábricas. Além de um hub de inovação em circularidade para encontrar soluções para fechar o circuito quando se trata de reciclagem têxtil.
Diante das novas propostas, Fernanda aponta que um dos maiores desafios da sustentabilidade no varejo de moda é achar o padrão dentro da irregularidade. Ou seja, fazer um garimpo do material dentro do fornecedor e estabelecer parâmetros.
“Nós selecionamos e catalogamos o material para que seja possível achar as semelhanças dentro dessas irregularidades. Assim, ao invés de as peças irem para o descarte, viram material para o desenvolvimento de novos produtos. Outro ponto de atenção é a fase de corte, em que é necessário o desenvolvimento de técnicas para otimizar este processo. Pois estamos partindo de peças já existente ou pequenos pedaços de tecidos irregulares, muito diferente do processo de produção tradicional”, conta.
Para desenvolver a pauta de modo contínuo, as varejistas têm estabelecido metas de sustentabilidade ao logo do tempo. Anteriormente, em 2016, a Lojas Renner construiu sua primeira estratégia de Moda Responsável. Consequentemente, em 2018, a marca anunciou o primeiro ciclo de compromissos públicos de sustentabilidade. Em 2021, o ciclo encerrou com 81,3% de produtos com selo Re – Moda Responsável como um dos resultados.
Dando continuidade, em 2022, a marca lançou um novo ciclo de compromissos públicos de sustentabilidade até 2030. Como ele, a companhia pretende incorporar princípios de circularidade no desenvolvimento de produtos, serviços e modelos de negócio. Além de investir no desenvolvimento de matérias-primas têxteis circulares e regenerativas, garantindo 100% das principais matérias-primas mais sustentáveis até essa data.
Sob o mesmo ponto de vista, a C&A aprovou uma nova plataforma de compromissos 2021-2030 que foi estruturada em três grandes pilares de atuação: unir e inspirar os stakeholder; renovar & restaurar os recursos naturais; e inovar e liderar no setor, atuando com transparência, integridade e responsabilidade social.
Como resultado, a companhia traça uma série de objetivos para cumprimento até 2030. Entre estes: 80% das matérias-primas principais devem ser de origem sustentável, inclusão dos princípios de circularidade em 50% dos produtos na forma como são projetados, produzidos ou reutilizados e substituição de 50% do plástico de uso único por alternativas mais sustentáveis.
Já a Riachuelo possui uma meta pública na redução de 30% na emissão de gases de efeito estufa. Junto ao avanço na utilização de matérias-primas mais sustentáveis para ofertar produtos igualmente mais sustentáveis.
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