Audiência cobra responsabilidade em conteúdo infantil
Polêmica envolvendo o canal “Bel para Meninas” reacende o debate sobre superexposição de influenciadores mirins e a publicidade infantil
Audiência cobra responsabilidade em conteúdo infantil
BuscarAudiência cobra responsabilidade em conteúdo infantil
BuscarPolêmica envolvendo o canal “Bel para Meninas” reacende o debate sobre superexposição de influenciadores mirins e a publicidade infantil
Taís Farias
29 de maio de 2020 - 6h00
A pandemia tem despertado ainda mais a atenção da audiência em relação ao papel e à responsabilidade dos influenciadores e criadores de conteúdo no ecossistema da comunicação. No fim de abril, a modelo e influenciadora digital Gabriela Pugliesi movimentou as redes após dar uma festa em sua residência, durante o período de isolamento social. Marcas como Liv Up, Hope e Desinchá anunciaram a suspensão de seus trabalhos com a modelo, que acabou deletando seu perfil. Na última semana, uma outra frente desse ecossistema de influência gerou debates.
Por meio do Twitter, os usuários fizeram uma série de denúncias sobre o conteúdo do canal Bel para Meninas, que retrata o cotidiano da garota Bel, de 13 anos, com apoio de sua mãe, Fran. O canal conta com mais de sete milhões de inscritos. A audiência chamou a atenção para supostos maus tratos da mãe para com a menina e uma infantilização forçada de seu comportamento. A hashtag #SalvemBelparaMeninas ficou entre os tópicos mais comentados da plataforma durante dias e o caso foi noticiado na TV aberta, com envolvimento do Conselho Tutelar e do Ministério Público. Após o episódio, todos os vídeos do canal foram apagados, restando apenas um manifesto dos pais da garota a respeito do ocorrido.
Coerência radical
A polêmica reacende o debate sobre a superexposição de influenciadores mirins e a responsabilidade que esses canais carregam por falarem com o público infantil, especialmente, em um contexto de excesso de consumo de vídeos, como acontece nesse período de pandemia. Independente do nicho de atuação, o momento exige cuidado e responsabilidade. “ A palavra da vez é coerência radical”, explica Isabela Ventura, CEO da empresa de marketing de influência Squid.
Alex Monteiro, sócio da agência de talentos Non Stop, conta que não pode haver dúvidas entre gerar conteúdo e fazer da vida do influenciador um reality show. A produção precisa responder a um propósito de carreira e a transparência nos valores que são passados pelo canal. Quando se fala de crianças, a importância de que a criação seja orgânica é ainda maior. “O conteúdo para o influenciador infantil precisa ser sempre uma brincadeira”, afirma Alex.
“Nós sempre vimos pais querendo que suas crianças fossem famosas. Agora, eles têm o poder de fazer isso”, conta Alex Monteiro.
A mediação com os adultos responsáveis também é um fator chave. Entre os cuidados necessários com esses influenciadores estão uma série de critérios legais e morais, como a não exposição a uma agenda extenuante, acompanhamento psicológico e do conteúdo, além do cuidado para que os frutos financeiros desse trabalho sejam revertidos para o futuro da criança.
Apesar de ganharem relevância nas redes sociais, Paulo Leal, general manager da SamyRoad BR, acredita que polêmicas como a de Bel e Pugliesi são mínimas perto de todo o conteúdo gerado por influenciadores no País. “Esses casos sempre vão acontecer, como acontecem em outras mídias”, explica o executivo. Com um ecossistema maduro, Paulo acredita que o mercado de influência tem ferramentas e players qualificados para depurar o conteúdo.
Futuro do conteúdo infantil
Com médias altas de inscritos e engajamento, a produção de conteúdo infantil passa por uma revisão de seu modelo de negócio, desde que o Youtube asseverou as regras e deixou de monetizar os vídeos com a ferramenta AdSense. Outras frentes desse mercado também tem se posicionado. No mês da criança, em 2019, a Squid em parceria com o Instituto Alana, lançou um manifesto sobre os impactos da publicidade infantil para incentivar as marcas a adotarem uma postura mais consciente. “Nós tentamos levar isso para fora da empresa e, de alguma forma, tentar construir um mercado mais saudável de um modo geral”, conta Isabela.
Na Non Stop, a produção para o público infantil tem sido focada em conteúdos educativos. Com as mudanças sociais e econômicas trazidas pela pandemia, Alex acredita que o mercado também terá que se reposicionar para acompanhar a realidade das crianças. Para Isabela, a crise deve trazer o olhar para o terceiro stakeholder do ecossistema de influência – os seguidores. “Cada vez mais, nós seremos críticos com quem seguimos. Quando você segue, está validando e impulsionando esse discurso”.
*Crédito da foto no topo: JBKdviweXI/ Unsplash
Compartilhe
Veja também
Os novos realities que a Endemol Shine pretende trazer ao Brasil
The Summit, Fortune Hotel e Deal or No Deal Island estão sendo negociados com players para estrear em solo brasileiro
CazéTV e Globo estreiam no Intercontinental de clubes com 8 marcas
Enquanto a Globo tem a Betano como patrocinadora, canal de Casimiro Miguel conta com Ademicon, Betano, Banco do Brasil, H2Bet, KTO, Ourocard Visa e Netflix