BeReal: é possível uma rede social anti-influenciadores?
Especialistas do mercado analisam a nova rede social que se diz ser "anti-influência" e quais são as consequências dela para o segmento de influenciadores
BeReal: é possível uma rede social anti-influenciadores?
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Amanda Schnaider
17 de junho de 2022 - 9h00
Uma rede social “anti-influenciadores”. Parece contraditório, mas é real. Pelo menos para a BeReal, rede social que descreve em sua apresentação: “A BeReal não o tornará famoso. Se quiser se tornar um influenciador, pode ficar no TikTok e no Instagram”.
A proposta da nova rede francesa é justamente promover uma vida mais verdadeira e sem filtro. Para isso, sua dinâmica funciona de uma forma um pouco diferente das outras redes sociais. Todos os dias, em horários diferentes, todos os usuários do aplicativo são notificados simultaneamente de que está na hora de tirar uma foto. O app, então, pede autorização para acionar as duas câmeras do dispositivo móvel, a traseira e a dianteira, ao mesmo tempo.
Dentro desses dois minutos, os usuários podem adicionar legenda e a localização às fotos. Somente isso. Nenhum filtro ou edição estão disponíveis. Além disso, na BeReal não há seguidores e nem curtidas. A interação se dá somente por meio dos comentários ou “Realmojis” – recriação do usuário em foto para emojis – e as fotos desaparecem após um dia.
O aplicativo, criado em 2020 pelo francês Alexis Barreyat, um ex-editor de vídeos da câmera GoPro, vem ganhando cada vez mais adeptos. No passado, o BeReal recebeu um aporte de US$ 30 milhões e, neste ano, cresceu 315%, de acordo com dados da consultoria Apptopia. Em maio deste ano, o app foi o quarto mais baixado na categoria “rede social” da loja virtual para iPhone, segundo a mesma consultoria.
Esse crescente interesse por uma rede social que se diz “anti-influência” abre espaço para uma discussão a respeito da profissão de influenciador, que vem crescendo a cada ano e que, em fevereiro deste ano, ganhou registro na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o nº 2534-10. Isso porquê plataformas e influenciadores vêm sendo criticados, já há algum tempo, por supostamente não mostrarem a vida real.
Apesar de toda essa discussão a respeito da “glamourização” da vida dos influenciadores nas redes sociais, Os brasileiros ainda continuam sendo bastante influenciados por esses profissionais. Segundo uma pesquisa da Statista, em 2022 o Brasil já foi o país onde as pessoas mais compraram algum produto ou serviço após indicação de influencers.
Para a co-fundadora e CCO da Youpix, Bia Granja, não há uma crise de confiança nos influenciadores, mas uma crise sobre o modelo de conteúdo que é criado para engajar esses consumidores em rede. “Nesse momento, a estética e a ética nos movem em direção a um conteúdo mais real, menos editado, menos filtrado. Queremos ver influencers como pessoas comuns, se vulnerabilizando e editando menos o que mostram nas redes”, reforça.
Alan Rochlin, diretor de novos negócios da MAP Brasil, concorda que não é uma crise de confiança, mas uma cobrança pelo que é verdadeiro e espontâneo.
Na visão de Ana Paula Passarelli, co-fundadora da agência de influenciadores Brunch e mestra em semiótica pela PUC-SP, a crise de confiança não está fadada a ser sobre os influenciadores, mas sobre a maneira como alguns usam o poder da influência que têm de maneira equivocada, o que acaba impactando toda uma classe de profissionais. “Existe uma crise de responsabilidade ou da ausência dela de parte de pessoas e não só influenciadores, mas de empresas, da população em geral. Estamos com uma crise de responsabilidade sobre o poder que palavras têm”, complementa.
O BeReal surgiu como uma alternativa de rede social que mostraria a a vida real das pessoas. A própria plataforma se classifica como “uma maneira nova e única de descobrir quem seus amigos realmente são”.
“Acredito que ele [BeReal] está aproveitando desse momento. Eles entendem isso e estão colocando isso como uma coisa para chamar atenção, mas isso é o futuro. Não vai ficar quem não tem legitimidade, quem não é real”, enfatiza Amanda Gomes, sa MAP Brasil.
Rochlin ressalta que é preciso tomar cuidado com tudo que é muito binário, como a proposta dessa rede. “Não é influência versus anti-influência. Existe uma influência saudável, ela é conectada com a verdade do artista”, complementa.
Passarelli entende que a marca ou o influenciador são os responsáveis pelo que constroem na internet, independentemente da plataforma. “Ser de verdade e não ser de verdade está na responsabilidade de cada um e não na plataforma que vai existir para fazer isso. Dentro do Instagram posso ser de verdade ou não, dentro do BeReal posso ser de verdade ou não. Não é porque vou só tirar foto só naquele momento que também não consigo manipular essa mensagem”, alerta.
No início deste mês, a influenciadora Bianca Andrade, dona da marca Boca Rosa, se envolveu em uma polêmica após deixar aparecer o cronograma de stories no seu Instagram. A roteirização fez muitos seguidores da influencer questionarem a realidade, autenticidade e espontaneidade do que é publicado pelos influenciadores nas redes sociais. Isso porque, entre os conteúdos do cronograma, estavam stories como: acordar antes das 9h, para publicar um post desejando bom dia para os seguidores, mostrar algo fofo do filho, o baby Cris etc.
Apesar de o conteúdo ser pessoal da influencer, para os especialistas do mercado, o planejamento e organização são pontos fundamentais e quase inerentes da profissão de influenciador. “Influenciador é um trabalho e, para ele dar certo, ele precisa ter a organização. Mas cada um tem que ter o seu planejamento com a sua verdade. O planejamento, em si, é essencial”, salienta Amanda, da MAP Brasil, reforçando que é a favor do planejamento alinhado à verdade do influencer e ao seu limite.
A co-fundadora e CCO da Youpix, Bia Granja, afirma que antes de tudo os influenciadores são produtores de conteúdo, são como veículos, porém, com suas próprias vida como tema central. “Como em qualquer veículo, é necessário ter uma visão clara das sessões e formatos de conteúdo para que seja possível planejar a produção e calendário editorial de forma a manter frequência e consistência”, complementa. Ana Paula Passarelli ressalta que a discussão nem deveria estar em torno do planejamento, em si, mas nas escolhas que os influenciadores estão fazendo para o seu cronograma.
Todo esse buzz acerca da autenticidade e espontaneidade dos influencers nas redes sociais esbarra diretamente na relação deles com as marcas. O que as empresas estão buscando em um influenciador? Segundo Bia Granja, é a retenção. “As marcas estão querendo saber se os influencers realmente têm capacidade de pautar uma conversa com suas comunidades”, enfatiza.
Amanda, da MAP Brasil, reforça que é as marcas estão querendo troca com as pessoas. “Se não tiver a verdade não funciona. É muito sobre ver qual é a verdade do produto e do artista e conseguirmos juntar isso”.
Passarelli, da Brunch, ressalta que a marca precisa enxergar qual influenciador é melhor para cada momento da jornada do consumidor. “Por exemplo, no começo dessa jornada uma marca vai precisar de um influenciador bom de venda? Não. Vai precisar de um influenciador bom de apresentações sobre novidades, aquela pessoa que está sempre em contato com a inovação”. Para ela, está muito mais relacionado ao tipo de discurso narrativo que o influenciador é capaz de construir do que ao número de seguidores que ele tem.
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