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Ansiedade e realização

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Opinião

Ansiedade e realização

Como eu lido com a avalanche de uma transição sem perder de vista o legado


22 de maio de 2023 - 15h00

Em meio a tantas movimentações podemos ser tomados pelo ansiedade (Crédito: Pormezz/Shutterstock)

Estou mudando. Estou mudando de vaga, de país, de estágio na maternidade (experiência que, inclusive, me muda o tempo todo). Não me lembro de já ter experimentado tantas transformações ao mesmo tempo na vida. E em meio a toda essa movimentação, às vezes me deixo levar pela ebulição da transição e sou tomada pela ansiedade — esse sentimento que preenche o hiato entre o presente e o futuro. Fazer essa passagem em meio ao hiato, equilibrando de onde saio e para onde vou, é um desafio e tanto. Afinal, se eu fico presa somente ao agora, não desenho o futuro e, portanto, abro mão de construí-lo com intencionalidade. Por outro lado, se só penso no futuro, não consigo tomar decisões necessárias para o dia a dia rodar, e deixo de viver momentos valiosos. Entendi, então, que o grande desafio é como não me perder NA ansiedade, para então não perder PARA a ansiedade momentos tão especiais da vida.

Nos últimos anos, refleti muito sobre uma forma mais saudável de administrar a ansiedade, o que me ajudou quando assumi diferentes chapéus no trabalho, quando nasci como mãe ao nascer minha filha, quando me vi assumindo mais papéis do que pensei que conseguiria.

É muito fácil se perder em meio a esse turbilhão e sentir que não está dando conta de tudo. Minha chave virou quando entendi que não se trata de fazer tudo, mas sim de fazer o mais importante, no tempo certo. Por isso, a primeira coisa que faço é desenredar o nó das obrigações que se acumulam e, em vez de me perder em uma lista infinita de To Do’s, estabelecer missões diárias. Essas missões são as tarefas inegociáveis, as que vou ter que cumprir. Podem ser de uma a três, pessoais ou profissionais, para resolver o agora ou para construir o futuro. São aquelas atividades que, ao final do dia, trarão a sensação de que o indispensável foi feito, e de que exerço maior controle sobre a minha vida. Isso me ajuda a visualizar um caminho para o futuro, vendo progresso a cada passo da caminhada em direção ao novo.

Em segundo lugar, aprendi a celebrar pequenas vitórias. Quando estou com muitas coisas na cabeça, por vezes deixo de perceber pelo que sou grata. É tão simples como celebrar a primeira tomada de decisão da minha nova vaga ou um novo marco na jornada da maternidade. Com isso, passei a de fato exercer a gratidão, fazendo dela uma prática de todos os dias que me relembra a razão de fazer o que faço e de viver como vivo. Trago à memória os muitos motivos que me dão felicidade e que, apesar de almejados no passado, poderiam — em meio à ansiedade — passar despercebidos no presente. Isso me ajuda a viver bem o hoje.

Mas, como já falamos aqui, ter um pé no presente e outro no futuro pode ser complicado. É justamente nesse hiato entre o que estou fazendo e o que quero que aconteça que emerge com tudo a ansiedade. E, em vez de alimentá-la tentando reconciliar expectativa e realidade, e me punir quando as coisas não saem como o planejado, aprendi a aceitar que erros e desvios podem ser úteis quando atuam a serviço de aprender com a experiência. Parece simples, mas é um exercício diário para ser mais compreensiva e gentil comigo mesma, e de buscar me aprimorar a cada dia com base no que aprendi com o passado.

Por isso, todos os dias, eu penso e anoto no meu bullet journal (dica de uma mentora reversa que mudou a minha vida):

  • Qual é a missão do dia de hoje?
  • Pelo que tenho gratidão no processo?
  • O que estou tirando de aprendizado e vou fazer melhor?

Penso nessas três perguntas diariamente para criar uma nova mentalidade — afinal, um hábito nada mais é do que um exercício diário. Essa forma de pensar tem mudado minha perspectiva e a maneira de lidar com as mudanças, e que influenciam, inclusive, como eu vivo.

A chave está no equilíbrio entre as dimensões do tempo — agir em direção ao futuro planejado, celebrar o presente, aprender com o passado. Isso me ajuda a focar no que realmente faz a diferença, e encarar o dia a dia e as oportunidades de uma forma mais positiva e consciente. Afinal, a minha busca não é sobreviver à avalanche (apenas), e sim encontrar realização até mesmo em meio ao caos que me desafia a ser melhor.

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