Errar é preciso
Nossa cultura nos faz evitar os erros a todo custo, mas é também com eles que crescemos e aprendemos a ser resilientes
Nossa cultura nos faz evitar os erros a todo custo, mas é também com eles que crescemos e aprendemos a ser resilientes
Escrevo esse texto direto do set de filmagem de um projeto que tem tudo pra ser um dos mais legais e desafiadores de realizar dos quais fiz parte nesses últimos anos. Dos que geram empolgação de uns e resistência de outros na mesma proporção. Daqueles complexos de aprovar mas que podem ajudar a marca a subir um degrau importante na sua ainda longa trajetória. Da um frio na barriga constante, uma incerteza com a qual hoje eu me identifico e busco em cada novo projeto. Mas esse mesmo frio na barriga já me segurou muito. Quando ele surgia, era como se aparecesse um sinal vermelho tentando me proteger de algo que fosse me prejudicar.
Me veio a vontade de falar sobre errar porque nesse exato momento eu estou vivendo um vai e vem de ansiedade que faz com que seja inevitável pensar sobre o tamanho da responsabilidade que é tomar decisões que envolvem o tempo, o dinheiro, o emprego e o craft de muita gente. É difícil não passar pela cabeça em algum momento o “se isso der errado, o que eu faço?”. Quando esse pensamento começa a aparecer eu lembro a mim mesma que uma das coisas que me trouxe onde estou hoje foi justamente o que eu aprendi com o que tentei fazer e não deu certo.
Nos primeiros (dez) anos da minha carreira eu me desenvolvi e movimentei na turma dos que fazem de tudo para não errar, e demorei mais do que eu gostaria para perceber que fui dizendo “sim” para projetos, ideias e lideranças medianas, muitas vezes ignorando aquela nossa voz interna. O pior é que o mediano, na nossa indústria, não só passa ileso como é recompensado. Quando me dei conta disso foi difícil, mas transformador.
Foi difícil porque sou a maior crítica de mim mesma, e foi um processo me perdoar pelas escolhas que fiz porque me disseram que esse era o caminho, o jeito de encontrar um espaço nessa indústria. Se você for o cargo tal na agência tal, se você atender o tal cliente, se você emplacar o tal pacote de mídia, se fulano gostar de você. Demora para você realizar que o mundo é sobre gente insegura liderando gente insegura.
Hoje, eu consigo entender melhor que muito desse meu comportamento veio do fato de que fui demitida duas vezes nos primeiros anos da minha carreira. Na segunda vez, a agência fechou meses depois, e apesar de racionalmente ser menos direcionado só a mim, não impediu de me colocar em um grande estado de dúvida. A primeira foi no meu primeiro estágio em agência, e olhando em retrospecto eu não estava dando meu melhor porque não era um lugar nem uma liderança que tirava o meu melhor, e eu era bem jovem para entender isso. Esses dois momentos fizeram com que eu passasse a me ouvir menos e a conduzir as coisas, como falei, no time dos que fazem de tudo para não errar. Ainda bem que a vida é uma constante escola para os que entendem que seremos sempre alunos.
Foi transformador porque me deu perspectiva sobre entender as minhas potências e limitações, e eu comecei a construir confiança nas minhas habilidades ao ponto de hoje me sentir mais segura para desenhar minha carreira e escolher minhas lideranças. Sim, escolham as suas lideranças, porque elas têm um papel fundamental não só em quem somos como profissionais, mas em como nos desenvolvemos como pessoas. Muitas vezes a gente não consegue escolher quem é nosso chefe, mas dá para escolher que visão você quer seguir, em quem você se inspira. Veja bem, somos pessoas inseguras liderando pessoas inseguras, então os nossos fundamentos são essenciais para que todos consigam navegar aprendendo, crescendo e sem dar burn out.
Aceitar errar é um fator vital da nossa vida e trabalho, e serve como um catalisador para o nosso crescimento, aprendizado e eventual sucesso. Embora nosso instinto seja evitar o fracasso a todo custo, sua verdadeira importância está nas lições que aprendemos e na resiliência que isso promove. Assim como é difícil aceitar um fracasso em nossas vidas, também é difícil reconhecer e aprender nesses momentos, parar e olhar para o que aconteceu e tentar entender qual a melhor forma de seguir. Errar nos oferece uma oportunidade única de desenvolvimento pessoal. Enfrentar esses desafios e contratempos nos torna mais resilientes, aprimora nossas habilidades em resolver problemas e nos torna muito mais adaptáveis. No trabalho, erros oferecem informações valiosas sobre o que não funciona, incentiva a inovação e nos torna mais criativos para encontrar soluções.
Uma informação importante pois os tempos de hoje pedem disclaimers. Eu não estou aqui apoiando sermos irresponsáveis e fazermos qualquer coisa a qualquer custo. Muito menos se o custo é o outro. Errar e aprender é diferente de construir um ambiente toxico. Vamos todos aprender a não despejar nos coleguinhas as nossas inseguranças. Fim do disclaimer.
O processo de abraçar o erro pede uma mudança de perspectiva. Ao invés de ver o erro como uma prova de inadequação, ele se torna um trampolim para melhorar. Superar o desafio de aceitar o erro nos dá muita resiliência emocional. Aprender a crescer a partir do contato com nossos erros exige disposição para refletir sobre nós mesmos e nossas atitudes, tirar insights valiosos, buscar apoio de outras pessoas e praticar muita autocompaixão. Muita.
Agora volto meu olhar para um monitor a minha frente, em volta de mim um time apaixonado por uma ideia. Dou um leve respiro aliviado – os erros do passado não vão acontecer de novo, e se surgirem novos, vão servir para o próximo projeto ser ainda melhor. Ufa.
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