Nós somos os robôs

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Opinião

Nós somos os robôs

Já não basta a automação programada: queremos que as máquinas aprendam a pensar por conta própria, para tomar decisões independentes, mais rápidas e mais precisas – enfim, melhores – do que as que temos sido capazes de tomar


14 de maio de 2018 - 12h21

Crédito: uzenzen/iStock

Há 40 anos, em 19 de maio de 1978, chegava às rádios e às lojas de discos Man Machine, um dos trabalhos mais emblemáticos de toda a obra da banda Kraftwerk, cuja influência sobre a música contemporânea já foi considerada tão grande quanto a dos Beatles pela New Musical Express (a mais respeitada publicação musical europeia) — e ainda maior do que a do quarteto de Liverpool pelo crítico chefe de música do The Daily Telegraph, Neil McCornick, para quem, por sua originalidade e amplitude, o grupo alemão é o mais importante da história da música pop.

Ode ao impacto da tecnologia sobre a humanidade, o álbum começa no embalo da melodia simples, rotineira e hipnótica de “The Robots” cuja letra mostra uma máquina pronta para repetir qualquer programação estabelecida, com eficiência, mas sem menção a qualquer tipo de criatividade ou proatividade não ordenada. A sequência de hits que se segue (“Spacelab”, “Metropolis”, The Model” “Neon Lights”) revela processos e ideias que ganham complexidade enquanto a obra avança para um desfecho apoteótico com a faixa-título, na qual “o homem-máquina, pseudo ser-humano, o homem-máquina, super ser-humano”, são as únicas palavras repetidas, como em um mantra cibernético pós-moderno.

Os sonhos de automação sintetizados pelas mãos e mentes de Ralf Hütter e Florian Schneider, dupla criadora do Kratfwerk, em Dusseldorf, nos anos 1970, contagiaram gerações e evoluíram. Queremos, hoje, que as máquinas aprendam a pensar, a tomar decisões independentes, mais rápidas e mais precisas — enfim, melhores — do que as que temos sido capazes de tomar. Seja lá quais forem as motivações a impulsionar tais desejos, a cada ano temos avançado mais rapidamente por estágios inevitáveis rumo ao quiçá inexorável destino da singularidade, na relação entre as inteligências humana e artificial, prevista para 2045, pelo futurista e diretor de engenharia do Google Ray Kurzweil.

Estamos implementando camadas profundas de segurança descentralizadas e em rede, emergindo em novos mundos por meio de realidades virtuais, enquanto integramos a capacidade de memória e encadeamento dos aparelhos na nuvem e aperfeiçoamos as perguntas para diminuir o ruído das respostas encontradas nas análises de nossos zilhões de dados combinados.

Para continuarmos aptos a alimentar essas ferramentas em seus próximos níveis, nos próximos anos, será necessário evoluir também em nossos próprios processos de pensamento, como temos feito, aliás, através das eras, especialmente quando ambientes desafiadores revogam nossa tendência ao acomodamento e ao obsoletismo.

Nessa jornada, é natural que, perante à nova ordem emergente de comportamentos e hábitos calçados em tecnologias disruptivas, nos vejamos como “dinossauros apavorados”, uma definição cravada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, em participação na conferência anual do Instituto Milken, em Los Angeles, no dia 30 de abril. A angústia, a humildade e a sensação de fragilidade confessas nas palavras de um dos homens de negócios contemporâneos mais bem-sucedidos do planeta geraram empatia e foram citadas frequentemente nos corredores e rodas de conversas durante os intervalos da décima-primeira edição do ProXXIma, realizada pelo Grupo Meio & Mensagem, na semana passada, em São Paulo.

Na edição impressa desta semana, caro leitor, você confere a cobertura completa do evento, cuja curadoria é assinada pelo diretor da M&M Consulting, Pyr Marcondes, que fala do futuro como se volta e meia o visitasse — e quem o conhece sabe que é bem possível que, de fato, Pyr já tenha mesmo passado por lá.

Boa leitura!

*Crédito da imagem no topo: ktsimage/iStock

 

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