Opinião
O consumo pós-pandemia com valor sustentável
Empresas terão que agregar outros valores, além daqueles que o produto ou o serviço já entregava?
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A vacina chegou, alguns tratamentos deram certo, mas ainda é um momento de muito cuidado e expectativa. As empresas de serviços começam a repensar que tipo de novas atitudes precisarão ter nos seus processos e procedimentos; os gestores de produtos nas corporações, por sua vez, pensam em como retomar as vendas rapidamente; então, fica aqui uma grande questão: será que, após a pandemia, teremos que agregar outros valores, além daqueles que o produto ou o serviço já entregava?
Cada produto e serviço possui no seu cerne a proposta de valor principal, a que veio ao mundo. Por exemplo, em um xampu, a ideia é limpar o cabelo; um sorvete, ser saboroso e refrescante; um carro, locomover de um lado para outro; um restaurante, servir uma experiência gastronômica; uma escola, entregar educação de qualidade, entre outros exemplos que vocês possam imaginar.
Toda vez que um empreendedor desenvolve um produto ou um serviço e, assim, uma empresa, ele tem que responder ao famoso Golden Circle, de Simon Sinek: Por quê? Como? O que? Responder o “por quê?” é explicar a finalidade, o propósito, a existência, qual jornada seguir. Ao colocar o “como?”, ele apresenta os objetivos, metas, passos, plano de ação daquele processo. E apresentar o “o que?” é citar os produtos e serviços desenvolvidos.
Neste momento pós-pandêmico, é hora de refletirmos, principalmente, o “por quê” dos negócios, produtos e serviços. Será que continuamos com o mesmo foco anterior? O propósito continua o mesmo após este cataclismo da saúde que afetou as economias no mundo inteiro?
Sim, é um momento de reflexão para entendermos se, hoje, os valores da sociedade e dos consumidores estão mudando ou se transformando. As empresas começam a repensar o modelo tradicional de entregar valor apenas para o acionista e para o cliente. Existe uma ampliação de geração de valor para todos os stakeholders, os públicos de relacionamento dos empreendimentos. No Fórum Econômico Mundial, do ano passado, seu fundador, Klaus Schwab, apresentou a economia dos stakeholders, que busca entregar valor para todos os públicos da empresa como consumidores, colaboradores, comunidade no entorno, meio ambiente, entre outros. É bem diferente da economia dos acionistas, cujo principal objetivo é maximizar o lucro e crescer eternamente.
Michael Porter e Mark Kramer já tinham colocado o termo de criação de valor compartilhado, há mais de dez anos, mostrando as necessidades de as empresas atenderem e monitorarem as questões dos seus impactos sociais e ambientais. Porém, sempre de uma forma sinérgica com as outras partes e não tirando as responsabilidades de cada um. Por exemplo, se é de responsabilidade do governo ou de um ONG o impacto relacionado à saúde naquela comunidade, a empresa entrará com a parceria e assim por diante.
Mas, será que os consumidores estão se preocupando com isso?
Parece que sim, segundo a pesquisa da Euromonitor International “10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021”, 69% dos profissionais pesquisados esperam que os consumidores se importem mais com a sustentabilidade do que antes da COVID-19. Na mesma pesquisa, feita durante o ano passado, em junho, 72,8% dos executivos colocaram que iniciativas de sustentabilidade são consideradas críticas para o sucesso.
Para dar um exemplo do dia a dia na questão de mobilidade, na pesquisa do Instituto Clima e Sociedade, de março de 2020, 67% dos entrevistados estariam dispostos a abrir mão do seu transporte individual, por um meio de transporte mais limpo ambientalmente, tanto entre os que possuem como os que não possuem carro.
Já a pesquisa da McKinsey & Company, de 2020, mostrou que 85% dos brasileiros afirmam que se sentem melhor ao comprar produtos sustentáveis e, ainda, 84% dos consumidores, da Geração Z, pararam de comprar produtos de empresas envolvidas em escândalos polêmicos como teste em animais ou trabalho análogo ao escravo. A nova geração parece buscar mais valores ambiental e social nos produtos e serviços.
O movimento está crescendo e a necessidade se agregar outros valores aos produtos e serviços é fundamental. Porém, é preciso tomar cuidado para não realizar o greenwashing, ou a estratégia de sustentabilidade sem estofo ou resultados ou, simplesmente, uma propaganda enganosa da sustentabilidade. Para todas estas ações ligadas ao meio ambiente e às inciativas sociais é necessário se fazer com muito planejamento, controle, análise de impacto e sempre alinhados à missão, visão e valores da organização. Aí sim, pós-pandemia, a empresa oferece serviços e produtos com valor agregado ligado à temática da sustentabilidade ou ao ESG (Environmental, Social & Governance), o termo que o pessoal financeiro gosta. E a sua empresa ou empreendimento já está se preparando para estes novos valores agregados ao produto e ao serviço?
*Crédito da foto no topo: Johannes Plenio/Pexels
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