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Opinião

O melhor jeito de descobrir o Brasil

Aqui, as decisões não são apenas tomadas em salas de reuniões formais; muitas vezes, tudo começa com um café


6 de maio de 2024 - 14h00

Sou argentina, nascida em Buenos Aires. Desde que cheguei ao Brasil, há oito anos, após ter vivido e trabalhado em vários países, uma das lições mais marcantes que aprendi foi o poder de uma simples xícara de café. Aqui, descobri que o café é mais do que uma bebida; é um meio de relacionamento, uma ponte para conexões significativas e conversas que vão além do profissional.

O Brasil é uma terra de contrastes e diversidades, onde cada região tem sua própria identidade cultural. É um país que abraça suas tradições internas, mas, ao mesmo tempo, recebe de braços abertos culturas e pessoas de fora. Desde o primeiro dia, senti-me acolhida de uma forma que nunca havia experimentado antes. Os brasileiros são incrivelmente positivos e apaixonados pela vida, sempre encontrando o lado bom, mesmo diante dos desafios.

Enquanto os argentinos são mais assertivos e práticos, os brasileiros têm abordagem mais leve. Nós, gringos, preferimos uma comunicação direta e objetiva; já os brasileiros optam por uma conversa mais longa para resolver questões. No lugar onde enxergamos mais barreiras diante dos problemas, os brasileiros mantêm a crença de que sempre encontrarão uma solução. Não existe pior ou melhor. Pelo contrário, cada maneira enriquece nossa compreensão mútua e promove uma troca cultural valiosa.

Uma das coisas que mais me fascinam no brasileiro é sua natureza relacional. Aqui, as decisões não são apenas tomadas em salas de reuniões formais; muitas vezes, são seladas em torno de uma mesa de café. É por meio desses encontros informais que as relações são fortalecidas e os negócios avançam. Para mim, o café era apenas uma bebida que eu pegava ao chegar ao trabalho, antes de me sentar. Mas, no Brasil, transcende seu papel como uma simples pausa. É um pretexto para conexões genuínas, nas quais assuntos pessoais e profissionais se entrelaçam de forma natural.

Quando cheguei, descobri algumas impressões ou feedbacks por terceiros, porque o brasileiro não gosta de magoar ninguém. Depois de um tempo, percebi que é no café que se cria esse lugar de confiança, seguro, para que a pessoa possa se expressar. Foi nessas trocas que recebi as críticas mais impactantes.

O café faz parte da resolução de conflitos. Compreendi que esses momentos não eram apenas avaliações do meu desempenho no trabalho, mas também oportunidades de me conhecer e me conectar melhor com as pessoas – inclusive meus chefes. Tomando café com colegas, criei amizades no escritório, algo inédito para mim, que, como uma boa argentina, era alguém que chegava, trabalhava e partia ao fim do expediente.
Viver no Brasil me ensinou a valorizar ainda mais a empatia e a importância dos relacionamentos. Aqui, aprendi que o sucesso não é apenas resultado do trabalho árduo, mas também da capacidade de construir laços sólidos com aqueles ao meu redor. Hoje, sou uma pessoa mais completa, mais empática e mais conectada com aqueles com quem trabalho, graças à influência deste país vibrante e acolhedor que agora chamo de lar.

No final das contas, o café no Brasil é um símbolo de conexão social, descontração e intimidade, negócios e networking, primeiros encontros, empatia e crescimento mútuo. E é através de cada gole compartilhado que eu continuo a descobrir a verdadeira essência desta incrível nação. E para quem vem de fora do país e vai mudar para cá, minha dica é: sempre comece com um café!

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