O poder de uma hashtag
Sua hashtag vai realmente construir conexões? Se não tiver certeza, é melhor não utilizá-la
Sua hashtag vai realmente construir conexões? Se não tiver certeza, é melhor não utilizá-la
Qualquer pessoa que já teve a missão de criar uma hashtag sabe o quão ingrata essa tarefa pode ser. São muitas regrinhas não escritas como: não pode haver muitas vogais, nem muitas consoantes. A junção das palavras deve dar leitura. Ela tem que ser sexy, inteligente e resumir todo um conceito em, no máximo, três palavras.
Se a missão for traduzir ou adaptar uma hashtag para o português a tarefa é ainda mais árdua. Se você não acredita em mim, tente traduzir a hashtag #Likeagirl — criada pela maravilhosa campanha da Always nos Estados Unidos e que viralizou mundo afora.
Porém, por motivos que eu suspeito mas ainda existe teoria por trás, as hashtags que melhor se saem no quesito “eficiência” surgiram de maneira orgânica. Elas aparecem sem expectativas de métricas ou resultados. É o exemplo da #MeuPrimeiroAssédio, criada pela ONG Think Olga, que no ano passado tomou conta do Trend Topic do Twitter Brasil e agrupou relatos de mais de 88 mil mulheres sobre a primeira vez que sofreram assédio.
Ao mesmo tempo em que as hashtags servem para agrupar, organizar e mapear um determinado assunto, ainda é difícil traçar sua origem ou seu potencial de impacto na vida offline das pessoas
E também de maneira orgânica, alguns meses depois, assistimos a tradução e adaptação dessa hashtag no México. #MiPrimerAcoso levou milhares de mulheres mexicanas a denunciar seus assediadores. O protesto virtual começou horas antes da primeira grande marcha contra a violência de gênero no país. Em abril também assistimos ao surgimento e disseminação da #WhenIWas, hashtag criada no Reino Unido, com o mesmo objetivo das outras duas campanhas: trazer à tona a violência sistemática e naturalizada que as mulheres sofrem, muitas vezes antes de completar os 10 anos de idade.
A #WhenIWas conseguiu agrupar 50 mil relatos em apenas uma semana. No ano passado, também no Reino Unido, surgiu a #FirstHarassment (tradução literal da #MeuPrimeiroAssédio) que logo foi usada por mulheres em outros países europeus. Esses “cases” servem não só para mostrar o poder do ativismo digital como a possibilidade de tradução (e a busca por soluções) de problemas internacionais.
Ao mesmo tempo em que as hashtags servem para agrupar, organizar e mapear um determinado assunto, ainda é difícil traçar sua origem ou seu potencial de impacto na vida offline das pessoas. O que acredito que fica para as marcas a lição de se pensar no porquê do sucesso de uma hashtag. Por que as pessoas deveriam usá-la? O que elas querem expressar para o mundo quando se atrelam a esse símbolo (#)?
Talvez, antes de pensar em como ela ficará no final de um post, tweet ou foto. O ideal seria parar e pensar se ela é realmente necessária. Se ela poderá ser usada como uma ferramenta de reivindicação, de conexão com marcas e até com outras pessoas, como foram as inúmeras #Jesuis… no ano passado — infelizmente.
E, principalmente, se ela conseguirá gerar um sentimento de acolhimento e pertencimento, seja com os valores do consumidor ou, no melhor dos cenários, com os valores do consumidor e o propósito da marca.
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