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Opinião

O que sua verba está fazendo pela diversidade?

Algumas atitudes poderão iniciar jornadas bem sucedidas para empreendedores não percebidos como alternativa a demandas


1 de setembro de 2020 - 10h00

(Crédito: Witt Udomsilp/ iStock)

Outro dia, em uma conversa com uma marca, foi compartilhada comigo uma lista de gamers no YouTube com os quais a empresa queria trabalhar. Eram 17 nomes: 14 homens e três mulheres, todos brancos. Uso com o frequência a expressão “Brasil, a pátria gamer”, que foi, inclusive, tema de um artigo publicado aqui no Meio & Mensagem. No País, somos 80 milhões de jogadores, a maioria composta por mulheres.

Os nomes que vi naquela lista representavam qualquer coisa, menos a diversidade de criadores de conteúdos que falam hoje sobre games no YouTube. Muito menos o quão diverso é o povo brasileiro. Sugeri, então, que a lista refletisse melhor essa realidade. Minha proposta foi recebida com positiva surpresa. Um dos comentários que mais escutei foi: “Eu não tinha me dado conta disso”.

Talvez seja o que me falam sobre preconceito estrutural, mas certamente esse não é meu lugar de fala. O que me chamou a atenção é que essas atitudes podem significar o início de jornadas bem sucedidas para empreendedores que não são percebidos como uma alternativa profissional e viável a quaisquer demandas do mercado.

Faça o seguinte exercício quando for direcionar seu “dindin” para contratar influenciadores, gamers, patrocinar eventos, consertar seu computador ou trabalhar com freelancers: há alguma alternativa mais inclusiva e diversa em relação às que você já contrata?

Quer ver só?

Você é de São Paulo, seu computador quebrou e precisa que retirem em sua casa?

• Experimente a InfoPreta que faz manutenção de computadores (inclusive Apple), realizam montagem e manutenção de PC gamers, além de oferecer consultoria para pequenas e médias empresas. Foi fundada pelo Akin Abaz, em 2013, focada em inserção de pessoas negras, LGBTQIA+ e mulheres na tecnologia.

Gostaria de conhecer criadoras no YouTube, mas não tem ideia de como fazer isso?

• Em novembro, escrevi um artigo no qual destaco 30 criadoras de games que todos os interessados nesse universo deveriam conhecer. E, de lá para cá, muita gente nova tem surgido.

Gostaria de patrocinar eventos e iniciativas de games?

• Conheça a AfroGames, no Rio de Janeiro. É um centro de e-atletas que usam os e-sports como ferramenta de inclusão social. Visitei as duas unidades na capital carioca e fiquei muito feliz de ver como os “joguinhos” podem ajudar as pessoas. A AfroGames nasceu do Grupo Cultural AfroReggae.

• A PerifaCon aconteceu em São Paulo em 2019 e este ano não pode contar com sua edição física por conta da Covid-19. Considerada a primeira ComiCon da favela, o evento foi fundado por “uma equipe toda periférica e de maioria negra”. No site, eles lembram que “tem nerd na periferia consumindo e produzindo e isso precisa ter visibilidade e apoio”.

• A Game e Arte organizou o Videogames da Quebrada também na capital paulista, que, entre outras coisas, acaba de realizar a arrecadação de doações para crianças da periferia.

Quer conhecer gamers pretas e pretos?

• A Wakanda Streamers se organiza como uma das maiores coletividades gamers do Brasil.

• Além disso, você pode conhecer canais como: Preta & Nerd, Nizllew, JotaPlays, Rik, Ken Harusame e Madrugatina.

Você pode também contratar ilustrações de profissionais do Coletivo Pretas Ilustram.

No DNBR, você encontra uma lista bastante extensa de profissionais de design (produto, serviço, gráfico), arte, ilustração, researcher, UI, UX e desenvolvedor web.

As pessoas com quem conversei para produzir esse artigo lembram que aumentar a exposição de profissionais é importante — já que gera a realização de negócios —, mas ainda há espaço para mudanças mais estruturais. Lideranças diversas contribuem com olhares diferenciados sobre uma situação e como ela é levada a público. Já que o Brasil é a pátria gamer, na hora que você for investir nesse mercado, pense realmente em representar todos os brasileiros.

P.S.: Gostaria de agradecer publicamente ao Luiz Queiroga (jornalista), Anne Quiangala (mestra em literatura e produtora de conteúdo) e Bruno Pinto (gerente de parcerias do YouTube) pelas conversas e aprendizados sobre diversidade.

*Crédito da foto no topo: Mfto / iStock

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