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Os afro empreendedores

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Opinião

Os afro empreendedores

Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Brasil possui 11 milhões de empreendedores afrodescendentes – isso me enche de orgulho, mas ainda temos muito potencial de crescimento


1 de março de 2018 - 15h13

Créditos: g-stockstudio/iStock)

Existe uma subcategoria no mundo do empreendedorismo (hoje já reconhecida por organizações como o Sebrae) chamada de “afro empreendedorismo”. Trata-se de qualquer empreendimento focado exclusivamente no público negro. O surgimento desse termo no vocabulário da economia brasileira é novo, assim como o reconhecimento de que esse público, é sim, uma grande e potencial fatia de mercado.

Hoje, no País, nós negros somos mais de 50% da população, de acordo com o IBGE. Porém, há mais de 20 anos, nós nem éramos contados. E muito menos o nosso dinheiro. E menos ainda a nossa opinião. No setor “Beleza”, o caminho era ainda mais complicado. Muito se falava em alisamento japonês, em escova marroquina… O cabelo liso, como sempre, estava em alta. Mas pouco (ou quase nada) se falava em valorizar os cachos, em black power. Sobre empoderamento, então… Nem sonhávamos com esse neologismo.

Ao desenvolver o projeto da rede de salões de beleza Raízes Salão Afro, junto com a minha esposa e sócia Bárbara Moura, que valorizava o crespo e o cacheado das clientes, percebi o quanto esse mercado era carente. Não somente de bons profissionais, mas também de produtos e serviços. A ausência de produtos para esse tipo de cabelo era tão grande que, pouco tempo depois, decidi criar minha própria marca, a Onduladus, a primeira do País totalmente focada no público negro.

Muito mais do que um “nicho”, o povo negro é a maioria no Brasil e, economicamente falando, ainda temos muito potencial de crescimento

Confesso que preconceito na minha vida empresarial não sofri, mas na época em que criei a marca de produtos e vivia viajando para os Estados Unidos para acompanhar o desenvolvimento de algumas formulações, muitos não acreditavam no potencial do negócio e, por vezes, fui desencorajado por “especialistas”.

Hoje, fabricamos toneladas nos maiores parques fabris do Brasil. Se nota que a realidade do afro empreendedor mudou. E muito. Segundo uma pesquisa do Data Popular, em 2007 o rendimento anual da classe média negra estava em torno de R$ 337 bilhões, passando a R$ 554 bilhões em 2010. Atualmente, os últimos números apontam para uma movimentação em torno de R$ 800 bilhões ao ano. E estima-se que em 2017 a população afro brasileira tenha movimentado até R$ 1 trilhão no País.

E não para por aí. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Brasil possui, hoje, 11 milhões de empreendedores afrodescendentes. Sim, somos muitos! E isso me enche de orgulho. Muito mais do que um “nicho”, o povo negro é a maioria no Brasil e, economicamente falando, ainda temos muito potencial de crescimento.

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