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Opinião

Placar interno x Placar externo

O duelo entre a fidelidade a conceitos, valores e crenças e a vaidade pontual e oportunista de dizer o que todos querem ouvir, de fazer escolhas para ser aplaudido e estar sempre em evidência


19 de fevereiro de 2018 - 17h38

Efeito Bola de Neve – a Biografia de Warren Buffett, o Maior Investidor do Mundo, de Alice Schroeder, é uma delícia de livro. Aborda um de muitos, muitos conceitos e crenças do biografado, que aqui destacarei com um aspecto que raramente é analisado em nosso mercado de comunicação brasileiro: Placar interno x Placar externo.

Em 1999, num evento norte-americano que inspirou no Brasil e no mundo tantos outros eventos de líderes empresarias, Buffett foi convidado a fazer sua palestra, no ápice da euforia da internet. Na ocasião, todos os presentes, com muito respeito, acompanharam com uma dose de “quase pena” a exposição daquele não tão jovem, já rodado e até então bem-sucedido investidor, porém da velha economia. Eles o ouviram dissertar sobre a falta de lógica, ou melhor, a falta de fundamentos que sustentassem o crescimento desproporcional dos índices Nasdaq e o valor das ações das empresas de internet, que bombavam e enriqueciam centenas de empresários, empreendedores e acionistas. Empresários esses que estrelaram a edição daquele ano. Palmas protocolares para Mr. Buffett.

Incrível, mas a vida é uma maratona e não uma corrida de 100 metros rasos diários. Essa é a escolha cotidiana que cada um de nós faz. A que tipo de preparo, formação e crenças optamos? De forma curta, “Placar interno” é a fidelidade a seus conceitos e crenças, a fundamentos e valores que são eternos, não importa o espetáculo externo ou a torcida presente, quem opta se mantém firme em sua trajetória. E olha que não é fácil duelar com a vaidade pontual, fruto da oportunidade de dizer o que todos querem ouvir, de fazer escolhas para aplausos e acreditar que o importante é estar em evidência. Essa turma é que chamo de “Placar externo”.

Ser “Placar interno” advém de escolhas estratégicas, princípios e de uma visão para onde se pretende chegar. Simples e fácil? De jeito nenhum. Mas reflitamos: nosso mercado está de que lado dessa régua? Aqui faço meu ponto de virada de Warren Buffet para Julio Ribeiro. Com Julio Ribeiro foi-se nosso Placar Interno Chefe, adorável e admirável. Com ele tive um dos maiores aprendizados sobre compromisso. Há muitos anos, eu liderava a área de marketing da Rede Bahia e saímos com uma linda campanha publicitária na mídia do trade nacional de comunicação. Na publicação do primeiro anúncio, de imediato recebi uma ligação de Gilberto Leifert, então diretor institucional da TV Globo, com um pedido de Ribeiro, que tinha no “prelo” uma campanha quase idêntica e com previsão de veiculação nacional para o Banco América do Sul. Nossa campanha inviabilizaria a do cliente da Talent, e, se existia a possibilidade de recuarmos com a ação da Rede Bahia, Ribeiro propôs que, em troca, nos pagaria pelo trabalho. Minha decisão, pelo respeito a ele, foi de declinarmos da nossa campanha. E fizemos outra.

Quando ligou para agradecer, com sua elegância de sempre, Ribeiro insistiu em nos pagar pelo custo da campanha e ratifiquei a não aceitação da oferta. Mas, após certa insistência, fiz um pedido de contrapartida: uma palestra para empresários da Bahia (anunciantes, veículos e agências), o que foi aceito de imediato.

Um ano se passou, um ano exatamente, e finalmente chegara a hora, um evento superimportante para o mercado baiano. Então… Eu ao telefone: “Julio Ribeiro, por favor?” Secretária: “Quem deseja?” “Maurício Magalhães, da Rede Bahia”. Do outro lado entra o próprio: “Maurício, chegou a hora?” Eu: “Sim Julio, mandarei passagens etc”. Ele: “De jeito nenhum!”. No dia do evento, na hora da abertura, ele estava lá, parecendo um de nós. Aquele brilhante, talvez o maior de todos, navegando nas palavras com sua humildade e seus ensinamentos, talvez um dos melhores speachs que já ouvi em minha trajetória.

Comecei com Warren Buffet e termino com Julio Ribeiro, ambos brilhantes, que se encontram pela visão de trajetória, ambos correm maratonas, ambos com placares internos imensos. O livro de Ribeiro, Fazer Acontecer – Algumas Coisas que Aprendi em Propaganda Investindo 1 Bilhão de Dólares para Grandes Empresas, assim como o Bola de Neve, sobre Buffett, são leituras inspiradoras para quem pretende sair da armadilha do “Placar externo”. Porque, no final da maratona, se sua opção for apenas pelo “Placar externo”, isso o deixará exposto e nu, e mostrará o quão ridículo você foi. O contrário gerará a sensação de que valeu a pena.

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