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Opinião

Que sejamos às avessas

Crescemos de verdade verdadeira quando nossa rota sai do trilho e, assim, frustramos nossa narrativa linear de crescimento pessoal


7 de junho de 2017 - 14h08

Parou para pensar que você mal nasceu e já foi entulhado de expectativas e tarefas, quase sem tempo para sonhar quem você pode ser? Nascemos respirando, mas não temos tempo para respirar. Filósofos e estudiosos dizem que nenhuma sociedade até hoje concedeu ao ser humano a sua liberdade. Você acha que é livre, mas está simplesmente vivendo uma ilusão.

Foto: Reprodução

O Ocidente está sofrendo com o excesso de ciência e o Oriente, com excesso de religião. Agora precisamos de uma nova humanidade em que religião e ciência tornem-se dois aspectos de uma só humanidade.

Toda a existência nada mais é que um campo de energia. Todos nós, tocados pela experiência da vida simples, provavelmente compartilhamos a mesma motivação: ser feliz e ajudar as pessoas. Mas com qual felicidade? Para mim, a felicidade tem nome e sobrenome. É a harmonia do pensar e do sentir. Sabe aquela sensação de paz interior sem preço? Então, é ela. E tem gente que logo pensa em casamento, viagem, sapatos, apartamento financiado. Mas o que mais?

Poderíamos aspirar pela saúde emocional e a estabilidade do nosso mundo interior independente dos fatores externos, pela sabedoria de reconhecer a realidade além dos nossos jogos e comentários, pela compaixão capaz de beneficiar qualquer um que se aproxima de nós. Porém, neste sentido, somos bem pouco ousados.

Basta olhar para você. Dói muito, é doloroso aceitar que você não é extraordinário. Então observe o que acontece quando você aceita a ideia de que é comum. Um grande peso sai dos seus ombros. De repente você está em um espaço aberto, natural, simplesmente do jeito que você é. A pessoa comum tem uma singularidade, simplicidade e humildade que, por conta disso, ela se torna extraordinária, embora nem faça ideia disso.

E nosso grande companheiro? Prazer, seu nome é auto-sabotagem. Nos colocamos em posição inferior em toda oportunidade, sempre que podemos. Ficamos o tempo todo prestando contas a eus passados, atrelando nosso desenvolvimento a uma história bem costurada, a novelas que criamos para nós mesmos antes de nascer, refletimos ao dormir e acreditamos ao acordar.

O que importa é que você não precisa atender às expectativas de ninguém. Tem simplesmente de viver a sua vida de acordo com a sua inspiração, a sua intuição, a sua inteligência. E é assim que deve ser. O ser humano saudável não tem complexo de inferioridade.

Toda pessoa nasce com uma individualidade única e toda pessoa tem um destino só seu. A própria sensação do eu aparece juntamente com uma narrativa simplória, como se tudo só acontecesse de modo casual e coerente. Como se tudo fizesse sentido. E isso nos faz imaginar que qualquer transformação humana ou espiritual seja uma espécie de epopeia do eu em se tornar um super-eu turbinado, construído em um percurso heroico, cheio de histórias cruzadas e insights incríveis.

Basta olhar para você. Dói muito, é doloroso aceitar que você não é extraordinário. Então observe o que acontece quando você aceita a ideia de que é comum. Um grande peso sai dos seus ombros.

Tente compreender a vida, não force, e viva sempre livre do passado; porque, se o passado estiver presente e você for controlador, não conseguirá compreender a vida. E a vida é muito fugaz, ela não espera. Mais do que celebrar os feitos do passado, quero abrir espaço para não me identificar tanto com conteúdos mentais e histórias pessoais. Muita coisa mudou nos últimos meses. E, em vez de me preencher do passado, da mesma forma que devoro as sobremesas com suspiro e doce de leite, quero espalhar todas as experiências na mesa e libertá-las de uma só vez: “Não sou mais a mesma”.

O que eu desejo é que seu planejamento pessoal dê errado. Que seu desenvolvimento intelectual seja caótico a ponto de sair do controle. Que não tenhamos tempo para resolver todo e qualquer mimimi. Que sigamos vazios e despreparados, pois só assim a vida nos atravessa. Que nenhum cantinho permaneça trancado, escondido da realidade. Que você e eu desistamos logo desta loucura chamada amor. Que a gente troque mil motivos de se alegrar pelo sorriso panorâmico que não precisa de motivo. Que nasça a ganância do vazio quando você não estiver em sintonia com o universo. Que sejamos atropelados por seres de olhar profundo e coração desperto.

Seja puramente a qualidade de ser inteiro e comece a resignificar suas escolhas. Que a transformação seja pela raiz, dissolvendo os insultos com métodos tão poderosos que não sobrará ninguém obstruindo o céu. Então você verá o céu limpo, um céu absolutamente infinito. Isso é liberdade. Isso é consciência. Esse é o verdadeiro saber. Que sejamos às avessas. Amém.

 

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