Inteligência artificial: uma questão, acima de tudo, humana

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Inteligência artificial: uma questão, acima de tudo, humana

Não podemos nos isentar da responsabilidade de criar uma inteligência artificial que, de fato, trabalhe em prol da sociedade e de suas pessoas; a responsabilidade é nossa, é coletiva

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31 de março de 2023 - 9h21

Crédito: phonlamai-photo/shutterstock

Não há como ignorar o fenômeno protagonizado por aplicações de inteligência artificial (IA) em diversas áreas, e essa popularidade, daqui para a frente, só tende a crescer. Bergur Thormundsson, pesquisador da plataforma on-line Statista, especializada em dados de mercado e consumidores, apresentou um número interessante a respeito do tema. Segundo o especialista, o valor do mercado global de IA deve experimentar um salto de US$ 142,3 bilhões, em 2022, para quase US$ 2 trilhões, em 2030.

O que isso significa? Além de testemunhar a expansão da presença de tecnologias desse tipo nas linhas de produção de fábricas e no dia a dia de equipes de diversos setores corporativos (marketing, sales, desenvolvimento, design e por aí vai), veremos cada vez mais soluções voltadas aos consumidores finais, de diferentes setores, usando IA. Um exemplo disso é o Dall-E, gerador de imagens que tomou conta das redes sociais recentemente, e o ChatGPT, solução da OpenAI que se tornou a queridinha de muita gente, por sua capacidade de criar textos diversos com base em simples comandos.

Falando em ChatGPT, o diretor-executivo da empresa por trás da ferramenta, Sam Altman, indicou em um manifesto que, com a evolução desses recursos, podemos imaginar máquinas implementadas em campos como a medicina e a educação que sejam mais capazes de realizar tarefas associadas às profissões do que qualquer ser humano.

Por outro lado, o brasileiro Bruno Alano, que faz parte de um grupo de pesquisas da companhia desde o início de sua concepção, afirmou em entrevista que é muito difícil esses modelos gerarem ideias inovadoras ou resolverem problemas sem pessoas. “A inteligência artificial sempre vai precisar, ou ao menos pelos próximos anos, de uma pessoa guiando esses modelos e dando os inputs (comandos), conversando e refinando esses processos”, destaca Alano.

Na mesma entrevista, Alano falou sobre a dificuldade de programar robôs sem que reproduzam questões danosas existentes no mundo real, como comportamentos prejudiciais direcionados a grupos minoritários: “Você usa a sociedade para o algoritmo aprender, mas você precisa eliminar comportamentos sociais que a gente sabe que não são bons.”

E é nesse ponto que queremos chegar: precisamos, em conjunto, considerar a ética em nossos movimentos relacionados à construção de produtos baseados em inteligência artificial.

Quanto mais cedo, melhor

Olhando friamente os números, os seres humanos vêm cometendo inúmeras falhas na estruturação de uma sociedade inclusiva, que valoriza a diversidade e é pautada pela ética, e isso acaba contaminando os modelos de inteligência artificial. Isso porque esses modelos são alimentados por conjuntos de dados distorcidos – ou não totalmente representativos –, selecionados pelos grupos aos quais atendem, que apresentam, naturalmente, inclinações próprias.

O líder de consultoria em tecnologia na empresa de serviços de auditoria, impostos e consultoria KPMG LLP, Todd Lohr, alertou por exemplo, em entrevista, que a ausência do desenvolvimento de controles de preconceitos nos ciclos de vida de desenvolvimento do software é parte do problema.

Por sua vez, o diretor global de segurança da informação da empresa de dados e análises LexisNexis Risk Solutions, Flavio Villanustre, complementa que, uma vez que uma ferramenta demonstre ter posturas contaminadas por preconceitos, descobrir a origem delas é um desafio muitas vezes impossível de superar, “a menos que você possa voltar à estaca zero e redesenhá-la corretamente, com os dados de treinamento corretos e a arquitetura correta por trás disso”.

Essa é uma das questões para as quais devemos estar atentos e tratar, junto com outras, como plágio e desrespeito aos direitos autorais. A própria OpenAI anunciou estar trabalhando em uma ferramenta que identifica se um texto foi produzido por IA. De modo geral, como evitar estas situações e outras a que estaremos sujeitos nesse novo paradigma?

Responsabilidade coletiva

A nossa sociedade vem se tornando cada vez mais complexa. Para tratar de seus problemas, precisamos de ferramentas sofisticadas. De fato, a inteligência artificial tem uma importante missão, no que tange a acelerar melhorias sociais em diversos aspectos.

De acordo com um novo relatório de pesquisadores da McKinsey e da Universidade Harvard, a IA, se adotada mais amplamente na área da saúde, pode ajudar o setor a aprimorar operações clínicas, qualidade de processos e segurança em geral, com impactos expressivos em planos de tratamento personalizados e protocolos de medicamentos, beneficiando diretamente os pacientes. Esse movimento ainda tem o potencial de ajudar o setor a economizar até US$ 360 bilhões anualmente nos Estados Unidos.

Já o setor financeiro, segundo um artigo do Insider Intelligence, pode reduzir custos de até US$ 447 bilhões somente em 2023, com a automação de tarefas, detecção de fraudes e recomendações personalizadas, beneficiando ao mesmo tempo seus clientes finais.

No âmbito educacional, os algoritmos de IA têm o potencial de ajudar na análise dos dados dos alunos e adaptar-se aos seus estilos de aprendizado, fornecendo feedbacks e recomendações de acordo com as necessidades e habilidades individuais.

Ou seja, estamos mais uma vez em frente a uma disrupção que a tecnologia pode habilitar ou acelerar, o que é espetacular, desde que sejamos os garantidores desse movimento positivo para nossa sociedade, e não o contrário.
A líder global do Deloitte AI Institute e fundadora da Humans For AI, Beena Ammanath, indica: “O que precisamos é de mais participação de toda a constelação de pessoas interessadas no futuro da humanidade, que somos todos nós.

O potencial da IA é enorme, e o que é necessário não é apenas a intenção, mas imaginação e colaboração. Hoje, as empresas podem ajudar a dar mais impulso para a melhoria social, liderando as conversas intersetoriais e buscando implementações de IA para o bem público.”

Resumindo, mais do que nunca temos um vasto arsenal de tecnologias disponíveis para resolver problemas da nossa sociedade. Usar a tecnologia a favor das pessoas está nas nossas mãos, e é parte da nossa responsabilidade como líderes de negócios. Melhor ainda, se essa for a nossa missão!

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