28 de outubro de 2022 - 6h00
(Créditos: Andrey Suslov/shutterstock)
É só olhar para o topo da lista das empresas mais valiosas do mundo e lá estão elas: Apple, Alphabet (Google), Amazon, Microsoft e Meta (Facebook) – que chamamos carinhosamente de as “cinco fabulosas”, ou fab five.
À primeira vista, parece fácil determinar o que elas têm em comum, certo? Todas usam a tecnologia para escalar os seus produtos. Por conta disso, as colocamos dentro de uma mesma caixa: a da chamada “indústria de tecnologia”.
Apesar de categorizarmos empresas dentro de uma determinada “indústria”, essa referência genérica não é suficiente para analisar o valor de cada uma das empresas que fazem parte dela.
Toda empresa passa por avaliações constantes de profissionais, que analisam o seu estado financeiro e comercial, bem como suas perspectivas. E são esses profissionais que indicam para o mercado o quanto uma empresa deve valer.
A melhor forma de analisar como essas empresas impactam o nosso mundo é entender como elas destravam valor. Para isso, temos que analisar como a companhia ganha dinheiro hoje e como planeja ganhar também no futuro, observando os seus planos de investimento e expansão.
O fato das fab five estarem dentre as empresas de maior valor global, dá uma indicação muito clara a respeito da crença dos investidores de que o papel desempenhado por tais empresas é extremamente valioso e importante, não apenas neste momento, mas especialmente no futuro. Mesmo considerando o momento global de ajuste de valores das empresas de tecnologia, em que os fluxos de caixa que virão no futuro valem menos a valor presente, dado ao ambiente de juros crescentes.
Vamos lembrar que a Amazon, fundada em 1996, somente teve lucro no ano de 2006. Neste meio tempo, ela queimava caixa, mas sempre com o status de uma das empresas mais promissoras do mundo, pois os investidores jamais deixaram de acreditar na visão do seu então CEO, Jeff Bezos, idealizador desta plataforma altamente escalável.
Diferentemente das empresas de indústrias mais tradicionais, para realizar uma análise em empresas de tecnologia, é preciso olhar primeiro para o futuro – o passado não tem, necessariamente, um papel importante na determinação do seu valor. Para isso, os analistas e avaliadores buscam informações em vários documentos financeiros e comerciais, dentre eles relatórios gerais da indústria, das próprias empresas, mas também das suas concorrentes e comparáveis nacionais e internacionais.
Ou seja, parte da pesquisa para indicar qual o valor de uma empresa está baseado nos valores atribuídos às empresas que são consideradas seus “pares”. Então, quando alguém fala que o Mercado Livre é a Amazon brasileira, está basicamente indicando que um dos seus benchmarkings, ou melhor, que uma das empresas comparáveis com a Amazon no Brasil, seria o Mercado Livre.
Sem dúvida, fazer parte desta indústria e ter um benchmarking como a Amazon, por exemplo, é uma vantagem, afinal, não apenas o valor comparável da empresa fica maior, como também, a hipotética visão de futuro fica mais palpável para todas as partes envolvidas.
Entretanto, as análises de valor das empresas de tecnologia passam por um crivo ainda mais complexo, que envolve a sua capacidade de monetização. Por isso, o benchmarking nem sempre é óbvio. Analisando as fab five, por exemplo, apesar de serem todas elencadas como empresas de tecnologia, na verdade, ganham dinheiro de maneiras bem diferentes: a Apple ganha a maior parte de seu dinheiro na venda de hardware; a Microsoft com a venda de software, e a Meta e o Google com publicidade; a Amazon, por sua vez, lucra com vendas de varejo.
Teoricamente, seria mais fácil usar o Walmart como um benchmarking de valor para a Amazon, certo? Afinal, ambas empresas lidam com vendas ao consumidor final, não é? Bom… não necessariamente. Na verdade, a Meta seria uma empresa mais próxima do modelo de negócios que a Amazon implantou. Ambas construíram uma plataforma aberta para a utilização de qualquer usuário, não importa em que lugar do mundo ele esteja.
Da mesma maneira, as duas empresas investem de forma ampla nas áreas da saúde, automotiva e de mídia, demonstrando planos de uma expansão vertical em comum, que vai além da tecnologia. Além disso, são organizações com a mesma estratégia de crescimento e escala, pois ambas plataformas digitais escalam com base em uma rede virtual e crescente de fornecedores e clientes, o que se chama de “efeito de rede”.
Tanto a Meta quanto a Amazon apostam nesta mesma estratégia de crescimento: usuários que, juntos, criam conteúdo, vendem, compram ou mesmo utilizam a rede e, com isso, aumentam, exponencialmente, o valor gerado por esta mesma organização, afinal, quanto mais vendedores houver em sua plataforma, mais a Amazon cria valor para os seus usuários e, consequentemente, aumenta o seu valor como empresa.
A chave para as empresas de tecnologia serem tão valiosas está na sua capacidade de escala. Quanto mais escala uma empresa de tecnologia alcança, maior a possibilidade de aumentar a sua margem de lucro, com um consequente aumento de eficiência e redução de custo.
Por isso, todas elas aparentam querer “dominar o mundo”. Afinal, são empresas com modelos de negócios onde o valor investido na infraestrutura tecnológica é reduzido, a cada novo usuário, levando a um consequente aumento de margem.
Aumentar o tamanho do mercado endereçável também é uma estratégia comum para alcançar números grandiosos de usuários e melhores resultados financeiros, mas depende de um olhar que vai além da designação da indústria vertical da empresa. A busca por outros mercados e modelos de negócios, que tragam ainda mais valor, é uma prioridade constante para qualquer empresa que busque aumentar o seu valor de mercado.
Se você está na fase de criar ou repensar a sua startup, foque nesses pontos: modelo de negócios, eficiência, visão de futuro e capacidade de execução, pois eles fazem a diferença em qualquer indústria, mas saiba que na de tecnologia…valem muito mais!