DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

De acordo com futurista, somos da geração de transição, não importa a idade

Acerca dessa preocupação com o futuro do trabalho e em desafios globais que nos colocam no epicentro das grandes mudanças, quem deve decidir os caminhos da próxima transição? A transformação é inevitável, mas podemos decidir qual será o resultado.


15 de março de 2024 - 17h34

Este ano, não podemos negar que a SXSW, principal conferência de inovação do mundo, tem muito mais sessões sobre IA em comparação com o ano passado. Isso nos mostra um amadurecimento da tecnologia e da percepção das pessoas e empresas em relação aos desafios e oportunidades destes avanços. Além disso, embora existam esforços sérios para tornar os sistemas de IA mais éticos e justos, ainda há muito trabalho a fazer.

Sempre considerada uma das palestras mais aguardadas a cada edição do evento, a futurista Amy Webb é reconhecida mundialmente por seus insights perspicazes sobre o futuro. Desta vez, a 17ª edição do seu relatório de tendências apresentou uma densidade extraordinária, com quase mil páginas em meio a diferentes cenários, possibilidades e análises. A de maior destaque, para mim, foi a ideia da formação da “Gen T”, ou a geração de transição.

Amy nos trouxe o retrato de gerações atuais que vivem na incerteza, pois estamos diante de inúmeras mudanças, trazendo um forte sentimento de ansiedade diante do que vai acontecer nos próximos anos, tanto em nossas vidas (aspecto micro), quanto com a sociedade (aspectos macro). Este permanente estado de ansiedade crescente tem se acumulado e consome a nossa capacidade de sermos otimistas. Para ela, os líderes de hoje ficam paralisados por essa incerteza e deixam de tomar decisões de impacto, um fenômeno novo que ela descreveu como FUD (Fear, Uncertainty and Doubt): Medo, Incerteza e Dúvida. Paira no ar o medo de mais guerras, menos empregos, monopólios, ditaduras, fome e desastres provocados pelas mudanças climáticas, congelando líderes e fazendo com que tomem atitudes conservadoras.

Essa preocupação coletiva abrange diferentes idades e gerações, incluindo Baby Boomers, Z, X, Millenials e Alfas. Somos a geração da transição, não importa a nossa idade. Estamos conectados por uma forte transformação tecnológica e a probabilidade de rápidas mudanças, muitas irreversíveis, da qual todas as pessoas que estão vivas hoje participam, e a qual ela denomina a “Gen T”.

Refletindo sobre esses pontos e outras discussões que pude assistir no SXSW, ao menos três grandes painelistas apresentaram grandes previsões, tendências ou paradigmas para o futuro. Todos trouxeram como elemento dominante da conversa os avanços da IA e uma visão crítica sobre seu uso. Muitos trouxeram visões para negativas ou distópicas – que vão desde a perda de empregos até cenários de um capitalismo ainda mais selvagem, dominado por poucos e totalitário.

Acerca dessa preocupação com o futuro do trabalho e em desafios globais que nos colocam no epicentro das grandes mudanças, quem deve decidir os caminhos da próxima transição? Essas questões já estão sendo debatidas. Regulações sobre vários aspectos do funcionamento das IAs devem movimentar o mundo jurídico nos próximos anos, mas não só: engenheiros também terão que se adaptar aos guardrails necessários para que a tecnologia não se torne prejudicial à sociedade.

Acredito que podemos construir uma plataforma que vai prover um ecossistema mais seguro e que possa manter os bons aspectos da sociedade, que conquistamos a duras penas. Para isso, será necessário compartilhar a construção desses ecossistemas entre todos os atores relevantes, ou seja: empresas, poder público e sociedade. Com isso, a maior reflexão é de que não se trata apenas da tecnologia em si, mas de como as pessoas, empresas e governos vão utilizá-la. A discussão sobre os avanços da IA não são um problema, mas sim um caminho para a sua utilização ética, democrática e segura.

Da mesma forma que Amy questiona os próximos passos da “Gen T”, precisamos abordar e questionar as decisões de quem está criando, financiando e promovendo esse crescente controle de dados por IA e como as novas tecnologias estão exercendo o domínio sobre nossas vidas e nossas informações. O avanço da inteligência artificial está totalmente relacionado ao seu potencial de ganhos econômicos.

Estamos diante de uma era de mudanças profundas e rápidas, mas também de oportunidades sem precedentes. Precisamos enxergar esses avanços a exemplo de tecnologias como o fogo, a roda, o vapor, a eletricidade, a internet e, agora, a inteligência artificial. A transformação é inevitável, mas podemos decidir qual será o resultado.

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