“Meu interesse maior em Austin esse ano não está em IA”
Em sua segunda vez no SXSW, Frederico Battaglia, CMO da Stellantis Latam, pretende focar em saúde mental e ambiente de trabalho
Em sua segunda vez no SXSW, Frederico Battaglia, CMO da Stellantis Latam, pretende focar em saúde mental e ambiente de trabalho
Amanda Schnaider
9 de março de 2024 - 6h01
Inteligência artificial é um dos assuntos de destaque do South by Southwest, que neste ano, ganhou uma trilha inteira dedicada ao tema. Entretanto, em sua segunda participação no festival, Frederico Battaglia, CMO da Stellantis Latam, pretende focar em outras palestras e discussões que também permeiam o seu dia a dia de trabalho.
Ao contrário do esperado, o executivo também não irá focar sua agenda em conteúdos sobre automóveis, pelo contrário, Battaglia quer se aprofundar em dois temas: saúde mental e ambiente de trabalho.
Com a aceleração da transformação digital em todos mercados, esses foram dois temas que ganharam relevância em meio às discussões da indústria criativa, que por muito tempo levou o estigma de alimentar ambientes tóxicos de trabalho. Consequentemente, essas discussões também passaram a ganhar mais destaque dentro da programação do SXSW.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Battaglia conta como foi sua experiência no SXSW de 2023 e quais são os seus anseios e expectativas para a edição deste ano, que teve início na sexta-feira, 8, e vai até 16 de março.
Meio & Mensagem – Durante o ProXXIma do ano passado, você e disse que voltou do SXSW 2023 com a missão de ser uma das pessoas que contribui, colabora, trabalha para que tenhamos um futuro melhor. De que forma está concretizando essa missão?
Frederico Battaglia – Voltei muito mexido do SXSW do ano passado. Nunca tinha ido, me falavam que era algo que marcava e, inclusive, estando lá não é super claro a o que você está sendo exposto. Teve uma segunda fase do SXSW que foi aterrissar tudo isso, preparando materiais para conversar com a minha empresa, quem financia a minha ida, com a minha equipe e em outros lugares, que fui convidado para falar sobre o assunto, como o ProXXIma. Organizei também com alguns parceiros próximos da Stellantis que estiveram lá para fazermos uma sessão com o meu board aqui. E durante essa preparação, fui decantando tudo que ouvi por lá. E essa fase foi super legal e valiosa para consolidar os aprendizados, para tentar estruturar um raciocínio e para capturar o que outras pessoas que estavam perto de mim também aprenderam. A forma como tentei estender os efeitos para além de mim, primeiro, foram esses próprios encontros, onde pude transmitir um pouco daquilo que ouvi, para um grupo muito maior. Depois, tentei aplicar no meu dia a dia uma forma de fazer e, efetivamente, concretizar esses aprendizados. Tem duas que são mais pragmáticas em cima dessa aplicação. A primeira é: eu aprendi muito sobre organização do trabalho mesmo. O track de workplace é muito interessante. Teve uma palestra da Amy Gallo, na qual ela falou sobre como lidar com pessoas difíceis, que era uma conversa até provocativa, porque parecia que ela ia te explicar como você poderia lidar com pessoas difíceis, mas ela tentava lembrar que, na verdade, todos nós podemos ser difíceis. Trouxe para a minha governança tentativas de melhorar o jeito de trabalhar. Tentando melhorar a estruturação de como nos organizamos para as reuniões. Não deu tempo de fazer tudo o que gostaria. Depois de 12 meses, muitas das coisas que eu imaginei fazer ainda estão em processo de conversa, nem de implementação. E a outra vertente, foi, obviamente, na inteligência artificial. Outra coisa muito legal do SXSX tem a ver com networking. Você acaba tendo um contato mais próximo com pessoas muito legais do nosso mercado. Ao longo do ano, achei legal poder trocar a ideia com pessoas que estiveram comigo lá e tem cargos parecidos com o meu de outras indústrias, para capturar ideias do que eles estavam fazendo. Nesses papos, nasceu a ideia de criar um grupo para acelerar a aplicação de inteligência artificial na empresa. O grupo tem dez pessoas, as mais experientes, que verticalizam as atividades da área, gen Zs da empresa, do time de marketing da Stellantis, que são os fuçadores sonhadores e curiosos. Começamos fazendo esse grupo toda, eles traziam [ideias] e fazíamos um bate-papo. Agora, depois de uma primeira acelerada, entendemos que as evoluções precisavam de mais tempo e, agora, estamos fazendo uma vez por mês. Olhamos e, inclusive, procuramos acelerar a adoção também dos parceiros, porque na nossa estrutura, a área de marketing é muito um orquestrador. Não é ela quem toca efetivamente o instrumento. Não só temos tentado fazer aplicação de ferramentas para o nosso dia a dia, por exemplo, interpretação de comentários de redes sociais e avaliação de polaridade. Como também tentando acelerar e estimular a utilização de ferramentas nos parceiros, nas agências para produção de conteúdo, análise de dados de vendas, tem uma quantidade de áreas de potencial aplicação gigantesca, que esse grupo também nos ajuda a ganhar atração nessa aplicação. O que você mede, você acelera. Então, tendo um olhar diretamente meu em cima disso, com os parceiros todos, ganhamos também velocidade, portanto, eventualmente alguma vantagem competitiva.
M&M – Qual é importância para um profissional CMO de hoje, que tem cada vez mais atribuições, estar presente no South by Southwest?
Battaglia – Fiz questão de voltar, porque acredito que tem um pedaço do papel, que passa por ter essa antena sobre o comportamento. O papel do marketing passa por você encontrar as boas histórias para explicar para as pessoas por que a sua oferta, o seu produto, o seu serviço, é relevante para a vida dela de uma forma bacana, divertida, sedutora, convincente. E para que você faça isso de forma eficiente e efetiva, quanto mais você conhecer a mente e as tendências, mais você consegue ser valioso para a sua companhia. Saí o ano passado achando que eu ia pensar mais como ia organizar o meu futuro, e agora que entendi que como funciona lá, você consegue também ter muito contato com o que é aplicável no presente, porque você tem contato com as mais recentes teorias, estudos, avanço do conhecimento humano sobre uma amplitude gigantesca de matéria. Tudo isso te compõe um enquadramento do funcionamento da mente humana, por um lado, e da organização dos negócios, por outro, que é muito produtiva para o trabalho do dia a dia. Conseguimos dar uma chacoalhada um pouco em muitas coisas que estavam acontecendo aqui. A Stellantis é uma empresa que vai muito bem, mesmo assim é interessante ter outras referências para entender que mesmo estando “ganhando o jogo”, você pode mexer peças que são bastante relevantes para tornar a sua empresa ainda mais vencedora. O motivo é esse. E ser inspirado para poder transmitir e inspirar. Você entra num lugar que é essa nuvem, essa Nárnia, onde você recebe estímulos tão diferentes do teu dia a dia que você volta diferente também. Com um pouco de aplicação e dedicação, você consegue emanar esse espírito inovador, provocador e de inquietude com o status quo.
M&M – A inteligência artificial tomou conta do SXSW 2023, tanto que, neste ano, o evento ganhou uma trilha inteira dedicada ao assunto. De que forma você avalia a evolução das discussões sobre IA no mundo de um ano para cá?
Battaglia – O ano passado foi meio que o pontapé inicial das conversas, porque antes do GPT 4, ninguém acreditava que o potencial fosse o que é. Ao longo do último ano, proliferou as aplicações de vários tipos em diversas frentes, até mesmo o próprio GPT lançando a ferramenta de vídeo deles. E acredito que estamos ainda no olho do furacão do que pode vir a ser a inteligência artificial. Apesar de termos corrido muito e acelerado uma série de coisas, a aplicação cotidiana, no meu caso específico, ainda não é algo que faz uma diferença gigantesca no negócio, na conta econômica, na organização da equipe, nas ferramentas que temos à disposição. Ainda não é uma realidade efetiva no nível do negócio. Ela já é na conversa, na estruturação, no ajuste, no facilitar algumas coisas, no escalar algumas aplicações, mas acredito que ainda não é parte significativa do negócio da Stellantis. O negócio da Stellantis é projetar, desenvolver, fabricar, comercializar e reciclar automóveis. É um troço muito hardcore, não é filosófico. Você tem que desde minerar aço e lítio, até reciclar borracha. É uma cadeia gigantesca. Ainda estamos bem no meio da conversa sobre o potencial e tudo que vem em volta. Para não deixar acontecer o que aconteceu com redes sociais, fala-se muito mais de regulação nesse princípio do que se falava de regulação no princípio das redes sociais. Isso é muito bom para que não deixemos que um potencial negativo aconteça de maneira espontânea, que ele possa ser mais pivotado. O meu interesse maior em Austin esse ano não está em cima de IA. Não porque eu não queira aprender mais sobre IA, mas não é o foco principal, não é o maior volume de coisas que eu quero assistir. Os nomes que tenho mais vontade de assistir têm mais a ver com mental health e com o workplace do que todo o resto.
M&M – Neste sentido, quais são as suas expectativas para o SXSW 2024?
Battaglia – É, eu acho que eu vou curtir mais esse ano do que o ano passado, porque estou sabendo um pouco mais sobre evento, estou um pouco mais esperto sobre o que pode fazer sentido para mim ou não. Estou tentando montar a minha agenda de uma maneira muito mais pragmática do que o ano passado, com dicas muito mais elaboradas, de pessoas que confio. A minha expectativa é essa, de curtir mais, ficar com menos FOMO. Tem uma série de conteúdos que ficam disponíveis online depois também. No ano passado, eu não tinha clareza sobre isso, mas depois assisti uma série de palestras na SXSW TV. Tem essa de eu estar me estruturando e me organizando melhor e, portanto, vou curtir mais, e estou um pouco menos focado em computação quântica e inteligência artificial, e direcionando um pouco mais o meu conteúdo a ser assistido em cima de mental health e de workplace.
M&M – Antes, carro autônomo e conectividade eram as pautas de inovação da indústria auto. Parecem que perderam espaço para eletrificação. Com o avanço do 5g essas pautas voltarão?
Battaglia – A indústria automobilística já conseguiu entender qual é o seu próximo passo. A Stellantis declara isso, ser uma é auto tech company. Então, essa clareza sobre para aonde vai já fez isso deixar de ser notícia. Agora, está todo mundo realmente esperando quando é que vai acontecer a virada total para carro elétrico e autônomo. Vemos nos Estados Unidos, em algumas cidades, alguns carros autônomos rodando, então estamos meio que nesse movimento incremental das empresas como a minha que nasceram, tirando a fusão, há mais de 100 anos, e estão rumando em direção a um outro lugar, concorrendo com essas montadoras, que chegaram um pouco depois e que já nasceram com o espírito um pouco diferente. Nesse instante, deixou de ser notícia, quando começarmos a ter uma escalada maior da adoção de carro autónomo e eletrificação, sobretudo, para nós da América do Sul, isso pode vir a ser uma notícia com mais vontade das pessoas saberem. Eu, no SXSW, vou muito pouco a conteúdos de carro, porque tendencialmente são movimentos aos quais eu tenho mais acesso no meu dia a dia. Quando vou ao SX, frequento muito pouco conteúdos relativos a marketing, especificamente e automóveis. São as trilhas que eu menos me envolvo, porque são as trilhas onde eu já tenho mais informação, por assim dizer. Se eu vou para Austin para falar de futuro, acredito que para mim é mais relevante ouvir o John Maeda, que pira, do que ouvir um CEO concorrente falando do negócio dele. É mais rico para a minha construção ver conteúdos com os quais eu tenho muito pouco contato ao longo da minha jornada profissional habitual.
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