DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

O Futuro do Sexo no SXSW 2023

A evolução da inteligência artificial, especialmente em sua versão generativa, foi o tema principal deste ano no SXSW. Mas o que pode acontecer com as nossas relações amorosas e intimidade quando essas e outras tecnologias emergentes se popularizarem?


23 de março de 2023 - 18h04

(Crédito: Shutterstock)

Embora existam vários cenários possíveis para o futuro do sexo, conectando alguns insights e experiências trazidos pelo festival, podemos ter algumas ideias do que está por vir.

Intimidade Artificial

Não é novidade para ninguém que a internet, celulares, redes sociais e aplicativos de relacionamento mudaram radicalmente a forma como interagimos afetivamente. Hoje, mais de 65% das pessoas que estão em uma relação se conheceram online. Essa conveniência e hiperconexão, que ao mesmo tempo nos aproxima, alivia a solidão e abastece nossa reserva de dopamina, também causa uma “intimidade artificial”. Segundo Esther Perel, essa “outra IA” ocorre quando despriorizamos as conexões humanas físicas e as substituímos pela interação virtual, diminuindo nossas expectativas do que significa vivenciar uma intimidade real, aquela que contempla interagir com o outro através da nossa presença e sentidos.

Esther não é contra a tecnologia e vê vários aspectos positivos quando a utilizamos de forma consciente para melhorar nossa vida. Mas, faz o alerta para olharmos com cuidado para a saúde de nossas relações e as expectativas que depositamos no que a tecnologia pode entregar.

Inteligência Artificial Generativa + Bots

Em sua palestra, Esther, que é terapeuta, também compartilhou um caso em que uma pessoa que não conseguiu um atendimento diretamente com ela, criou um “Esther BOT” para se consultar e obter “respostas” para seus dilemas amorosos. E apesar do criador do bot ter ficado satisfeito com as respostas obtidas, Esther explicou que quando se trata de assuntos complexos como relacionamentos, ter ou não filhos ou a decisão sobre se divorciar, não existem respostas certas ou erradas. Não é binário e uma Inteligência Artificial Generativa, por mais avançada e científica que possa ser, não tem experiência de vida nem memórias emocionais, que é o que calibra e personaliza uma interação com um terapeuta real.

Mas e se este mesmo bot for criado para fins de “companhia virtual”? Se você puder configurá-lo como um parceiro ou cônjuge para trocas sexuais e afetivas?

A Replika, uma empresa americana de chatbots, já está promovendo esta funcionalidade em seu aplicativo, onde os usuários podem flertar e enviar fotos mais “quentes” para seu companheiro virtual. Esta foi uma das tendências não óbvias apresentadas na palestra de Rohit Bhargava, que justificou que esse tipo de aplicação da IA pode ajudar pessoas idosas ou solitárias e em condições restritas, a “socializar” e se beneficiar dos efeitos psicológicos e hormonais de ter uma companhia, mesmo que virtual.

Além da habilidade cognitiva para interagir com um humano através de textos ou voz, a IA generativa também convergirá para entregar um rosto e um corpo realístico através imagens e vídeos.

Hologramas

Os avatares virtuais também têm o potencial de ganhar outra dimensão através de hologramas 3D.
No evento, foi possível ver hologramas em tamanho real da Hypervision e até a Sininho, personagem da Disney, apareceu no palco do SXSW na versão holográfica, interagindo com Josh D’Amaro, executivo da Disney. Se achamos “fofo” poder conversar com um personagem neste formato, há quem ache que esses avatares possam se transformar em “esposas virtuais”. No Japão, a empresa Gatebox já emitiu “certificados de casamentos” para mais de 4000 homens que adquiriram um avatar holográfico inteligente que vive em uma cúpula de vidro. No futuro, além de personagens, esses hologramas poderão ser representações de amantes reais ou, quem sabe, até celebridades. Já imaginou chegar em casa e contar como foi seu dia para Keanu Reeves ou Scarlett Johansson?

Os robôs humanoides inteligentes, serão a última fronteira na evolução dessas “companhias artificiais”, e embora já existam consumidores para esse tipo de produto, pelo menos nos próximos anos eles serão bem menos populares do que os virtuais, que serão mais acessíveis e impactarão muitas mais pessoas.

Tecnologias Hápticas + Realidade Virtual

A experiência do sexo virtual também poderá ser incrementada com outras tecnologias que irão convergir para tornar a sensação de intimidade ainda mais imersiva e palpável.

Durante o SXSW, foi possível testar algumas delas, ainda que não estivessem aplicadas ao contexto sexual. O Hugtics é um colete vestível sensorizado que permite ao usuário sentir-se abraçado ao abraçar um torso, estimulando a produção de ocitocina no cérebro e criando uma sensação de conexão interpessoal e confiança. A Haptx Gloves apresentou luvas hápticas associadas a um óculos de realidade virtual, permitindo tocar e manipular objetos virtuais com textura, sentir a chuva e até mesmo uma aranha caminhando na palma da mão.

Embora sejam experimentos conceituais, a tecnologia háptica vestível, tem um potencial enorme na indústria de sextech, ao permitir que pessoas possam sentir remotamente um toque e até movimentos corporais.
Já no campo da realidade virtual, 2 experiências mostraram como esta tecnologia pode contribuir para exploração da nossa sexualidade de uma forma educativa, segura e sensorial.

O Body of Mine apresentou como é sentir-se em um corpo que não corresponde à sua identidade de gênero. Ao nos projetar em um espelho, o corpo que vemos não é o nosso, mas podemos ver como ele reage a nossos movimentos e sentir histórias reais de pessoas que passaram por processos de aceitação e revelação de sua verdadeira identidade.
Outro experimento interessante foi o Symbiosis, que além de ser totalmente imersivo, permitia que sentíssemos cheiros e “toques” contextualizados a história que se desenrolava no mundo virtual. Agora imagine se você puder sentir feromônios durante uma sessão terapêutica em realidade virtual? O cheiro está associado à nossa memória, o que pode melhorar a sensação de bem-estar e prazer durante a experiência.

Vale ressaltar que para estas inovações atingirem todo o seu potencial e se popularizarem, é fundamental que os dispositivos evoluam em usabilidade e tornem a experiência como um todo mais agradável e natural.

Tecnologia é meio e não fim

Todas essas tecnologias, apesar de trazerem benefícios para a sexualidade humana, também apresentam riscos e desafios éticos e morais que precisam ser abordados para garantir que sua utilização seja segura e saudável. É fundamental que sejam estabelecidos padrões de segurança e privacidade, além de se discutir questões sobre o consentimento e o limite entre o real e o virtual. A tecnologia é meio e não fim, e, portanto, essas inovações não deveriam substituir a conexão humana, mas sim complementá-la, ajudando-nos a explorar a nossa sexualidade de uma forma mais positiva e enriquecedora.

Publicidade

Compartilhe