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SXSW

Parem de dizer que o SXSW é diverso

"O SXSW é uma festa de gente rica (e branca)", assim começou o painel do Douglas Rushkoff sobre o fim do mindset bilionário no SXSW


15 de março de 2023 - 11h11

diversidade e inclusão nas empresas

(Crédito: Shutterstock)

“O SXSW é uma festa de gente rica (e branca)”, assim começou o painel do Douglas Rushkoff sobre o fim do mindset bilionário no SXSW. No meio do inverno das startups e a falência do Sillicon Valley Bank, maior credor das startups, estamos ouvindo que o SXSW é um evento muito diverso, o que está longe de ser verdade.

A fama de diverso que recebeu não se sustenta ao observar o básico: quando o ingresso para participar de um evento custa US$ 2 mil dólares, evidentemente existe um filtro sobre quem os organizadores querem que façam parte dessa festa. Como encontrar inovação e diversidade, quando as pessoas que têm acesso à discussão sobre futuro e as mudanças no mercado são as mesmas que estão criando tudo que já conhecemos e vamos conhecer?Não é diverso quando em encontros com lideranças, é desproporcional a quantidade de mulheres que têm ocupado esses cargos. E já não é diverso considerando que são pessoas brancas. A identificação de evento realizado para a bolha é reforçada quando olhamos ao redor e buscamos a presença de pessoas pretas — no palco ou na plateia.

Nesta edição, a delegação brasileira é a maior presente no evento, o que sinaliza sobre o nosso interesse em participar de novas discussões e aplicar novas soluções para realidade que conhecemos. Mas só isso não definiria como uma festa diversa e proporcional. Considerando a participação de brasileiros, o saldo final é a sensação de déjà vu: um recorte das discussões que são avançadas no Brasil sobre carreira, mercado, diversidade, o futuro da tecnologia, foi apresentado em inglês e apresentado para o público, sem nenhuma tradução — com ressalva para cerca de 10 palestras que tiveram tradução simultânea em português e espanhol realizada por um novo patrocinador master. O público em questão faz parte de uma bolha não diversa, vale lembrar. E ok, o assunto pode ser novidade mesmo, mas para quem?

E onde falta inclusão, sobra cansaço. É exaustivo para pessoas pretas serem as únicas a questionar ideias entre pessoas que têm o pacto de se proteger. Não é possível aprofundar e analisar os temas discutidos em tempo real quando você é a única pessoa na mesa atenta a pontos que precisam ser questionados.

Porque não importa em qual lugar do mundo você esteja. Seja no berço do que consideram inovação, ou no país considerado o centro do desenvolvimento do mundo: serão sempre pessoas negras a questionar.

O SXSW é um espaço em que as mesmas pessoas sempre estão presentes, compartilhando ideias com a segurança de que esses questionamentos não virão — pelo menos, os que virão não serão sobre incômodos que afetam pessoas com realidades comuns.

Por outro lado, se entendermos que diversidade não é o número de pessoas e delegações de um determinado espaço e sim a paridade em falas e relevância na presença, faltou acesso para que existisse presença. Na mesma linha de discussões que já estão presentes na realidade brasileira e que tínhamos como expectativa para um evento com alcance internacional — que prometeu diversidade e inclusão no período de divulgação —, nenhuma palestra contou com a presença de tradutores de sinais.

Sem diversidade, não existe como construir discussões profundas. Quem acompanhou do Brasil, obviamente teve a sensação de acompanhar mais do mesmo. Daqui do SXSW 2023, as pessoas que vieram do Brasil tiveram certeza que, com o devido financiamento, não precisam sair do próprio país para propor discussões e construir soluções relevantes.

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