Ricardo Silvestre no SXSW 2023: “Esse espaço também é nosso”
Em entrevista ao Meio & Mensagem, CEO da Black Influence revela como foi a sua primeira experiência no festival e o que espera para este ano
Em entrevista ao Meio & Mensagem, CEO da Black Influence revela como foi a sua primeira experiência no festival e o que espera para este ano
Amanda Schnaider
10 de março de 2023 - 8h03
Como um dos maiores festivais de inovação e criatividade no mundo, o South by Southwest reúne milhares de pessoas, das mais diversas culturas, crenças e estilos, todos os anos nas ruas movimentadas de Austin, Texas. Apesar disso, quando se trata da participação brasileira no evento, essa diversidade não é tão visível assim.
Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, que foi ao SXSW pela primeira vez no ano passado, entende a importância de grupos minorizados estarem no evento. “Assim podemos mostrar para todos que esse espaço também é nosso”. Em entrevista ao Meio & Mensagem, o executivo revela como foi a sua primeira experiência no festival e o que espera para este ano.
Meio & Mensagem – Você esteve no SXSW pela primeira vez no ano passado. Quais foram as suas principais percepções do evento? O que mais te chamou atenção?
Ricardo Silvestre – Estar em um evento deste tamanho pela primeira vez foi extremamente gratificante, principalmente por ser algo muito distante para mim até pouco tempo atrás. Conhecia o evento, ouvia falar, via meus chefes participando, era impactado por textos, imagens e isso sempre ficou no meu imaginário, então foi também uma imensa realização pessoal e profissional. Conheci pessoas, troquei contatos, absorvi muito conhecimento, gerei conteúdo e aprendi coisas novas. Lá de dentro eu pude perceber a dimensão e a importância que o festival tem e porque é tão relevante para a comunidade criativa global. Um dos momentos que mais me chamou atenção foi ver a Lizzo como uma das speakers principais do evento no palco, sem papas na língua e dizendo o que precisava ser dito para o mundo. Foi muito impactante, principalmente por ser uma mulher preta e gorda, fora de qualquer estereótipo tido como padrão. Fiquei sempre comparando, pensando como seria isso no Brasil e cheguei a conclusão de que essa possibilidade sequer aconteceria, pelo menos não com facilidade. Então, isso realmente chamou a minha atenção, sobre como o nosso país está atrasado nesse aspecto diante do restante do mundo.
M&M – De que forma você aplicou os conteúdos que viu no evento no ano passado na sua agência?
Silvestre – Aprendi muito no SXSW no ano passado, e esses ensinamentos foram sendo aplicados na Black Influence de forma gradual. Começamos, por exemplo, a explorar agora a área de consultoria, para que seja possível atuar de dentro das empresas, com intuito de mudar pensamentos atrasados sobre diversidade, racialidade sob o olhar da inovação. Isso faz muita diferença na hora de passar a mensagem das campanhas. Estamos preparando algumas novidades para esse primeiro semestre, usando também algumas inspirações que vieram do último festival e que sem dúvida também virão do desse ano.
M&M – Quais são as suas expectativas para este ano? Quais temas e palestras mais estão te chamando a atenção?
Silvestre – Estou muito animado, porque é um espaço incrível para aprender e trocar coisas novas, buscar tendências e desenvolver ainda mais os conhecimentos que já tenho, traduzindo-os para a realidade da Black Influence e principalmente dividir com a comunidade que não tem a oportunidade de estar no evento. Tem muita coisa bacana para ver e gente interessante para conhecer. Em especial, estou super animado para uma palestra sobre Ativismo de Marca (Brand Activism: No More Business as Usual), que tem tudo a ver com a minha realidade na agência. Ela vai falar sobre a necessidade das marcas se posicionarem em questões importantes e delicadas, e isso tem muito a ver com tudo que acredito. Estou de olho em algumas outras: “Diverse Creators Are Unpaid: How do we fix it?” e a Featured Session com Rohit Bhargava: “15 Non-Obvious Trends Shaping our Future Normal”.
M&M – A Creator Economy tem ganhado cada vez mais espaço dentro da programação do SXSW. Por que isso está acontecendo? E como um evento como esse pode contribuir para esse mercado?
Silvestre – A Creator Economy está ganhando cada vez mais espaço não só na programação do festival, como também no mercado. Já é uma realidade que vemos no mundo todo. Existem cada vez mais pessoas dentro das redes sociais, com a intenção de monetizar esse trabalho. Grandes empresas já investiram bilhões em startups com foco em Creators, e esse tema ainda vai ficar em alta por muito tempo. Então a programação do SXSW é só um reflexo de uma tendência que já está super em alta e assim vai se manter por muito tempo.
M&M – Qual é a importância de grupos minorizados também terem acesso a grandes eventos como o SXSW?
Silvestre – Quando eu trabalhava em outras agências, via sempre as mesmas pessoas nesses grandes eventos. Pessoas que ocupavam os grandes cargos da empresa, sempre com pouca ou nenhuma diversidade. A importância de pessoas diversas estarem no maior evento de tecnologia, comunicação e marketing do mundo é que assim podemos mostrar para todos que esse espaço também é nosso. Assim, podemos assumir o protagonismo neste lugar, compartilhar tudo que aprendemos durante o festival e contribuir para que outros criadores negros vejam que um dia também podem estar aqui, que esse lugar também pertence a eles.
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M&M – Acredita que ainda falta diversidade e representatividade no evento?
Silvestre – Sempre falta e dá para melhorar, mas algo me chamou a atenção sobre esse assunto. Existe um público enorme e diverso, inclusive de pessoas pretas de outros países que participam do evento anualmente desde muito tempo, mas o cenário muda drasticamente quando pensamos em brasileiros. É como se não houvesse brasileiros negros que pudessem estar lá. No ano passado, inclusive, alguns colegas e eu formamos provavelmente a maior delegação negra brasileira, da história do evento e isso é um bom sinal. Fizemos história e mostramos a nossa cara para Austin e para o mundo, cheia de diversidade e representatividade. Esse ano, vamos fazer história mais uma vez. E só podemos mudar esse cenário dessa forma, com intencionalidade por parte das agências e outras empresas que sempre mandam representantes ao evento, ocupando e conquistando esses espaços que sempre foram de difícil acesso e beneficiavam sempre o mesmo grupo de pessoas, que inclusive não compartilhavam seus aprendizados. Estamos em um processo de conquistar ainda mais protagonismo e isso definitivamente não acontece de uma hora para outra por uma série de questões. Contudo, já vemos que, mesmo devagar, algumas mudanças já estão sendo feitas e seguiremos nesse processo de evolução e alternância que são tão importantes para o mercado.
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