GenZ no comando: o que muda na liderança?
Estudo traça o perfil dos novos líderes, que se preocupam em equilibrar a vida da equipe e têm dificuldade em pedir ajuda
No universo do trabalho, não são poucas as discussões – e reclamações – sobre a Geração Z. No espectro positivo, eles são tidos como novos entrantes, nativos digitais de pensamento rápido e dispostos a uma transformação no mercado. Já no negativo, eles são apontados como descomprometidos, frágeis e até preguiçosos ou mimados.

(Crédito: Shutterstock)
Mas, essa percepção pode encontrar dissonâncias na realidade. Não existe um consenso sobre a demarcação exata do início da Geração Z. Em linhas gerais, ela representaria os nascidos entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2010. Isso significa dizer que os primeiros membros da GenZ já chegam à casa dos 30 anos.
Em 2025, eles compõem 27% da força de trabalho global. Segundo o IBGE, no Brasil, 48% dos jovens nascidos entre 1997 e 2010 são economicamente ativos.
Desde 2019, Cintia Gonçalves, fundadora da consultoria Wiz&Watcher e sócia da Suno United Creators, desenvolve a pesquisa Futuro do Trabalho. Em sua quinta edição, o estudo qualitativo contou com 416 respondentes entre 15 e 28 anos, das classes A, B e C, com quatro grupos de discussão e mais 10 entrevistas em profundidade com especialistas.
Entre eles, 63% são liderados e 37% líderes. O estudo destaca, primeiro, o fato de que gerações anteriores também foram alvos de críticas no passado. Enquanto a Geração Z parece não ser resiliente o suficiente, os Baby boomers foram tidos como a geração que quebrou a América. A geração X foi chamada de preguiçosa e os millenials de Geração Mimimi.
A principal diferença, no entanto, é que a Geração Z teria experimentado um grande avanço tecnológico em um curto espaço de tempo. Além disso, parte desse público teve a pandemia da Covid-19 como contexto de sua entrada no mercado de trabalho. A fundadora da Wiz&Watcher descreve a formação da GenZ em um binômio: superprotegidos da vida presencial e subprotegidos dos efeitos da vida online.
No estudo, 61% dos entrevistados da GenZ que estão no mercado de trabalho declaram que o trabalho é uma parte importante de sua vida. Entre os que são chefes, esse número salta para 86%. Mas, as organizações são apenas uma das possibilidades de futuro.
Questionados sobre onde gostariam de estar nos próximos dez anos, 57% dizem que gostariam de estar à frente do seu próprio negócio, na sequência aparece a possibilidade de fazer parte de um time em uma grande empresa (37%).
Entre as razões que os fazem querer permanecer em uma empresa, estão ter um plano de carreira (27%), um bom ambiente de trabalho (23%), ter estabilidade (21%), sentir que está evoluindo e aprendendo (21%), assim como um salário acima da média e metas claras (19%, ambos).
Conflitos geracionais
Atualmente, pela primeira vez, cinco gerações convivem junta no mundo do trabalho. É desse encontro e nos diferentes conceitos sobre trabalho que nascem desafios. No estudo, 61% dos entrevistados apontaram que a diferença geracional impacta negativamente no trabalho.
A pesquisa questionou como eles imaginam ser percebidos pelas gerações anteriores. A opção mais indicada (29%) foi “a geração do mimimi”. Também aparecem opções como “uma geração que domina a tecnologia” (28%), “uma geração frágil, que não tem estabilidade emocional”, “uma geração que desiste de tudo muito fácil” (26% ambas).
Quando foram perguntados sobre o que buscam quando precisam aprender algo novo, a opção de perguntar para o chefe ficou na sexta posição (27%), superada por buscar na internet (59%), assistir vídeos sobre o tema (51%) ou consultar a inteligência artificial (36%).
“Nós temos relações de conflito e de falta de confiança. E isso, quando pensamos em uma relação entre líder e liderado, é justamente o que não podemos deixar de ter. A confiança é o primeiro pilar para você estabelecer um relacionamento”, descreve Cintia Gonçalves.
GenZ na liderança
Uma vez que ascendem aos cargos de lideranças, os profissionais da Geração Z também têm desafios próprios. A pesquisa Futuro do Trabalho traçou um perfil desses líderes. Alguns dos pontos mais citados são: conseguir fazer com que o time entregue sem impactar o equilíbrio de vida (15%) ou entender todas as demandas e priorizá-las (14%), identificar quando pedir ajuda (11%).

Fonte: Pesquisa Futuro do Trabalho, idealizada por Cintia Gonçalves, fundadora da consultoria Wiz&Watcher | Base: 155 líderes da Geração Z (entre 15 e 28 anos) entrevistados pelo estudo.

Fonte: Pesquisa Futuro do Trabalho, idealizada por Cintia Gonçalves, fundadora da consultoria Wiz&Watcher | Base: 155 líderes da Geração Z (entre 15 e 28 anos) entrevistados pelo estudo.
O que essas mudanças indicam para futuro? Para a responsável pelo estudo, Cintia Gonçalves, é preciso rever as métricas que guiam o trabalho com olhar para o engajamento.
“Precisamos entender que performance, antes, era igual a resultado. ‘Quantas coisas eu produzo em oito horas?’ Hoje, não é mais. Eu preciso do engajamento para essa nova economia da criatividade. O resultado o algoritmo resolve. O engajamento é sobre criar, crescer, se adaptar, que é tudo o que vamos precisar no futuro do trabalho. Empresas com maior nível de engajamento têm maior produtividade e maior lucro”.