Web Summit

NFTs: crise, desafios e oportunidades

Felipe Ribbe, da Sócios.com, e Ana Deccache, do Rock in Rio, comentam momento de queda dos tokens não-fungíveis (NFTs) e o que isso significa de oportunidade para o mercado


2 de novembro de 2022 - 7h15

Os tokens não-fungíveis, mais conhecidos pela sigla NFT, continuam sendo pauta em eventos de inovação. No Web Summit não é diferente. Representantes da Yuga Labs, empresa responsável pela criação da coleção Bored Ape Yatch Club, cujos donos são celebridades, estarão presentes para discutir o presente e o futuro dos tokens. A Yuga Labs é uma das representantes mais famosas do universo dos NFTs, por ter atraído compradores como Neymar, Justin Bieber, Madonna e outros.

 

NFTs da Yuga Labs conquistaram clientes famosos (Crédito: Divulgalção/ Bored Ape Club)

Mesmo com a ampla aderência inicial, os NFTs vivem uma queda no mercado, assim como todo o setor relacionado a criptoativos. Segundo dados da CoinGecko, o preço mínimo das coleções da Bored Ape Yacht Club caiu 14,6% nos últimos três meses. Conforme a Dune Analytics, o mercado caiu de US$ 17 bilhões, em janeiro deste ano, para US$ 466 milhões em setembro, uma queda de 97%.

Felipe Ribbe, diretor da Sócios.com no Brasil, atribui o período desafiador à inflação vivida nos Estados Unidos e na Europa, o que aumenta a taxa de juros e faz com que as pessoas fujam de investimentos de risco. Segundo o executivo, era uma tendência natural que isso ocorresse depois de uma especulação e faturação acima do normal em relação aos NFTs.

Apesar disso, o período instável traz benefícios para o mercado como um todo. O primeiro deles é ter tornado os ativos mais acessíveis às mais variáveis condições financeiras. Conforme dados da OpenSea, apesar da queda no volume de negociações em termos de valores, houve um maior número de transações e de usuários, o que indica que os NFTs têm se tornado mais acessíveis.

“Vejo com muito bons olhos esta ‘democratização’, primeiro porque se queremos que a Web3 se torne mainstream, precisamos atrair o maior número de pessoas possível; segundo porque aumenta-se a liquidez do mercado como um todo, uma vez que há mais participantes. É importante falarmos, no entanto, que a democratização não passa apenas por valores mais acessíveis”, explica Felipe.

Além disso, o momento incita uma reflexão sobre o propósito real dos ativos. “Particularmente vejo este ‘inverno cripto’ como algo positivo, pois é o momento em que bons produtos e boas aplicações, que tenham utilidade real e não sejam baseadas apenas em especulação, ganham espaço”, argumenta. Os fan tokens de utilidade, por exemplo, não são colocados à prova diante de flutuações, diz o executivo.

Todos esses pontos contribuem para uma maior educação do mercado e rompimento da imagem de que os NFTs são puramente objetos de especulação ou uma nova fonte de receita rápida, quando o intuito do setor é criar uma nova frente de relacionamento com o consumidor, com valores compartilhados e que tragam experiências exclusivas para seu dono.

Tendências e Rock in Rio

Felipe aponta para alguns movimentos que pautam o setor relacionados a NFTs. Um deles é a adoção de NFTs por marcas como Reddit e Starbucks para seus programas de fidelidade. Outro é a distribuição gratuita de NFTs. “Se os NFTs devem ser vistos como ferramentas para construção de relacionamentos diretos no longo prazo, faz muito sentido entregar este token para começar esta relação, criar uma comunidade em torno do produto ou marca, e, aos poucos, passar a monetizar esta relação a partir do momento em que a pessoa percebe valor real no que está sendo entregue”, explica.

O Rock in Rio adentrou o mercado de NFTs distribuindo seus primeiros empreendimentos do tipo gratuitamente. O festival distribuiu artes digitais em forma de NFTs para todos os presentes na edição de 2022 como uma forma de garantir que o usuário foi ao evento. A coleção conta com sete artes inspiradas nas pulseiras que servem de ingresso ao Rock in Rio. O evento já marcou presença também no metaverso, com o jogo Fortnite. Mesmo que distribuídos gratuitamente, os NFTs do Rock in Rio foram vendidos por valores de até R$ 2 mil em mercados secundários.

“Fazendo o uso acertado dessa tecnologia, garantimos mais uma forma de, não apenas estarmos presentes também nessa esfera da vida do nosso fã, como também presenteá-lo com memorabilias ou outros produtos que ele tem orgulho de ter, expor e compartilhar em seu universo ou metaverso digital”, expõe Ana Deccache, diretora de marketing do Rock in Rio e The Town. Segundo a executiva, os NFTs são uma boa forma de se relacionar com o fã, oferecendo benefícios conforme a relação se estreita. Para isso, ainda há necessidade de democratização do mercado e das plataformas.

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