NFTs no Instagram: O que é e como funciona?
Léo Brazão, co-fundador e sócio da Deboo, explica os impactos da atualização
Léo Brazão, co-fundador e sócio da Deboo, explica os impactos da atualização
Carolina Huertas
2 de setembro de 2022 - 6h00
No começo de agosto, Mark Zuckerberg anunciou a expansão dos NFTs no Instagram. Desde então, usuários de mais de 100 países, incluindo o Brasil, podem utilizar os colecionáveis digitais em seus perfis. Mas como essa conexão funciona na prática? Qual o propósito e como isso pode impactar o mercado?
Para entender melhor a questão, o Meio & Mensagem conversou com Léo Brazão, co-fundador e sócio da Deboo, empresa de tecnologia que trabalha no desenvolvimento da Web.3 e conta com parceiros e clientes como CNN, Feira Preta, Vivo e SPFC.
Meio & Mensagem – Como funcionará o uso dos NFTs no Instagram?
Léo Brazão – Seguindo a ideia central, o recurso terá conexão com a carteira digital do usuário ao perfil do Instagram. As pessoas poderão escolher quais NFTs elas gostariam de compartilhar, assim que o usuário publicar um colecionável digital, ele receberá um tratamento visual especial e poderá exibir informações públicas, como a descrição da NFT e sua certificação de autenticidade. O criador e o colecionador podem também ser marcados automaticamente no post do colecionável digital (sujeito às suas configurações de privacidade). A Meta deve permitir integração com quatro populares blockchains do mercado: Ethereum, Polygon, Solana e Flow. Sem taxas associadas à postagem ou compartilhamento. Não foi revelado se a plataforma pretende ter um sistema de coleções, ou um marketplace para comércio dos itens, mas com a empresa sendo detentora de um Metaverso, a inovação e grandiosidade é esperada.
M&M – O que será possível com as carteiras digitais?
Brazão – Conectar a carteira ao perfil do Instagram possibilitará às pessoas escolher quais NFTs elas gostariam de compartilhar no Instagram. Será como uma vitrine, inicialmente, mas que além de simplesmente exibir a imagem, trará junto as credenciais que atestam a autenticidade e garantem a propriedade da NFT – ou seja, garante que quem tiver a NFT exibida em seu feed é, de fato, o dono desse ativo. Isso abre uma série de possibilidades de aplicações, como, por exemplo, o acesso dessa pessoa a um evento exclusivo para os “token holders” de determinada marca ou coleção, apenas mostrando a NFT autêntica vinculada à sua conta no Instagram. O mesmo vale para a aquisição produtos, serviços e experiências, programas de relacionamento, até gestão de projetos e governança – por exemplo, portadores de NFTs de um clube ou associação, teriam o direito de deliberar sobre assuntos de interesse dessa comunidade e também votar nas assembléias, e ter essa NFT conectada e rapidamente acessível numa plataforma como o Instagram, facilitaria os processos de verificação. São exemplos de funções que podemos atribuir a uma NFT: utilidade, quando a NFT permite que você tenha acesso a outros benefícios por ser um token holder, ou governança, que define direitos e deveres de um proprietários desse NFT junto à uma organização ou gestão de um projeto. Essas aplicações levam a importância de um NFT a outros patamares de possibilidades, indo além do valor artístico do ativo.
M&M – Como isso pode impactar marcas e empresas?
Brazão – De acordo com o site Statista, existiam cerca de 81 milhões de usuários de carteiras blockchain em todo o mundo em fevereiro de 2022, acima dos cerca de 69 milhões um ano antes. NFTs serão cruciais para a forma como as pessoas comprarão, usarão e compartilharão objetos e experiências virtuais. Existem microtendências surgindo devido a novos comportamentos e inovações tecnológicas. Empresas de diversos setores adotam estratégias de branding utilizando NFTs para se conectar com clientes e fazer novos negócios; com o espírito de comunidade e exclusividade, fortalecendo a ideia de criação de fã-clubes e fidelização de clientes. O Coachella começou a usar NFTs em suas estratégias de branding, por exemplo. Eles garantem vantagens e benefícios aos detentores de tokens, como acesso vitalício ao evento, brindes VIP, cópias físicas de álbuns de fotos do evento, entre outros. Marcas voltadas a roupas também estão investindo na tecnologia: Nike, Adidas e grifes de luxo, como Balenciaga, com iniciativas que vão de acessórios digitais para utilização em plataformas de Metaverso e Redes Sociais, a experiências físicas dentro do ecossistema das marcas, como eventos exclusivos, visitas aos ateliers, entre outras. No ramo alimentício, McDonald ‘s, Pizza Hut, Taco Bell e Pringles são nomes que já ofereceram bonificações com NFTs como caminho. No Brasil, Havaianas, 99 e Méliuz investiram das mais diversas formas: coleções de NFTs, aplicativos financeiros que possibilitam a utilização de tokens e até a compra de corretora de criptomoedas. Uma disrupção inovadora e sem fronteiras.
M&M – O que a nova funcionalidade significa para o avanço do metaverso?
Brazão – Sem dúvidas esse momento é simbólico para o futuro do Metaverso e da própria Web3, que é o grande conceito e plataforma tecnológica de disrupção. Onde o Metaverso desempenha o papel de aproximar as realidades físicas e virtuais, fazendo uso de ambientes imersivos 3D, realidades virtuais e aumentada, bem como os assistentes de voz e inteligência artificial – tudo o que for necessário para integrar de maneira eficiente, perene e profunda essas duas realidades. Ao permitir a integração de carteiras digitais e a exibição de NFTs em sua plataforma, o Instagram leva a web3 para o grande público, dado o alcance e capilaridade da marca, simplificando as jornadas e dando a essas tecnologias uma escala mais massificada, tanto de conhecimento como aplicação. Essa jornada de educação dos usuários, aliados às aplicações práticas das NFTS – conferindo a elas utilidade e/ou governança, que expandem o conceito das NFTs para além do colecionável – possibilitará a criação de novos negócios, ativações de marca e relacionamentos mais profundos com os clientes. Isso inclui também possibilidades de aceleração para o Metaverso, que apesar de no imaginário da maioria das pessoas ainda se restringir aos ambientes 3D de plataformas como Horizon (do Meta), Decentraland, Sandbox, entre outros, pode ganhar uma escala totalmente diferente à partir do momento em que a tecnologia Web3 (representada aqui pelas NFTs) passa a integrar o dia-a-dia de um maior número de pessoa e despertar a atenção de desenvolvedores, investidores e empresas. Hoje as plataformas virtuais 3D ainda sofrem com a necessidade de hardwares sofisticados, e caros, para garantir uma experiência interessante aos usuários, porém, com mais pessoas conectadas e familiarizadas com a Web3 – e a isto o Instagram está prestando um grande serviço – isso pode, ao longo do tempo, baratear os custos desses equipamentos e viabilizar novas pesquisas na área, dado que o mercado potencial cresceu com a popularização da tecnologia e aplicações da Web3. Como resultado, teremos mais pessoas familiarizadas com essa nova tecnologia, formando comunidades na Web3 e demandando novos produtos, serviços, soluções e experiências integradas – físicas e virtuais – gerando grandes oportunidades de negócios para marcas e empresas – inclusive no Metaverso.
Confira também a série do ProXXIma que explora o uso dos NFTs na música, nos games e na moda.
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