Investimentos em martechs têm queda significativa em 2025
Dados da Liga Venture revelam que captação foi de R$ 142 milhões ante R$ 1,3 bilhão ano passado

(Créditos: Famili Stock/Shutterstock)
Em 2025, martechs brasileiras captaram R$ 142 milhões em investimentos em dez transações, queda significativa na comparação com 2024, quando o montante foi de R$ 1,3 bilhão em vinte transações.
Esses valores vêm de levantamento feito pela Liga Ventures.
O estudo foi feito com dados da ferramenta Startup Scanner, que acompanha informações de startups do Brasil e América Latina.
Apesar de se tratar de relatório ainda parcial, ou seja, pode haver mudanças até o próximo mês, os resultados já indicam tendência nítida: em 2025, os investimentos em startups de marketing e tecnologia recuaram.
Segundo Daniel Grossi, cofundador da Liga Ventures, 2024 teve grandes rodadas de investimento no mercado de marketing, algo que não aconteceu este ano.
Impulso em 2024
Os investimentos de R$ 1,3 bilhão no ano passado tiveram impulso de movimentações como os R$ 400 milhões captados pela CRM Bônus, os R$ 350 milhões pela Blip e a operação de R$ 300 milhões da Rock Encantech.
Este ano, a transação de maior valor ficou por volta de R$ 60 milhões.
O boom de startups se deu no período pós-pandêmico, momento em que houve baixa de juros e inflação também baixa.
Naquele cenário econômico, as economias começaram a procurar investimentos alternativos, ao mesmo tempo em que a digitalização avançava exponencialmente.
De fato, a transformação digital foi a causa dos grandes investimentos em startups, que contribuíram para a recuperação do mercado.
“O mercado flutua muito em termos de volume de investimento — não em número de transações — especialmente para martechs, porque fica muito dependente desses big rounds”, acrescenta Grossi.
Menor disponibilidade de capital
Ainda, diz o executivo, as martechs enfrentam cenário de menor disponibilidade de capital, ao mesmo tempo em que a ascensão da inteligência artificial (IA) acelera transformações profundas.
“O mercado de venture capital olha muito para iniciativas de IA, o que mudou a forma como as coisas são feitas. Muitas venture capital esperam para entender como isso vai realmente impactar o mercado”, afirma.
Apesar do clima de incerteza, o mercado de startups mostra amadurecimento notável, com players que ascenderam e ocuparam papel de líderes em suas cadeias, o que por si só contribui com a atração de capital.
Ainda, outro fator é a necessidade cada vez menor de investimento em players emergentes devido à integração de IA, o que contribui com o aumento de eficiência operacional para desenvolvimento.
“A própria maneira como os investidores vão aplicar seu dinheiro é impactada por esse movimento. Ao mesmo tempo, temos alguns campeões em cada categoria, que já ocuparam esse espaço de destaque no mercado”, afirma Grossi.
De fato, afirma, “para uma startup ocupar essa mesma transversalidade de players dominantes, como RD Station e CRM Bônus, é muito difícil. O que temos visto são muitas soluções com IA, que abrangem alguma etapa especifica dentro da cadeia de fidelização ou automação, em vez de tentar ocupar o espaço desses grandes players do segmento”.
Nova dinâmica das martechs
Ainda segundo o levantamento da Liga Ventures, o mapeamento abrangeu 463 startups ativas no País, que usam diferentes tecnologias para entregar soluções inovadoras.
Entre as martechs ativas fundadas entre 2020 e 2025, destacam-se as categorias de:
– Infraestrutura digital (18%),
– Marketing de conteúdo (16%),
– Automação de marketing (13%),
– Análise de dados e business intelligence (11%) e
– Marketing de influenciadores (9%).
Segundo Grossi, a categoria de marketing de conteúdo está sendo profundamente transformada pela IA generativa,.
Isso exige que as startups se adaptem e se reestruturem em ritmo acelerado.
Antes, essas empresas surgiam para otimizar fluxos de produção e oferecer ferramentas ágeis e acessíveis para criação de conteúdo.
Agora, com a chegada da IA, porém, grande parte dessas funcionalidades tem execução muito mais rápida e com alta qualidade, o que altera completamente a dinâmica do setor.
Criação com IA generativa
“O que temos visto são soluções que ajudam na parte de criação de conteúdo com IA generativa, porém com customizações que possam ser adaptadas para o perfil de cada marca”, diz Grossi.
Na categoria de influência, a IA ganhado espaço, principalmente, na produção de conteúdo.
Além disso, a tecnologia impulsiona o surgimento de plataformas de gestão de micro e nano influenciadores, com aplicações que vão desde a seleção e análise até o relacionamento com os criadores de conteúdo.
Ferramentas de métricas e avaliação de resultados de campanha também se expandiram, assim como soluções de transparência e auditoria, que se integram ao ecossistema de influência.
O levantamento realizado pela Liga Venture aponta, ainda, que as startups estão divididas em 15 categorias principais.
Entre essas, estão infraestrutura digital (13%); automação de marketing (11,9%); CRM (11,2%); análise de dados e business intelligence (11,2%) e marketing de conteúdo (10,8%).
Confira a lista completa:

Integração de IA e a nova faceta do mercado
De fato, a distribuição de startups ativas, é maior em São Paulo (47%), depois, Santa Catarina (11%), Minas Gerais (11%), Paraná (10%), Rio de Janeiro (7%) e Rio Grande do Sul (6%).
Além disso, 125 utilizam IA em suas soluções diárias, para aplicações como otimização da cadeia de suprimentos, monitoramento de ambientes e produtos, personalização de produtos e experiência do cliente.
Entre as tecnologias mais aplicadas pelas martechs, estão data analytics (43%); API (41%); IA (27%); dashboard (26%) e big data (22%).
“A IA entra em toda a jornada. Temos visto startups mais tradicionais incorporando soluções de IA, pois há demanda por posicionamento, enquanto uma nova geração nasce já nativa com a tecnologia”, acrescenta Grossi.
Portanto, em relação à maturidade das martechs, o levantamento da Liga Venture revela que 46% são emergentes, 21% estão estáveis, 18% são nascentes e 15%, disruptoras.
Segundo Grossi, os players adotam customizações de modelos de dados de forma a atender suas necessidades específicas.
“Temos visto muitas soluções dentro da cadeia de marketing: a IA está ajudando a escalar o desenvolvimento de novas tecnologias. Temos visto times mais enxutos, começando soluções novas e conseguindo fazer coisas grandes sem precisar de uma equipe tão grande assim”, afirma o executivo.
O futuro das martechs
O mercado brasileiro vive momento de estabilização no número de startups.
De fato, isso significa que a estabilidade não é apenas na área de marketing, mas acontece de forma geral.
Na comparação com outras categorias, as martechs foram as terceiras em volume de aquisições no ano passado, o que reforça movimento de consolidação do setor.
Assim, o ecossistema está aberto a startups que oferecem soluções especializadas e capazes de complementar o portfólio de empresas maiores.
“Acredito que duas coisas devem acontecer daqui para frente: o surgimento de startups que resolvem problemas específicos dentro da cadeia”, diz Grossi.
“O outro movimento”, afirma, “que ainda não vemos em grandes players, é o surgimento de startups que entregam em maneiras completamente diferentes de fazer marketing para aquela categoria, por meio da IA”.