Opinião
O futuro da alimentação
O mote é que para ter um planeta mais sustentável é necessário pensar nos recursos finitos e nos efeitos climáticos
O mote é que para ter um planeta mais sustentável é necessário pensar nos recursos finitos e nos efeitos climáticos
8 de novembro de 2022 - 17h57
O Web Summit 2022, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, realizado em Lisboa, Portugal, apresentou palestras sobre o futuro da alimentação e como a tecnologia está trazendo novas opções para alimentar o mundo.
Ouvimos o CEO da Ivy Farms, Ruch Dillon falar sobre como recompor o sistema alimentar, através de criação de alimentos a partir de biotecnologia, mas como isso funciona? A ideia é usar células reais de animais para fazer carne em laboratório, por exemplo. Utilizar uma fração muito pequena dessas células que, por meio de estímulos, crescem e se expandem com o princípio base de usar essa capacidade de reprodução para produzir mais delas, e transformá-las em músculo e gordura.
Ele afirmou que são criados 60 bilhões de animais todos os anos. E que é possível tirar mais de um terço de todas as terras agrícolas que estão sendo usadas para alimentar animais e utilizá-las para alimentar pessoas. O mote é que para ter um planeta mais sustentável é necessário pensar nos recursos finitos e nos efeitos climáticos. Fazer com que os gastos com transporte, a redução da emissão de gases do efeito estufa, a diminuição da utilização de água e a contenção de energia, além de evitar a morte dos animais, sejam princípios adotados por parte das soluções. Para causar impacto é importante garantir que um número suficiente de pessoas tenha acesso ao produto por um preço mais acessível, no entanto, Rich Dillon concordou que dois desafios ainda precisam ser superados: primeiro o do acesso e da escala, e segundo, o de criar de fato um produto análogo em sabor e textura dos cortes de músculos íntegros de carne. E isso ainda levará, segundo a Ivy Farms, entre 5 e 10 anos.
Neste mesmo painel, Laura Katz, fundadora e CEO da Helaina, nos trouxe algo cuja aplicação está próxima, pois afirma que seus produtos estão já em fase de aprovação para uso humano, são acessíveis comercialmente e podem ser reproduzidos em escala: fórmulas para alimentação infantil através da biotecnologia que cultiva a proteína a partir de células retiradas do leite humano. Segundo ela, uma forma de inovar a comida que hoje é baseada, muitas vezes, em soja ou em compostos, a partir de proteínas lácteas, por exemplo, que são de partes da vaca ou da cabra. Hoje há uma sensibilidade muito grande dos pais com relação à primeira alimentação das crianças, porque isso compõe todo o sistema imune. Esse tipo de produto de proteína humana poderá compor outros produtos que cuidem também da imunidade.
O processo é parecido com o cultivo de células, como se fosse uma fermentação in vitro, totalmente segura na manipulação bioquímica, e inspirada na indústria biofarmacêutica, segundo Laura.
Também no WebSummit este ano tivemos a presença do Daan Luining, Fundador e CTO da Meatable, que ao ser perguntado se a carne de laboratório era concorrente do plant-based, foi bastante claro que o mundo precisa de várias alternativas que auxiliem a segurança alimentar da população que resolva em conjunto a questão climática.
Esta é a principal questão: não há uma única solução para o futuro da alimentação. Assim como a solução para as matrizes energéticas tem múltiplos caminhos, para combater a fome e a mudança climática encontramos diversas soluções, entre elas inclusive o combate ao desperdício, o manejo e práticas de ESG fundamentais em agropecuária, como por exemplo pela empresa Cara Preta no Brasil, o uso consciente dos oceanos para fabricação de alimentos, as proteínas a partir de plantas, os cogumelos, insetos e tantas outras opções. Fundamental é a consciência e o uso de tecnologia para acelerar estas transformações.
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