Como as mulheres estão fazendo a diferença na cobertura e nas transmissões esportivas

Buscar
Publicidade

Opinião

Como as mulheres estão fazendo a diferença na cobertura e nas transmissões esportivas

O que antes era visto e tratado como um ambiente extremamente masculino, onde mulheres ficavam restritas em suas opiniões ou a lerem e-mails e mensagens de internautas, por exemplo, agora tem sido um espaço cada vez mais feminino


6 de julho de 2022 - 10h42

Dibradoras cresceram, viraram referência no trabalho de aumentar o espaço das mulheres na imprensa esportiva e conquistaram a mídia tradicional (Crédito: Footballco)

Muito falamos do espaço da mulher em diferentes aspectos, e eu particularmente aqui me propus a falar sobre o espaço da mulher no esporte e como esse cenário vem mudando. E é interessante ressaltar um ponto que vem ganhando alguns destaques bem positivos: a maior presença feminina na imprensa esportiva.

Não é de hoje que mulheres muito competentes buscam espaço e fazem a diferença no jornalismo esportivo. O que antes era visto e tratado como um ambiente extremamente masculino, onde mulheres ficavam restritas em suas opiniões ou a lerem e-mails e mensagens de internautas, por exemplo, agora tem sido um espaço cada vez mais feminino. Um excelente exemplo é Mariana Becker, que com 51 anos quebrou diferentes tabus ao ser a primeira repórter mulher a cobrir um esporte estritamente masculino e virou referência no assunto. Hoje ela é respeitada por todos os pilotos da modalidade e por toda imprensa.

Diferentes veículos têm buscado dar cada vez mais espaço e voz às competentes profissionais que decidem entrar no jornalismo esportivo. Lembro bem que, quando comecei a trabalhar em um veículo esportivo, em 2009, eu podia contar nos dedos das mãos as mulheres presentes na redação, e não era tão diferente em outras áreas também. Quando saí, depois de 12 anos, já eram 2 locutoras, 5 apresentadoras, 4 comentaristas e áreas que chegavam a ter maior presença feminina que masculina. Uma mudança considerável de mulheres que, com muita habilidade, conquistaram cada vez mais espaço.

Hoje, em diversas emissoras e redações, mulheres ocupam postos de destaque, e até de liderança, que antes eram somente ocupados por homens. Já temos a narradora Luciana Marianno bem consolidada na ESPN, e Renata Silveira, da Globo/SporTV, será a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na TV aberta. Atualmente, chega a ser até difícil pensar em uma mesa redonda ou um programa de comentários esportivos sem a presença de ao menos uma repórter. A opinião feminina passou a ser muito bem-vista e recebida, muitas vezes em contraponto às opiniões estereotipadas de sempre.

Porém, nem tudo são flores. A questão principalmente das repórteres de campo ainda é um ponto delicado, pois elas convivem diariamente com assédios e discursos de ódio, frutos de uma mentalidade ainda muito tacanha que insiste em não enxergar talento e capacidade além da forma física. Graças a mulheres muito corajosas e ao incentivo de alguns veículos, esse cenário vem se transformando, ainda que a passos lentos.

E essa é uma revolução muito bem-vinda. Com maior presença feminina na imprensa esportiva, cresce também o interesse da audiência feminina e também a exposição do esporte feminino. Dados do ano passado mostram que apenas 4% de toda cobertura esportiva é dedicada a cobrir a atuação da mulher no esporte. Isso significa que a cada 100 notícias do esporte, apenas 4 delas falam de alguma forma sobre a presença feminina. Ainda é muito pouco, e traz o ponto que mencionei na última coluna: o que não é visto, não é lembrado, não é entendido e fica difícil de ser consumido.

Aqui, vale citar o brilhante trabalho das Dibradoras, que começaram com o desejo de justamente mudar esse panorama e ser um canal dedicado a falar sobre o que não tinha espaço na mídia até então. Elas cresceram, viraram referência no assunto e ganharam espaço inclusive na imprensa tradicional – Renata Mendonça hoje é comentarista da SporTV, e não apenas para falar de esporte feminino.

Criar espaços e normalizar a mulher na mídia esportiva, seja divulgando ou comentando uma notícia, é urgente e necessário. Que possamos ver cada vez mais bons exemplos como os que citei aqui, para que sejam tratados como parte da imprensa e não como exceções a serem destacadas.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Guilhermina de Paula: da inclusão trans na indústria a Cannes

    Guilhermina de Paula: da inclusão trans na indústria a Cannes

    A criadora do OcupaTrans levará pessoas trans ao festival e sonha em ampliar a inclusão trans no mercado publicitário

  • Manu Gavassi: cantora, atriz, diretora e… executiva 

    Manu Gavassi: cantora, atriz, diretora e… executiva 

    A sócia do Estúdio Gracinha, sua nova produtora boutique, reflete sobre sua trajetória na publicidade e os desafios como liderança criativa