Opinião
Do secador de cabelo ao omelete japonês
As pessoas são multifacetadas e o crescimento do universo dos criadores é reflexo disso na prática e em escala
As pessoas são multifacetadas e o crescimento do universo dos criadores é reflexo disso na prática e em escala
9 de abril de 2024 - 6h20
Estava querendo comprar um secador de cabelo novo, um que está na moda, cheio de funcionalidades e que algumas amigas compraram. Mas me sentia um pouco relutante por causa do preço. Bem caro, do meu ponto de vista. Foi quando me deparei com um vídeo da MariMaria fazendo uma comparação desse secador com um outro de uma marca diferente. Não diria que com um preço em conta, mas mais razoável que a tal marca famosa.
A comparação mostrou resultados bem parecidos, nem conseguia dizer a diferença entre os dois. Certamente o vídeo me influenciou a tomar a decisão de compra pelo produto da marca que eu ainda não conhecia. Assim como já decidi por produtos de skincare indicados pela Golloria, pela SandraGoelz ou pela Trinny.
Refletindo aqui, minha opinião não foi formada apenas por uma comparação, mas por alguém que eu sigo e que tem uma área de expertise na indústria de beleza e um conteúdo autêntico que passa uma super credibilidade. Esse interesse por este segmento de produtos seria esperado pensando em alguém com o meu perfil. Não sei se é óbvio, mas é esperado ao menos. Agora, mais específico que isso e talvez um pouco menos óbvios seriam os vídeos tutoriais que eu amo sobre omeletes japoneses, aquarela, ou cafés com bichos pelo mundo. Sim, existe um café com capivaras em Tóquio e um com cachorrinhos corgis em Barcelona… já foi?
Já temos discutido muito sobre a creator economy e como a relação desses profissionais com as marcas, agências e consumidores têm movimentado cada vez mais a economia. O que acho que vale a pena refletir é sobre como estamos evoluindo nosso conceito sobre as audiências dentro de toda essa cadeia de valor. Hoje, as pessoas são multifacetadas e o crescimento do universo dos criadores é reflexo disso na prática e em escala.
Não sei você, mas eu, que comecei a trabalhar em publicidade no final dos anos 90, aprendi a determinar audiências com o nome de target, com precisão no alvo. Era necessário determinar quem eram as pessoas que a comunicação iria atingir, pressupondo seus gostos e preferências. Geralmente segmentávamos todas as pessoas de um universo em 4-5 grupos definidos, de acordo com critérios que misturavam demografia, comportamento e opiniões.
Hoje, por conta de toda a tecnologia que temos à disposição, as mudanças no consumo de conteúdo passam pela profusão de ofertas e pela transformação no nível de atenção das pessoas. Nesse contexto, a oportunidade desse consumo acontecer de maneira mais individualizada aumenta consideravelmente, assim como todas as possibilidades de temáticas a que uma pessoa está exposta. Tudo isso nos ensina que hoje estas mesmas audiências devem ser abordadas de uma forma mais holística e contemporânea, indo além da segmentação tradicional.
Acredito que exista gente de perfis bem diferentes do meu consumindo os mesmos vídeos de omelete japonês que eu amo. Assim, podemos enxergar que o jeito de abordar e pensar as audiências é muito mais determinado pelo tipo de conteúdo do que pelos critérios demográficos ou de comportamentos verbalizados, como analisávamos antigamente.
E o que isso tem a ver com a gente? Tem a ver com a possibilidade de enxergarmos nossas escolhas menos como algo que determinamos sozinhos ou que ficamos apegados com certo rigor, e mais como uma oportunidade de ampliar nossos resultados a partir da crença de que as pessoas são mais complexas em seus interesses, com mais diversidade de ângulos do que a gente pressupõe. Assim, podemos ir além do match estereotipado de demografia & criador, e deixar os comportamentos reais conectarem conteúdos às pessoas, o que cria um loop de aprendizado e crescimento muito mais dinâmico para as marcas.
Quem direcionaria conteúdos sobre saúde sexual para pessoas que têm netos? Opa, grande mercado. E de produtos financeiros B2B para pessoas trans ou mulheres de baixa renda? Pois saiba que esses são mercados em franco crescimento. Então fica aqui o convite para desafiarmos nossas preconcepções e nos surpreendermos com a inclusão daqueles que não estariam originalmente em nossos planos.
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