Femtechs projetam crescimento para os próximos anos 

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Femtechs projetam crescimento para os próximos anos 

Segundo especialistas e lideranças femininas do setor, expectativa é positiva e segmento continuará da mira dos investidores


27 de fevereiro de 2024 - 16h47

As femtechs do subsegmento de saúde e bem-estar da mulher não foram muito atingidas pela crise das empresas de tecnologia dos últimos tempos, e as projeções para os próximos anos são de crescimento. É o que dizem especialistas, pesquisas e lideranças femininas do setor. Embora os investimentos globais em healthtechs tenham caído 46% em 2022, chegando a US$ 8,6 bilhões, a participação dessas empresas aumentou significativamente, segundo levantamento do PitchBook.  

Para o futuro do segmento, o prognóstico é mesmo promissor. Em 2024, o mercado de femtechs manterá seu crescimento global, com uma taxa anual (CAGR) de 13,3% até 2026, avaliado em mais U$ 50 bilhões em 2023, de acordo com a Arizton Advisory & Intelligence.  

Mas os desafios são muitos, sobretudo no Brasil. Raíssa Assmann Kist, fundadora e CEO da Herself, femtech de calcinhas e biquinis absorventes, avalia que esse tipo de negócio surge para preencher lacunas ignoradas pelos setores tradicionais. Ao perceberem essas falhas, muitas mulheres empreendem, em busca de transformações culturais e sociais. Porém, segundo ela, a presença feminina à frente dos maiores negócios no País ainda é limitada, e muitas empreendedoras enfrentam dificuldades na captação de recursos, especialmente em setores historicamente ignorados pelo mercado. 

Raíssa Assmann Kist, fundadora e CEO da Herself (Crédito: Divulgação)

“As femtechs oferecem soluções para demandas reais e crescentes negligenciadas por décadas, como fertilidade, menstruação, menopausa, gestação e sexualidade. Há muito que não avançamos nessas áreas, e a resposta positiva do mercado indica que, uma vez conquistado esse espaço, é um caminho sem volta. Se a tecnologia e a inovação são aplicadas em diversas áreas, por que não utilizar a mesma lógica para atender às especificidades do mercado feminino?”, reflete.  

Apesar das adversidades, o potencial é enorme. Do total destinado ao setor de saúde digital pelos fundos de venture capital, 13% foram para empresas focadas em mulheres. Nas projeções do PitchBook, os investidores de risco devem destinar US$ 3 bilhões para as femtechs até 2030.  

De olho no mercado brasileiro 

No Brasil, o segmento também tem tudo para aumentar de tamanho, já que ainda representa um nicho pequeno dentro do universo das startups, somando apenas 23 empresas, segundo mapeamento do Inside Healthcare Report. A título de comparação, hoje, há 542 healthtechs e 13,8 mil startups no País. Entre as principais áreas cobertas por startups focadas em saúde da mulher estão a maternidade, nutrição e bem-estar; diagnósticos e tratamento de doenças; e wearables.  

Localmente, esse segmento está crescendo à mesma proporção que o cenário mundial, alcançando 12%. Se o mercado global foi avaliado em U$ 51,2 bilhões em 2023, o brasileiro está em U$ 1,04 bilhão, ainda segundo dados da Arizton Advisory & Intelligence. 

Para Raíssa, o fomento a programas de lideranças femininas com recortes de gênero, raça e classe é crucial para mexer os ponteiros do segmento brasileiro. A Herself, por exemplo, foi acelerada pelo Itaú Mulher Empreendedora, em parceria com a Yonus Negócios Sociais, que desempenhou papel importante na tração do negócio da empreendedora, contribuindo para investimentos em nível nacional. 

Para Marina Ratton, fundadora da femtech Feel, de bem-estar sexual, informação e serviços digitais para potencializar a sexualidade feminina, o segmento ainda é pequeno e promissor no Brasil devido ao contexto cultural e histórico, oportunidades de financiamento tímidas e ausência de um grande case de sucesso.

“O setor tende a crescer porque temos mais empreendedoras talentosas olhando para gaps que ainda não são cobertos. Na Feel, estamos atendendo um público com dores muito específicas e diversas demandas não atendidas. Além disso, é um mercado que depende de educação sexual e conhecimento do corpo e, pouco a pouco, isso tem mudado. A mulher contemporânea tem transformado seus hábitos e verbalizado mais sobre sua intimidade e saúde sexual”, avalia. 

Marina Ratton, fundadora da femtech Feel (Crédito: Divulgação)

Ainda segundo Marina, os indicadores financeiros da Feel endossam a potência desse mercado, o que contribui para firmar a relevância deste segmento. “Estamos dobrando o faturamento ano a ano, seguimos no breakeven desde agosto de 2023 e nossa taxa de recorrência já bate 45% por mês.” 

Investimento na menopausa 

Entre as categorias de femtechs, o nicho direcionado às mulheres que já entraram ou estão perto de entrar na menopausa tem grande potencial de crescimento, tanto no Brasil como no mundo. Globalmente, esse mercado foi avaliado em US$ 15,4 bilhões, o equivalente a R$ 81,3 bilhões, e deve crescer a uma taxa anual de 5,29% até 2030, segundo relatório da consultoria Grand View Research. 

Além disso, no início da próxima década, de acordo com a consultoria Femhealth Insights, o mercado de produtos e serviços para menopausa deve chegar à receita de US$ 24,4 bilhões, o crescimento mais rápido no segmento de femtechs. Isso tudo para atender às mais de 1 bilhão de mulheres que, de acordo com a OMS, estarão na menopausa até 2030.  

Contudo, na avaliação da Female Founders Fund, os produtos e serviços para atender esse público geram US$ 600 bilhões em oportunidade para as empresas, mas apenas 5% das femtechs fundadas em 2019 miraram nesse mercado, que oferece suplementos a plataformas médicas, de cosméticos a comunidades.  

Por isso, para as startups, a menopausa é um negócio que une três fatores essenciais no mercado de inovação: alta demanda, impacto social e, até então, pouca concorrência. Em 2022, a subcategoria de companhias que focam apenas em produtos e serviços para tratamento de menopausa recebeu US$ 49 milhões no ano passado, quase o triplo dos US$ 12 milhões que foram aportados nessas startups em 2021. 

De acordo com Carla Moussalli e Márcia Cunha, co-fundadoras da Plenapausa, primeira empresa do segmento destinada para mulheres na menopausa, o próximo ano deve seguir em crescimento relevante devido à crescente necessidade de soluções específicas para a saúde da mulher. 

“A tendência de aumento da participação das femtechs no mercado global de healthtechs deve persistir, refletindo o interesse contínuo dos investidores em inovação na saúde feminina. Áreas como saúde reprodutiva, menopausa e bem-estar geral devem atrair investimentos significativos, impulsionadas por uma demanda crescente por produtos e serviços personalizados. Além disso, esperamos ver uma maior diversificação nos tipos de soluções oferecidas, atendendo a uma gama ainda mais ampla de necessidades de saúde da mulher”, analisa Carla. 

Carla Moussalli e Márcia Cunha, co-fundadoras da Plenapausa (Crédito: Divulgação)

Em um País com 110 milhões de mulheres, sendo mais da metade (51,6%) em “idade fértil”, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), há um campo aberto para essa indústria crescer. “A disrupção das femtechs na indústria de produtos para a saúde e o bem-estar femininos e na criação de serviços digitais de apoio às mulheres que entram na menopausa serve como um lembrete importante do valor das estratégias orientadas por propósitos e do potencial inovador da diversidade, equidade e inclusão”, diz Márcia. 

Futuro promissor

Um dos principais desafios para o mercado de femtechs em 2024, avalia Carla, será superar barreiras regulatórias e de adoção por parte dos consumidores. “A necessidade de navegar em regulamentações complexas em diferentes mercados pode retardar a introdução de novos produtos e serviços. Além disso, a educação dos consumidores sobre a eficácia e a segurança dessas novas soluções é crucial para a adoção em larga escala.” 

Já Márcia acredita que o segmento de femtechs no Brasil ainda é pequeno devido a uma combinação de fatores, como falta de visibilidade, acesso limitado a capital de risco e uma cultura de empreendedorismo que historicamente não enfatizou a saúde da mulher. Contudo, ela avalia que há razões substanciais para acreditar no crescimento robusto do setor nos próximos anos, sobretudo com o avanço da tecnologia e o aumento do interesse de investidores em soluções de saúde e bem-estar. 

“A crescente conscientização sobre questões de saúde feminina, o aumento do empoderamento das mulheres e a digitalização acelerada dos serviços de saúde são fatores-chave que impulsionam esse mercado. Além disso, o Brasil tem uma grande população feminina que demanda soluções inovadoras para cuidados de saúde, representando uma oportunidade significativa para as femtechs”, diz.

Para Flávia Deutsch, co-fundadora e CEO da Theia, femtech voltada para mulheres gestantes, ainda falta incentivo ao empreendedorismo feminino e estímulo à inovação e à presença de mulheres na tecnologia. Isso, em parte, aqueceria mais o segmento, pois as necessidades são reais. Segundo dados da Femtechs Brasil, apenas 4,7% das startups são fundadas por mulheres no Brasil e, ao mesmo tempo, contrariando a estatística, o público feminino é responsável por 90% das decisões sobre cuidados na saúde.  

Flavia Deutsch Gotfryd e Paula Crespi são co-fundadoras da femtech Theia (Crédito: Divulgação)

Paula Crespi, co-fundadora e COO da startup, também é otimista quanto ao futuro do setor. Em 2019, a startup recebeu o maior aporte conquistado por mulheres América Latina. “No Brasil, ainda há poucas startups com financiamento de venture capital em fase embrionária. Aqui, quando comparamos o dólar investido em equivalentes soluções para o público masculino, vemos que há muito espaço para soluções para mulheres”, diz. 

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