O ROI comprovado do porquê precisamos de mais mulheres em Tecnologia
Mais mulheres em tecnologia pode reduzir o gap de profissionais do mercado de TI e fortalecer a economia brasileira nos próximos anos
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6 de março de 2023 - 16h01
O tema da diversidade de gênero no mercado de tecnologia muitas vezes é tratado pelo viés da equiparação histórica social em relação às mulheres. De fato, a sociedade ainda precisa caminhar bastante para tornar-se um ambiente mais igualitário para homens e mulheres – e o mercado de trabalho não é diferente. Mas há uma série de estudos que mostram que a discussão principal deste tema abrange os resultados que as mulheres trazem para o mercado de trabalho. Empresas que têm mais mulheres como força de trabalho também são mais resilientes a momentos de crise, geram mais receita e podem dar mais retorno aos investidores.
É o que sugere uma pesquisa recente publicada em janeiro pela McKinsey com o título: “Mulheres na tecnologia: a melhor aposta para resolver a escassez de talentos na Europa”. Vou começar pela conclusão da pesquisa: “para permanecer competitiva no crescimento tecnológico e na inovação, a Europa deve recrutar e reter mulheres para as funções tecnológicas de crescimento mais rápido no futuro próximo”.
Segundo a McKinsey, mesmo com as demissões que vem ocorrendo nas big techs, que estão passando por diversos ajustes por causa dos rumos da economia internacional, a lacuna entre a demanda e a oferta de profissionais de tecnologia segue crescendo. Com uma participação de apenas 22% de mulheres em atividades profissionais ligadas à tecnologia e à inovação, o caminho para a redução deste gap, sugere o estudo, é investir na formação com foco no público feminino.
A consultoria traz inclusive números que mostram os benefícios de se apostar numa política assim. O gap de talentos tecnológicos deve ficar levando em consideração os números atuais, entre 1,4 milhão e 3,9 milhões de pessoas até 2027 para os países da União Europeia. Se a Europa pudesse dobrar a parcela de mulheres na força de trabalho de tecnologia para cerca de 45%, ou cerca de 3,9 milhões de mulheres adicionais até 2027 – algo que a McKinsey acredita ser possível – poderia fechar essa lacuna de talentos e se beneficiar de um aumento do PIB em algo em torno de 600 bilhões de euros (ou R$ 3,3 trilhões).
Quando olhamos para o Brasil, a realidade é ainda mais desafiadora, ou dependendo de como se olha, temos ainda mais oportunidades para mulheres se soubermos endereçá-las. Um estudo da Revelo, empresa de tecnologia no mercado de recrutamento e seleção de profissionais, mostra que apenas 12,7% dos profissionais de tecnologia são do sexo feminino. A Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, fala que em cinco anos serão criados quase 800 mil novos postos, mas o Brasil forma pouco mais de 53 mil profissionais de tecnologia por ano – o que deve abrir um déficit de 532 mil pessoas para trabalhar na área.
Se o pilar dessa equação passar por um investimento robusto em educação, há dados que mostram como apostar em mulheres é um caminho mais eficiente. Diversos estudos mostram que, no Brasil, as mulheres estudam mais: são 57% do total de estudantes no ensino superior. Na iniciação científica, são 59,71% dos pesquisadores, e, na pós-graduação, 54% do total de estudantes são mulheres.
Esses esforços podem ajudar a mudar uma posição incômoda para o Brasil quando pensamos na presença de mulheres no mercado de trabalho. O Brasil ainda ocupa a 92ª colocação entre os 153 países no ranking de índice global de desigualdade de gênero, segundo pesquisas da Delloite de 2020. Essa posição, mais uma vez, não é ruim apenas moralmente. Estamos perdendo competitividade com um mercado de trabalho menos diverso. Em mais um estudo realizado pela McKinsey, “Why Women Matters”, “Why Diversity Matters”, realizados em 2013 e 2017 respectivamente, empresas com diversidade de gênero possuem 15% a mais de chances de ter rendimento acima da média e empresas com ao menos uma mulher na primeira linha de comando (presidência ou vice presidência), tem o potencial de aumentar sua margem de lucro em até 47%.
Para além das questões práticas, de inserção de mais mulheres em empresas e nas faculdades ligadas à área de tecnologia, temos também de repensar como estamos lidando com essas profissionais. Extirpar o que na Australia e na Nova Zelândia chamam de “cortar a papoula alta” ou “cutting down the tall poppy”. É um termo usado para descrever aquelas pessoas que rebaixam ou sabotam um outro colega que está tendo algum tipo de sucesso ou realização. Segundo um estudo realizado com mais de 4 mil respondentes em 103 países, 86% dos profissionais já passaram por uma situação assim.
Mas é interessante e triste ler o estudo conduzido pela Dra. Rumeet Billan, que mostra consequências deste comportamento sistêmico e silencioso e o impacto que isso tem sobre as mulheres no mundo todo. Em geral, homens têm mais dificuldade em ver a ascensão de colegas de trabalho mulheres, o que as torna um alvo mais comum deste tipo de prática.
Reunindo os dados de Brasscom, Revelo, com a conclusão dos estudos da McKinsey, Delloite, estamos diante de uma oportunidade grande para incentivar mais mulheres trabalhando com tecnologia. Desde que tomemos cuidado para que não sejamos boicotadas por essa ascensão fora dos padrões do mercado de trabalho brasileiro. Para que isso ocorra, é preciso que haja um esforço importante da iniciativa privada e do poder público para trazer mais mulheres para o mercado de trabalho em tecnologia. Os resultados desse esforço não tornarão apenas as empresas mais diversas. Mas também ajudará a economia do país a navegar melhor nas águas turbulentas dos próximos anos.
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