Sobre diversidade e reputação
Uma premiação de lideranças de destaque onde apenas pessoas brancas são reconhecidas já foi aceita pela opinião pública, mas hoje não é mais
Uma premiação de lideranças de destaque onde apenas pessoas brancas são reconhecidas já foi aceita pela opinião pública, mas hoje não é mais
25 de junho de 2024 - 8h41
O convite à reflexão com a coluna deste mês será sobre a relevância da diversidade e da inclusão para a reputação organizacional. Considero este tema um desafio diante de uma sociedade pendente para polarização de opiniões, sobreposição de temas quentes e frios tratados com a mesma importância e o modismo corporativo que vem em ondas. Por isto, inicio com um chamado ao bom senso, à razão e à cidadania corporativa.
A importância da diversidade e da inclusão para os negócios já foi tema de inúmeras pesquisas de instituições renomadas da McKinsey, cujo relatório “A diversidade importa cada vez mais: o valor do impacto holístico”, de dezembro de 2023, aponta que as empresas no quartil superior de diversidade de gênero no conselho são 27% mais propensas a apresentarem desempenho financeiro superior do que as do quartil inferior. Do mesmo modo, as empresas no quartil superior de diversidade étnica no conselho são 13% mais propensas a apresentarem desempenho superior do que as no quartil inferior. A diversidade de pensamentos e ideias é um ativo que as organizações não devem abrir mão.
É óbvio, mas vale lembrar, que não é suficiente apenas contratar pessoas diversas, é necessário observar se o ambiente organizacional retém estes talentos ou os expulsa. Sim, a cultura da empresa é pautada pela sua missão, valores, propósito, competências esperadas, mas também pela “atmosfera” e pela medida em que os vieses inconscientes se manifestam por quem faz parte da organização, especialmente pela liderança. É preciso promover o ambiente inclusivo verdadeiramente para que as pessoas trabalhem com senso de pertencimento, podendo ser quem elas são. Sentir-se respeitado e escutado contribui para criação de um ambiente mais seguro do ponto de vista psicológico, assim a produtividade e a celeridade dos processos aumentam, crescendo as chances de sucesso do negócio, como mencionei na coluna Não é mimimi.
Mesmo trazendo pesquisas sobre resultados dos negócios mais diversos e uma abordagem sobre retenção de talentos e cultura organizacional inclusiva, estes argumentos podem não convencer a todos e todas. Falemos então sobre identidade e reputação. O mundo mudou! O mercado consumidor mudou, as exigências dos acionistas mudaram, a cobrança de comportamentos e indicadores em relação ao B2B mudou. Uma foto das lideranças de uma empresa somente com executivos homens cis brancos poderia passar com naturalidade até uma década atrás talvez, uma premiação de lideranças de destaque onde apenas pessoas brancas são reconhecidas já foi aceita pela opinião pública, mas hoje não é mais.
Quais ideias e mensagens as imagens como as citadas acima transmitem? Antes de responder, ressalto que há muitos livros e artigos que trazem contrapontos à teoria da meritocracia, explicando o que há por traz deste termo controverso. Também é sabido que existem excelentes profissionais negros e negras, profissionais LGBTQIAP+ e profissionais com deficiência atuando ou disponíveis no mercado de trabalho. Trago estes grupos, mas a diversidade não se restringe apenas a estes três públicos minorizados, há muitos outros recortes e há de ser considerada também a interseccionalidade entre eles.
Imagens como estas ou mesmo o olhar dos seus colaboradores e colaboradoras ao fazerem o teste do pescoço em uma empresa é de dúvida sobre a credibilidade da licença social da organização. Será uma empresa racista? Por que será que não tem profissionais negros em cargo de liderança e, às vezes, nem na base da força de trabalho, sendo que o Brasil tem 56% da população preta ou parda? É uma organização machista? Não tem nenhuma mulher em cargo de alta liderança ou somente a head de RH? É uma empresa capacitista, que não contrata nem desenvolve as pessoas com deficiência? É homofóbica? Onde está a comunidade LGBTQIAP+ da minha organização, estão em um ambiente seguro para exercerem a sua profissão?
Há, sem dúvida, um novo olhar sobre as organizações e seus quadros, pois eles refletem os valores da empresa e os profissionais guardiões da reputação nas companhias precisam ficar atentos. Esta é uma provocação e um alerta para os riscos reputacionais corporativos.
Toda mudança para uma quadro organizacional mais diverso é uma longa jornada que precisa de intencionalidade. O primeiro passo é assumir o cenário atual, e, em seguida, iniciar um plano consistente de transformação que, se bem feito, irá trazer resultados melhores para a organização, além de contribuir para justiça social e redução das desigualdades no nosso país.
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