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Um case de marketing de quem escolheu não se calar

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Opinião

Um case de marketing de quem escolheu não se calar

Durante quatro dias, colocamos nas prateleiras de uma loja comum “produtos” que escancararam verdades sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes


27 de maio de 2025 - 9h07

(Crédito: Divulgação)

O marketing tem o poder de despertar desejos, criar conexões, movimentar mercados. Mas também pode — e deve — ser agente de transformação social. Pode dar visibilidade a causas urgentes, mobilizar pessoas e influenciar comportamentos. Na Vibra, acreditamos nesse poder. E foi com essa convicção que criamos a Loja de Inconveniência, um case que mostra como a comunicação, quando feita com coragem e propósito, pode romper silêncios históricos.

Durante quatro dias em março deste ano, transformamos uma loja comum em uma experiência impactante. A proposta era simples e disruptiva: colocar nas prateleiras “produtos” que escancarassem verdades dolorosas sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes. Cada item trazia uma mensagem direta, como um pano de chão que estampava: “Não passe pano para parentes. 71,5% dos casos de violência sexual são cometidos por pessoas próximas”.

O desconforto era intencional. Criamos um espaço de ruptura, onde a denúncia se funde à experiência de marca. A Loja de Inconveniência foi pensada para tirar esse tema da invisibilidade e provocar o debate. É o que o marketing contemporâneo tem chamado de branded activism: quando marcas usam sua relevância cultural e sua capacidade de engajamento para promover causas sociais sem oportunismo, com responsabilidade.

Ao lado do Movimento Violência Sexual Zero, mostramos que é possível transformar a comunicação em ferramenta de conscientização. Mais do que uma ação de awareness, a Loja de Inconveniência foi um manifesto. Um chamado à escuta, à empatia e à ação.

E por que isso é relevante para quem trabalha com marketing? Porque vivemos um momento em que consumidores, especialmente as novas gerações, esperam mais das marcas. Esperam posicionamento, autenticidade, compromisso. Não basta apenas vender; é preciso importar-se. E o impacto dessa postura vai muito além da reputação. Ele se traduz em valor de marca, em diferenciação no mercado e em vínculos reais com a sociedade.

Para garantir isso, tivemos um cuidado especial com o design. Usamos o conceito Dopamine Aesthetic para criar um ambiente visualmente atraente, que despertasse os sentidos e mantivesse o público engajado mesmo diante de mensagens tão duras. Cores vibrantes, texturas marcantes, tipografias impactantes. Tudo foi pensado para provocar curiosidade, contrastar com o conteúdo e sustentar a imersão na experiência. A estética chamava para dentro. A mensagem fazia parar, pensar e sentir.

O sucesso da Loja de Inconveniência não se mede apenas em números (que foram expressivos), mas no tipo de conexão emocional que ela gerou. As reações do público foram intensas: surpresa, indignação, lágrimas. Para acolher quem foi profundamente tocado, disponibilizamos uma sala de apoio com psicólogo presente durante todo o período da ação. Impactar, sim. Cuidar, sempre.

Ao longo dos dias, milhares de pessoas passaram pela loja. O retorno foi extremamente positivo, com destaque para a coragem da proposta e a sensibilidade da execução. Sabemos que não é uma experiência fácil e, justamente por isso, ela precisa existir.

Como mulher, como mãe, como cidadã, me dói ter de tratar desse que é um tema doloroso, perturbador e desconfortável. E, exatamente por isso, tantas vezes evitado. Mesmo nas rodas mais bem-intencionadas, há um silêncio que paralisa. Mas quando temos a chance de dar visibilidade a uma causa tão urgente, o silêncio não pode ser uma opção.

Seguimos firmes no nosso compromisso com essa agenda. Acreditamos no poder transformador do marketing não só para vender, mas para provocar mudanças reais. A Loja de Inconveniência é a prova de que, quando marcas escolhem não se calar, elas podem fazer a diferença.

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