See It Be It: a experiência a favor da equidade
Mentora do grupo em 2019, Laura Esteves, diretora de criação da Y&R, ressalta que obstáculos enfrentados pelas criativas são os mesmos em todo o mundo
See It Be It: a experiência a favor da equidade
BuscarMentora do grupo em 2019, Laura Esteves, diretora de criação da Y&R, ressalta que obstáculos enfrentados pelas criativas são os mesmos em todo o mundo
Bárbara Sacchitiello
16 de junho de 2019 - 5h00
Desde 2014, o Festival de Cannes vem tomando medidas práticas para ajudar a indústria a refletir – e a corrigir – a desigualdade de gênero por anos perpetuada no mercado. A busca pela inserção de mais mulheres nos júris e a própria criação da categoria Glass – The Lion For Change, voltada à celebração dos trabalhos que incentivam a equidade, foram alternativas que a organização encontrou de colocar o tema no centro do principal encontro anual da indústria.
Junto com essas ações, o Festival também criou o See It, Be It, programa que visa abrir as portas de jovens criativas, de várias partes do mundo, para o ambiente do Festival e, consequentemente, para cargos mais altos da indústria da comunicação. Desde 2015, o Festival seleciona grupos de cerca de 15 mulheres que trabalham na área de criação e que se inscrevem para vivenciar uma semana de atividades no evento.
Diretora de criação da Y&R, Laura Esteves tentou por duas vezes fazer parte do grupo do See It, Be It em Cannes. Em fevereiro deste ano, depois de, mais uma vez, receber uma negativa da organização sobre sua inscrição, a profissional tomou uma atitude. “Fiquei muito chateada pois acreditava que meus trabalhos me credenciavam para a participação. Decidi então enviar um e-mail à organização não para contestar a decisão deles, mas para dizer o que vinha fazendo no Brasil a respeito da equidade de gênero e como acreditava que a experiência poderia contribuir para evoluir ainda mais meu trabalho nessa área”, relata a criativa.
O argumento de Laura deu certo. Em vez de convidá-la para integrar o grupo do See It Be It, o festival, no entanto, quis aproveitar sua experiência de outra forma: Laura será a única brasileira mentora do grupo e participará das reuniões e debates das criativas a respeito de temas como liderança, desigualdade salarial, valorização feminina no mercado de trabalho, etc. Segundo a profissional, a organização lhe informou que não havia selecionado seu nome para o grupo de participantes do See It Be It pelo fato de o programa ser direcionado a mulheres que estão iniciando a carreira no universo da criação – e, por já ter uma posição mais alta em uma agência, Laura, portanto, não se encaixava exatamente no perfil. Veio, então, o convite para ser mentora do grupo.
“O Festival sempre foi muito generoso comigo e acredito que seja a oportunidade de contribuir com jovens profissionais. Já estou analisando os portfólios e as inscrições das participantes e vejo que elas possuem os mesmos anseios e dificuldades que nós, mulheres, passamos no mercado brasileiro. Quando percebemos que nossas angústias não são algo apenas nosso, fica mais fácil dialogar e pensar em soluções para resolver essas questões”, comenta a profissional, que em 2018 participou do júri de Film do Cannes Lions.
Ao lado de Laura, estarão outras profissionais de criação de agências de diversos mercados, que também foram convidadas para serem mentoras. Todas elas contarão com o auxílio e orientação de Madonna Badger, CEO da Badger & Winters, uma das vozes mais ativas no combate a estereótipos de gênero na indústria da comunicação. No grupo, Laura terá a companhia de outra brasileira. Gabriela Guerra, redatora freelancer que mora e trabalha em Cingapura, foi selecionada para o programa, ao lado de outras 14 criativas dos Estados Unidos, Romênia, Paquistão, Índia, Reino Unido, Gana, Chile, Canadá e outros países.
Durante o Festival, Laura também compartilhará com as profissionais os resultados do case “Lei do Minuto Seguinte”, que contou com sua direção na Y&R e que foi selecionado para o shortlist de Glass. A campanha, criada para o Ministério Público em conjunto com a Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), alerta para a necessidade de ampliar as leis de proteção às vítimas de violência doméstica. Laura defenderá o case para o júri de Glass durante o Festival. “A categoria é extremamente criteriosa e poucos troféus são concedidos. O fato de ser selecionada para o shortlist mostra a importância dessa peça e da causa para a sociedade”, comenta.
No ano passado, o Brasil também teve uma criativa selecionada para o grupo do See It Be It. Jéssica Gomes, então redatora da agência Lápis Raro, de Belo Horizonte, em Minas Gerais, fez parte do programa. Meio & Mensagem acompanhou algumas das atividades desempenhadas por ela em 2018 no Festival. Veja:
Compartilhe
Veja também
Brasil sobe para a segunda posição no Lions Creativity Report
País ocupa segundo lugar depois de seis anos consecutivos na terceira colocação do relatório anual do Lions
Veja ranking atualizado das brasileiras mais premiadas na história de Cannes
Gut sobre da 19ª para a 14ª colocação; e, nos três primeiros lugares, a Almap acumula 276 troféus; a Ogilvy mantém 158 Leões; e a DM9, brasileira mais premiada em 2024, salta de 137 para 153 troféus