Camila Coutinho: “Me esforço para ter meus momentos off-line”

Isabella Lessa
14 de maio de 2025 - 6h00

Camila Coutinho nos bastidores da gravação de “Social Off Socials”, campanha global da Heineken (Crédito: Divulgação)

No final de 2024, como era de se esperar, a agenda de Camila Coutinho estava fechada, repleta de compromissos. Em meados de novembro, porém, a empresária recebeu uma ligação para viajar dali a 15 dias para Cape Town, na África do Sul.

O motivo? Representar o Brasil em uma campanha global da Heineken que faz um chamado às interações presenciais livres da documentação incessante e instantânea para as redes sociais.

Justo Camila, que fez da vida online uma carreira e alguns negócios rentáveis, muito antes da existência de plataformas como o Instagram. A recifense é da era dos blogs nos anos 2000 e o seu Garotas Estúpidas se tornou um dos mais influentes no segmento de moda e beleza.

Conforme a internet foi se transformando e dando as boas-vindas à social media, a trajetória de Camila foi de blogueira a empresária: o site se amplificou e virou plataforma de conteúdo – hoje com 1,2 milhão de seguidores – e deu origem à GE Beauty, marca de produtos de beleza, da qual a fundadora é CEO.

Hoje, o nome que se dá ao impacto do conteúdo e dos negócios gerados e geridos por Camila é influência. E foi aos influenciadores, cada qual em sua área de expertise, que a Heineken recorreu para combater a escalada dos efeitos nocivos do excesso de redes sociais.

Influenciadora em cena do filme criado pela LePub e dirigido pela dupla Bradley & Pablo (Crédito: Reprodução/YouTube)

No filme criado pela LePub, o cantor Joe Jonas caminha por ruas desertas à medida que cruza com influencers desiludidos. Entre os quais Camila Coutinho, que, com tristeza, se despede de seu ring light – acessório indispensável das blogueiras/influenciadoras de beleza.

Ao Meio & Mensagem, a empresária e influenciadora conta mais sobre sua primeira experiência em um projeto global de marca, e reflete a respeito da dicotomia que é depender das redes na vida profissional, mas fazer um esforço consciente e diário para que a vida não se resuma ao que acontece no mundo online.

Meio & Mensagem – Qual é sua relação com a Heineken e como surgiu o convite da Heineken para participar da campanha “Social Off Socials”?

Camila Coutinho – Acredito muito nas relações construídas com as marcas e me dedico a estar muito próxima dos meus parceiros. Não sou a influenciadora que vai, faz e depois nunca mais volta para perguntar se foi legal. A Heineken é uma parceira de longa data, mas nunca tinha feito um trabalho de marca desse tamanho, em termos de veiculação mundial. Poucos segmentos têm alcance tão grande nas mídias, cerveja é um deles. E o Brasil é um dos maiores mercados para a Heineken, é a cerveja mais vendida no País dentro de sua categoria.

M&M – O que você aprendeu com a experiência de ter participado de uma campanha global?

Camila – Era uma turma muito legal, com um ritmo diferente. A produção de conteúdo do americano é diferente. O brasileiro é mais ansioso, quer postar muita coisa, quer postar para ontem. O americano é business oriented, faz o que foi contratado para fazer. O influenciador brasileiro é mais emocionado, mais flexível. São características culturais. O brasileiro curte muito a resenha de rede social, tem prazer no trabalho. Foi interessante ver a orquestração de uma comunicação global, de uma mensagem que precisa chegar da mesma maneira no mundo inteiro, sem muita variação, e de um produto que exige muito cuidado na comunicação. Nunca tinha tido que colocar age gate num publi meu. O post só chega para pessoas com idade acima de 18 anos.

M&M – No comercial, você aparece beijando o ring light, que depois joga no lixo. Como foi a gravação da cena? Você pôde fazer sugestões sobre como seria sua aparição?

Camila – Eles (os diretores Bradley & Pablo, da Prettybird) tinham uma visão clara do que seria uma influenciadora de beleza. Eles dirigiram Dua Lipa, Harry Styles, o que mostra como a Heineken trata a propaganda como entretenimento. É um comercial de um minuto que conta uma história mais longa, é uma narrativa muito bem desenvolvida. Então, eu representava a influenciadora e estava arrasada me despedindo do meu companheiro, que é o ring light. Toda blogueira de beleza está com seu ring light. Sem isso, ela não é muita coisa, porque luz é tudo quando você vai comunicar imagem. Eles me dirigiram e foi hilário, porque eles falaram: “Você tem que se despedir do seu ring light como se fosse o amor da sua vida”. E eu: “Tá, beleza”. E ficava repetindo de novo e de novo.

M&M – Essa campanha trata da socialização, um dos pilares da comunicação da Heineken. Como enxerga a importância desse assunto?

Camila – A Heineken tem essa característica provocativa. Sempre tem essa coisa do humor, de tocar em assuntos complexos, mas de um jeito que acho genial, porque tem assuntos que as pessoas querem evitar. Para falar desses temas tem que ter humor, porque daí você acessa aquele botãozinho na cabeça da pessoa de um jeito natural. Me marcou muito uma propaganda em que os namorados estavam querendo ir para um campeonato de futebol, mas, no fim, eram as namoradas que iam, e eles ficavam em casa vendo TV. Falando de desconexão, está tá todo mundo viciado, não está legal essa relação, está todo mundo incomodado, cansado, mas ao mesmo tempo todo mundo faz dinheiro nesse ambiente. É um assunto incômodo mesmo, porque assumir que você está viciado em uma coisa é um negócio chato. Eu sou – e olha que sou controlada, não sou das que mais posta. Mas não é só sobre postar, é sobre acompanhar, ver o que falaram de você. Se fosse só postar e ir embora, tava de boa, mas você posta e quer saber o que estão achando do que você postou. É importante às vezes parar e questionar até onde essa corda esticada nos faz feliz. Precisa esticar tanto? É bom refletir sobre o cansaço e sobre o quanto aquilo que fazemos reflete em nosso bem-estar, porque este é um mundo que sempre nos empurra a fazer mais.

M&M – Como você lida pessoalmente com essa questão, já que boa parte do seu trabalho depende das redes sociais para acontecer?

Camila – Como comecei minha relação com a internet há quase 20 anos, tenho bastante perspectiva. Quando comecei não tinha Instagram, sei como era o mundo antes. É mais fácil buscar quando se tem uma lembrança. Faço esse esforço ativo de ter meus momentos, meus oásis off-line. No meu dia a dia é muito importante dormir sem celular. Só pego no celular para entrar na rede social a partir das nove horas e meu app bloqueia às nove horas da noite, não tem como abrir. Crio essas situações porque, se não fizer isso ativamente, somos dominados. Teve um final de ano que fiquei 40 dias sem usar, há uns dois anos. Li vários livros e não senti nenhuma falta. Você se acostuma. Mas é meu trabalho, não posso ficar sem, então volto. Adoro meu trabalho.

M&M – Você considera ter uma relação saudável com as redes hoje?

Camila – Considero uma relação atenta. Tem dias que fico um pouco irritada com o quanto consome meu tempo. É algo que não pode se perder. A interação humana e a curiosidade sobre o outro, não somente perguntar, mas escutar ativamente, isso é ser humano. Isso me alimenta de uma forma muito especial e é o que trago para meus conteúdos. Me alimenta criativamente. Toda e qualquer oportunidade que tenho de frequentar lugares presencialmente e com pessoas que não conheceria no meu círculo normal, tô dentro. Fico mais perguntando, porque aí abre a cabeça, acessa novos mundos. O problema de ficar no celular é ficar preso no looping de preferência, que é o algoritmo que você treinou e treina todos os dias.