Jovens reivindicam inclusão no Young Lions Brazil
Petição Fair Lions pede que a organização de Cannes reavalie o processo brasileiro para que, como em outros países, seja mais acessível e diverso
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Isabella Lessa
19 de junho de 2018 - 16h55
Desde 1992, o festival realiza o programa voltado ao reconhecimento de jovens talentos da indústria no mundo inteiro em cinco categorias: atendimento, criação, marketer, media e planning. Neste ano, a delegação da categoria de criação do Young Lions é 100% masculina. Esse foi o ponto de partida para a elaboração da petição pela redatora Gabriela Guerra e pelo diretor de arte Leandro Bordoni. A falta de diversidade pode ser explicada, segundo eles, pelo processo de seleção adotado no País, diferente da maioria dos outros países.
No Brasil, cada participante da categoria Criação paga uma taxa de R$ 250 (há desconto se for afiliado a algum clube parceiro) e envia um portfólio com até seis projetos identificados com o nome – nos demais países, são enviados materiais resultantes do briefing sugerido e de forma anônima. Na primeira fase do júri brasileiro, todos os vencedores de edições anteriores têm a opção de votar, dando notas de zero a dez para os cerca de 200 portfólios inscritos. Na segunda fase, os 50 portfólios mais bem colocados são reavaliados por um júri composto por nove vencedores de edições anteriores, o que, segundo, Gabriela, já coloca uma barreira para que a delegação possa ser diversa, já que trata-se de um time formado por homens brancos, em sua maioria.
“Por que os Youngs são sempre das mesmas agências? Por que nossos representantes são quase todos homens brancos? Por que não temos um processo seletivo mais justo? Então, o que fizemos foi organizar melhor ideias e sugestões que ouvíamos nos corredores”
“O Brasil tem um processo diferente e todos os anos, depois da escolha da delegação oficial, sempre ouvimos fofocas e reclamações. Por que os Youngs são sempre das mesmas agências? Por que nossos representantes são quase todos homens brancos? Por que não temos um processo seletivo mais justo? Então, o que fizemos foi organizar melhor ideias e sugestões que ouvíamos nos corredores”, diz ela, que é de Recife, mas atualmente mora em Singapura. Pelo Facebook, ela começou a conversar com Leandro, que trabalha na Saatchi & Saatchi de Madri, logo depois que o júri do Young Lions publicou uma nota em resposta aos questionamentos de profissionais sobre a ausência de mulheres (leia o post aqui).
Além disso, o Fair Lions propõe a avaliação de ideias em cima de briefings, como acontece nos dois países europeus citados, no Reino Unido, nos EUA, na República Tcheca, na Alemanha e na Argentina. A dupla frisa que o briefing é, inclusive, o método utilizado no Young Lions Competition em Cannes, o que seria uma desvantagem para os criativos brasileiros que não tiveram experiência prévia com o sistema. “A maioria dos outros competidores já passou por algo parecido nas etapas nacionais. Achamos que o modelo que estamos propondo é mais justo porque, de certa forma, dá a todos os participantes o mesmo ponto de partida. Hoje quem trabalha em agências maiores tem mais projetos mais parrudos na pasta e mais contato com ex-Youngs Lions. Isso não quer dizer que uma menina trabalhando em uma agência do interior não possa ter uma ideia melhor. Mas só vamos descobrir se ela tiver a mesma oportunidade de mostrar seu talento”, pontua Gabriela.
“Existe resistência, sim. Seja a enxergar a necessidade de mudanças, seja a colocar a mão na massa de verdade. E achamos que o motivo para isso é simples: ainda somos muito elitistas, racistas e machistas. É por isso que ainda precisamos lutar muito pela diversidade e inclusão nas agências”
Ela já participou do Young Lions quatro vezes no Brasil e conta que, no começo, ficava animada com a novidade, mesmo sem ter a expectativa de ganhar. Nos dois últimos dois anos, deixou de participar porque convenceu-se de que não tinha chances com esse modelo de competição. Já Leandro participou duas vezes no Brasil e uma na Espanha. “No primeiro ano, trabalhando em uma agência pequena, me alertaram que era bom participar ‘para aparecer no mercado’, mas que era melhor não sonhar muito, que aquela era uma grana perdida e que as fichas estavam marcadas. Depois, comecei a entender o porquê. Aqui na Espanha a coisa muda porque cada equipe participa de forma anônima e todos têm que responder a um mesmo briefing. Nada de amigo, nada de agência grande ou pequena. Quem manda é a melhor ideia e isso me dá muito mais vontade de participar”, explica ele.
Também por meio das redes, Gabriela e Leandro conseguiram apoio de outros profissionais para fortalecer o Fair Lions: Felipe Silva, redator da Africa, Ken Fujioka, consultor e chairman do Grupo de Planejamento, Laura Florence, vice-presidente de criação da Lov e Daniela Albuquerque, líder de criação da CuboCC, estão entre os apoiadores da iniciativa.
Se em relação ao Young Lions nacional Gabriela e Leandro creem existir um apego a um modelo ultrapassado porque este funciona para um grupo pequeno de pessoas, eles enxergam, no mercado de maneira geral, uma resistência à mudança, apesar de reconhecerem a tentativa de algumas agências para reverter esse quadro por meio de programas de inclusão, por exemplo. “Existe resistência, sim. Seja a enxergar a necessidade de mudanças, seja a colocar a mão na massa de verdade. E achamos que o motivo para isso é simples: ainda somos muito elitistas, racistas e machistas. É por isso que ainda precisamos lutar muito pela diversidade e inclusão nas agências”, diz Gabriela.
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